terça-feira, 30 de outubro de 2018

O que é Liberação?

No ego, você é profundamente miserável, mesmo em meio a toda opulência, toda riqueza, toda grandeza, toda beleza.
Ramana viveu numa caverna na qual você precisa entrar “de gatinho”. Você tem que sentar ou deitar, porque não pode ficar em pé, de tão baixa, de tão pequena. Alguém costumava subir à montanha e levar um pouco de comida para ele. No dia em que alguém levava, ele comia. Ele acordava pela manhã e bebia água numa nascente ao lado. Quando precisava ir ao banheiro, ia à mata, atrás da caverna. Sua mente não carregava nenhum objeto, nenhuma imagem, nenhum parente.
Ramana tinha um irmão mais velho e duas irmãs mais novas do que ele, mas, em sua mente, não havia referência de irmãs, de irmão, nenhuma imagem de colégio, de amigos, do esporte de luta que ele praticava no ginásio... Muitos macacos em volta da caverna (seus companheiros, seus amigos) e alguns devotos, que vinham para estar perto dele. Ramana ouvindo os sons dos macacos gritando nas árvores e pulando de galho em galho... Ali está o “filme” da Felicidade.
Não tem piscina, não tem casa grande, não tem mobília cara, não tem quadros na parede, não tem cama, mas ali está a Felicidade, porque não há miséria! Disso você não tem inveja. A mente não pode invejar o que ela não conhece; ela só pode invejar o prazer que ela conhece, o qual ela confunde com Felicidade.
Você vai a um lugar e vê algo que acha lindo, então, a mente diz: “Puxa, isso seria tão bonito na minha casa também!”. A mente está lhe pregando uma peça. Ela está dizendo que se você conseguir um negócio daquele e colocar na sua casa, você entrará em suprema “bliss”, em suprema felicidade, nunca mais sofrerá. Ela está sacaneando você!
A mente é medíocre! Ela vê um homem ou uma mulher e diz: “Puxa, era isso que eu queria!”. Isso se chama “desejo”. Pode ser um sapato, uma bolsa, um vestido, uma casa, uma biblioteca, um salão, um marido, crianças... “Puxa, eu queria ter filhos também. Olha como são lindas essas crianças! Como é bom ser mãe!”. Desejo! É a mesma coisa, é a mesma vibe, a mesma ilusão. A mente está pregando uma peça.
A mente faz surgir o objeto, uma imagem, um pensamento, e gruda naquilo. Isso se chama “identificação”. Quando ela agarra aquilo e você vai junto, então, você é só um objeto. Você saiu de sua Natureza Essencial, que é pura Bem-Aventurança, que é pura Liberdade, que é Paz, Amor, Verdade e, agora, você é o próprio objeto desejado, é o desejo, você está em aflição, já não tem mais paz.
"A mente faz surgir o objeto, uma imagem, um pensamento, e gruda naquilo. Isso se chama “identificação”. Quando ela agarra aquilo e você vai junto, então, você é só um objeto."
Então, você vê aquela piscina, um pequeno lago de peixes, um tapete na sala da casa da sua amiga e depois vai para casa; parece que aquilo foi embora. Mas, enquanto você está jantando, alguém liga a televisão e aparece um cachorro correndo em direção à porta de uma casa. A mente diz: “Vai sujar o tapete!”. E lembra: “Ah, aquele tapete...”. Ela vai buscar, novamente, o tapete. Assim, você está em aflição e isso é ser miserável. Não tem nada a ver com o que você tem ou com o que você não tem. Tem a ver com o que a mente aí está “linkada”, ligada.
Então, o que é Liberação? Liberação é um estado de Amor, que é a ausência de desejo. É um estado de Paz, que é a ausência de desejo, é um estado de Liberdade, que é a ausência de desejo.
A mente é tão tosca, que agora ela vai dizer: “É... Eu quero isso: não desejar! É disso que preciso!”.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Fortaleza, em Julho de 2018. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Você não tem nenhuma necessidade

Você vem a Satsang para me ouvir, mas não está interessado nisso. Por quê? Porque Isso representa seu fim, o fim do desejo de colocar ordem nas coisas, de que as coisas aconteçam do jeito que você quer.
Não estou falando dessa coisa de “colocar a geladeira no seu quarto” - isso é simples. Estou falando que você quer mudar o mundo. É uma completa estupidez, um comportamento maluco da mente, um comportamento doentio do ego, imaginar um futuro para si. Não tem esse “si”. Como você está imaginando o futuro para alguém aí? Loucura! Como você pode desejar mais do que a vida lhe apresenta aqui e agora? Isso é insanidade!
Não existe nada fora deste momento; não existe nada que a vida possa oferecer que ela já não esteja lhe dando. Você está pedindo algo e não percebe que isso significa tempo. “Pedir” está dentro do tempo, dentro da escolha, do desejo, e isso é sofrimento, é insanidade, é loucura, é criar a ilusão de uma necessidade que não é real. Eu já comentei isso em outras falas: você não tem nenhuma necessidade!
Talvez você diga: “Eu tenho necessidade de comida!”, mas não é você que tem, é o estômago. A comida é para o estômago, o estômago é para a comida. O que tem o estômago e a comida a ver com você? Se ficar muito tempo sem ir ao banheiro para urinar, você vai sentir dor na bexiga, então, alguns órgãos (como os rins) começarão a ficar desconfortáveis. O corpo vai brigar para expelir aquilo, começará a ficar perigoso para ele manter por muito tempo aquele líquido na bexiga. Então, haverá uma dor que lhe obrigará a urinar, mas isso ainda não é o problema, porque não é uma necessidade sua, é um problema do corpo.
Estou falando da sua necessidade. Que necessidade você tem? Só aquela que o pensamento cria, e isso é desordem, confusão, sofrimento, infelicidade. Você compreende isso? Aqui e agora, que necessidade você tem?
A necessidade de urinar é a necessidade do corpo de se aliviar, assim como a necessidade de comer é a necessidade do corpo de se sentir saciado, mas ainda nada disso é problema seu. O seu problema é desse “eu”, é o que “ele” deseja. O que esse “eu” deseja? “Que os filhos mudem!” Mas, que filhos? O que isso tem a ver com você, realmente? Nada! Tudo porque, sem os filhos, você não é ninguém, não é mãe, é um “zero”, é um “nada”. Então, eles são importantes para você ser alguém.
Veja o quanto esse “eu” está aí só para criar confusão, pedindo coisas! Você faz isso o tempo todo! É como uma criança que quer brincar na linha do trem e pede ao pai: “Pai, posso brincar aqui?”. Ela não tem ideia da gravidade do problema de brincar na linha do trem. Sabe-se lá a que hora esse trem vem! E ela não sabe nem o que é um trem passando por cima dela. Mas, ela quer brincar nos trilhos! Assim, você faz orações a Deus, querendo coisas.
Então, quando você vem a Satsang, vem para dar um tempo a si mesmo, para olhar esse “si mesmo” e ver o quanto “ele” tem falsas necessidades, o quanto é exigente, mentiroso, chantagista, manipulador, ambicioso, invejoso, explorador, competitivo. O ego adora fazer comparações: “Ela tem, por que eu não tenho?”, “O mundo inteiro tem e eu não tenho. Meu Deus, dê-me isso!”. É o mesmo que dizer: “Eu quero brincar aqui, pai! Deixe-me aqui, estes ferros são tão bonitos! São dois, um ao lado do outro e está cheio de pedrinhas entre eles!” Então, o pai alerta: “É o trilho do trem, criança!”, mas ela insiste: “Não! Eu quero isso! Isso é ótimo!”.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Campos do Jordão, no Ramanashram Gualberto, em fevereiro de 2018. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-Satsang.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Uma profunda necessidade para ser Um com a Verdade

Em geral, todos querem saber, conhecer alguma coisa, e Satsang não tem essa proposta. Você não está aqui, neste encontro, para aprender alguma coisa, para saber um pouco mais. O propósito destes encontros é o contato com a Verdade que você já traz, “algo” que já está presente.
Você é um devoto da Verdade, um discípulo da Sabedoria. Assim, ser um discípulo é estar preparado para essa Sabedoria; ser um devoto é estar nessa disposição de rendição ou de entrega a essa Verdade – esse amadurecimento é essencial. Ser um discípulo ou um devoto significa ter essa profunda necessidade para ser Um com a Verdade. Sabedoria é Verdade! Se não há Sabedoria, não há Verdade; se a Verdade está presente, a Sabedoria também está.
Existe um momento claro, em que essa rendição, que é a devoção, acontece. É, também, o momento em que o discípulo fica pronto para a Sabedoria. Assim, todo este trabalho é para a manifestação da Verdade. Você está pronto para isso quando está dentro dessa urgência, quando está disposto a desistir de todas as suas crenças, convicções, opiniões e julgamentos.
O mais importante não é a fala, mas o seu coração estar voltado para essa Divina Graça presente neste instante. Então, quando esse claro momento acontece, o discípulo real é o devoto e o devoto real é o verdadeiro discípulo. Quando há a urgência da Liberação, do fim da ilusão, do sentido de separação, você está “queimando” por isso e, então, você está pronto. Quando você é um discípulo da Vida, todo seu “fazer” está envolvido com essa questão da Verdade. Este é o sinal!
Então, o discípulo é o devoto, o devoto é o discípulo, quando está em uma rendição, em uma entrega, num trabalho real em si mesmo. Seu trabalho é ir além dessa contração, dessa falsa identidade, desse falso “eu”. O sinal real dessa Orientação é que uma transformação significativa começa a acontecer. Isso é paradoxal, porque não é algo para você sentir diretamente ou reconhecer pessoalmente, porque o ego ainda estaria aí. Essa é uma transformação que não deixa sinais, para o ego, de que está acontecendo.
As pessoas, às vezes, escrevem algumas coisas para mim, relatando suas experiências, as quais chamam de “experiência de iluminação”. O Real Despertar ou a Iluminação não dá sinais. É paradoxal, porque há uma Orientação interna acontecendo, mas não há sinais externos de experiências místicas, como a presença de raios luminosos, sensações, poderes. Tudo isso ainda está dentro desse circuito da mente egoica.
O convite, nestes encontros, é para a devoção, para o que significa o real estado de discipulado, para essa sensibilidade, para o descobrimento da Verdade sobre Si Mesmo. É necessário ir além dessa ilusão, a ilusão do falso “eu”. Então, quando há essa maturidade de entrega, o trabalho acontece. Mas, você não é um devoto, um discípulo, se está constantemente mantendo a ilusão da identificação com o corpo e a mente. Se o seu interesse é apenas aprender novas palavras, conhecer mais profundamente o assunto, isso ficará apenas no nível intelectual.
"O convite, nestes encontros, é para a devoção, para o que significa o real estado de discipulado, para essa sensibilidade, para o descobrimento da Verdade sobre Si Mesmo."
Você é potencialmente um discípulo-devoto, um devoto-discípulo, mas isso só é real quando toda a sua atenção, todo o seu coração e todo o seu amor estão nas palavras da Verdade. É nesse sentido que a Sabedoria, que é a Presença do Guru, a Presença da Vida, a Presença da Verdade, é importante. Quando você está vivendo nessa profunda intimidade com as palavras da Verdade, nessa profunda compreensão, dentro dessa rendição e com a atenção e o coração totalmente voltados para Isso, uma real transformação acontece, sem nenhum estardalhaço aparente. Na verdade, quando não está acontecendo aparentemente nada, é quando tudo está acontecendo. O verdadeiro “progresso” neste trabalho é completamente silencioso. Assim, a minha recomendação é: não se preocupe com qualquer resultado que possa vir como fruto deste trabalho; volte-se para a rendição, para a devoção, para essa entrega.
Você não pode encontrar Isso, mas pode confiar, render-se, entregar-se, para que Isso o encontre. Você não pode encontrar a Verdade ou a Iluminação; Isso não está lá fora, como algo que você possa encontrar. Todo esse movimento é, na realidade, um impedimento. Todo esforço, toda prática, todo trabalho idealizado pela mente é só um afastamento ainda maior. Isso não representa devoção, não representa ser um discípulo da Verdade.
Assim, quando eu falo sobre essa atenção, sobre esse envolvimento de todo o coração, não estou falando de um esforço, estou falando de uma entrega, de uma rendição. A natureza do ego é sempre “fazer alguma coisa” e na rendição não existe um “fazer”, existe uma desistência do “fazer”.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 15 de Agosto de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Você não pode e não precisa se libertar

O medo é um outro lado do desejo. A compreensão disso é muito importante. A mente vive sobrecarregada de desejos, assim ela carrega consigo muito medo. Muitas das ações que você toma são baseadas no medo e as demais são baseadas no desejo.
Todo movimento do homem comum é puramente reativo. Enquanto o ego se mantém presente, você está em uma impossibilidade: a impossibilidade da Felicidade. Não é possível encontrar a Felicidade em objetos. Então, não importa que tipo de realização você tenha, ela será sempre uma conquista do desejo ou uma fuga do medo.
Como nós temos falado nestes encontros, você não pode encontrar a Felicidade, encontrar a Paz, encontrar a Liberdade. Isso não é uma conquista; é algo que está presente quando o desejo termina, que é quando o medo termina. Mas você não pode se libertar do desejo nem pode se libertar do medo. Então, todo seu esforço em direção a essa libertação do medo, do desejo, é o próprio desejo, é o próprio medo nesse esforço. Portanto, é uma fuga impossível. A natureza da mente é medo, a natureza da mente é desejo.
Assim, nos encontramos diante de uma situação: a mente não pode se livrar da mente. Esse é o primeiro ponto. Portanto, não adianta nenhum tipo de esforço que você faça, pois qualquer esforço que você venha a fazer ainda será para se manter nesse movimento.
O segundo ponto é que você não precisa se libertar. O primeiro é que você não pode se libertar, o segundo é que você não precisa se libertar. A autoinvestigação é a investigação da ilusão da mente e não de sua realidade, de sua verdade.
Sua Natureza Verdadeira é Felicidade, é essa Paz que você busca, que você procura. Então, você não precisa se libertar da mente, do desejo, do medo. Tudo o que você precisa é tomar ciência dessa ilusão através da investigação desse movimento.
"Sua Natureza Verdadeira é Felicidade, é essa Paz que você busca, que você procura. Então, você não precisa se libertar da mente, do desejo, do medo. Tudo o que você precisa é tomar ciência dessa ilusão através da investigação desse movimento."
A questão é que você precisa descobrir como investigar e compreender por si mesmo, diretamente, essa ilusão – a ilusão da mente criando esse movimento de desejo e de medo. Então, é preciso aprender a investigar a natureza dessa mente ilusória com seus medos e seus desejos. Essa investigação real tem que levar em conta onde você se encontra neste momento, o que é que se passa aí, nesse organismo, nesse mecanismo, qual é, de fato, a sua vivência prática, real, nesse mundo de experiências, de relacionamentos, na vida como um todo.
Assim, é necessário aprender a olhar para si mesmo, a olhar para o que se passa aí, para o que de fato está acontecendo. Então, você tem que abandonar todas as teorias sobre a Realização. Você parte desse princípio de muita honestidade para olhar para esse movimento do medo e do desejo presente aqui e agora nesse organismo, nesse mecanismo, nessa pessoa que você acredita ser.
Não se trata de um esforço para se livrar da mente, mas um trabalho honesto e sincero para observar o seu movimento. Logo, esse movimento honesto, sincero, contínuo, persistente, se constitui em um trabalho – um trabalho para desalojar a ilusão da dualidade, da separatividade, desse falso “eu”.
Não basta dizer que esse “eu” não é real, que ele é falso, que não está aí... isso não basta! Eu tenho frisado muito que estamos vivendo um momento em que há uma simplificação muito grande acerca desse assunto, algo completamente intelectual.
Você precisa abandonar tudo isso e olhar para o medo que está aí, pois o medo é a verdade deste momento – pelo menos, enquanto a mente egoica se mantém entronizada com suas crenças e condicionamentos. Caso contrário, você vai analisar e racionalizar isso, mas, internamente, vivencialmente, estará experienciando uma outra coisa, que são todas essas crenças, todos os condicionamentos e, portanto, todos os desejos e medos.
O que estou dizendo é que a rendição desse falso “eu” é essencial, fundamental, imprescindível. Como disse agora há pouco, precisa ser de uma forma prática, direta, real, persistente, até que haja, de fato, uma dissolução dessa continuidade. Isso para alguns é um trabalho de uma vida inteira.
Autoinvestigação, meditação e entrega. Esse é o lado prático de um trabalho real em direção a essa Liberação.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 08 de Novembro de 2017 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Aqui não se trata de conhecimento, se trata de florescimento!

A sua natureza é Consciência. Você tem sempre o poder, a liberdade, de se confundir com a experiência presente ou de se manter como sua testemunha. Você é uma testemunha da experiência quando está completamente presente. Mas, você não está presente quando está interpretando, traduzindo, julgando ou avaliando o que acontece através do pensamento; você está inconsciente.
Você é Consciência, mas, em geral, se confunde com os pensamentos sobre o que acontece e dá uma identidade ilusória à experiência que o corpo está vivendo através das sensações, das percepções. Aí está o ego, a inconsciência. Você tem toda liberdade de viver sem ego, mas precisa fazer uso disso, senão jamais descobrirá o que isso significa.
Agora mesmo, o “escutar” é a Consciência. Interpretar o que se escuta é inconsciência. Para interpretar, você precisa do pensamento avaliando, concordando, discordando, aceitando ou rejeitando. Para escutar, não. Quando escuta um pássaro, você não se preocupa se ele está cantando certo ou errado, se está afinado ou não. Mas, quando escuta um ser humano, você fica prestando atenção se ele vai errar, se vai perder as notas. Este é o ponto! Aqui está a inconsciência.
"A sua natureza é Consciência. Você tem sempre o poder, a liberdade, de se confundir com a experiência presente ou de se manter como sua testemunha."
Então, você é pura Consciência ouvindo um pássaro, mas não é Consciência ouvindo um ser humano cantando. Você não consegue viver nessa Liberdade de só ouvir, porque está muito viciado em ser alguém. E quando você é alguém? Quando julga, interpreta, traduz, avalia, mede, escolhe, gosta ou não gosta.
Participante: Entender Isso é impossível. Só é possível viver Isso.
Mestre Gualberto: Você tem que viver essa Liberdade para descobri-La. Precisa trabalhar isso. Esta é a proposta em Satsang: trabalhar a atenção desidentificada desse falso “eu”. Tentar entender, por exemplo, é um esforço, e, intelectualmente, somos viciados nisso. Por que fazemos isso? Porque, no ego, queremos capturar o que está sendo dito para isso ser nosso, para termos mais alguma coisa na coleção do nosso velho baú de lixo, chamado “baú do conhecimento”. Basta o “ouvir”, sem esforço, sem ambição, sem desejo, sem querer entender, ou sem rejeitar por não entender.
O problema não é o “não entender”, mas querer entender. Quando um pássaro canta, você não entende o que ele está fazendo, o que ele está cantando, mas você não se importa, porque fica livre ouvindo-o. Mas, quando é um Guru, você diz: “Poxa! Eu quero Isso que ele tem!”. Pronto, surgiu a ambição e você perdeu.
Participante: Eu estou aqui porque quero esse Estado em que o Guru vive.
Mestre Gualberto: Mas, você não pode alcançar este Estado querendo-O. Você tem como constatar Isso em você, relaxando. O que fazemos em Satsang? Aprendemos a nos desfazer do que sempre fizemos. Começamos a parar de fazer, e a Graça vem e nos atropela. Então, não existe mais “a gente”, fica só a Graça, a Sabedoria, a Inteligência, a Presença, a Consciência, a Verdade.
Nós ouvimos o som de duas mãos batendo palmas. Agora, qual é o som de uma mão só batendo palma? Este é um koan Zen. Não dá para ir pelo intelecto, dá para estar aqui e agora, Nisso, nesse relaxamento, nesse “ouvir”, nessa atenção sem esforço, então essa “Coisa” que já está aí aflora, brota, tem a liberdade de sair da gaiola do ego, do intelecto, da inveja, da ambição, do desejo de ter, de conseguir.
O Guru lhe dá Isso, Deus lhe dá Isso. Não é você que O apanha, não é você que O pega. Participante: Neste trabalho, tem que ter paciência e calma. Não adianta se desesperar por cada incômodo, por cada dor, por cada dúvida.
Mestre Gualberto: Isso vem com o amadurecimento interno, com o florescer do Estado Natural. Em razão das vasanas, das tendências da mente, isso leva algum tempo mesmo, até você saber do que eu estou falando, porque, até então, você não sabe.
Você não sabe, ainda, só ouvir. Você escuta e parece que está tentando capturar o que digo. Não dá para capturar a minha fala, mas dá para Isso se assentar aí. No começo, nós intelectualizamos, analisamos: “Puxa, é isso! Eu já sei!”. Mas, não é assim, porque aqui não se trata de conhecimento, se trata de florescimento. De certa forma, quando você acha que não está crescendo, não está evoluindo, não está progredindo, nas palavras de Roberto Adams, "esse é o sinal de que está havendo progresso!”.
Participante: Aqui não tem comida nenhuma para o ego, então, ele diz: “Não estou evoluindo!”.
Mestre Gualberto: Não tem comida para ele. Isso aqui não o fortalece. Estudar as palavras de Ramana, a Bhagavad Gita, Vedanta, isso sim fortalece, alimenta. Mas, aqui não tem alimento, é só esvaziamento mesmo.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 04 de Julho de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

domingo, 14 de outubro de 2018

Estou convidando-o a ir além da mente

Cada momento é um grande momento, pois mostra-se como uma oportunidade para você se reconhecer, descobrir a Verdade sobre si mesmo. Entretanto, isso não é algo que acontece automaticamente, e sim a partir de um trabalho, embora aconteça naturalmente (o que é muito diferente de “automaticamente”). Assim, faz-se necessário um trabalho nessa direção para que isso se torne possível.
A maneira como você se vê é totalmente equivocada. Você se vê como uma pessoa, como uma entidade separada, alguém que nasceu e vai morrer. Esta já é uma visão automática e toda ela é baseada em um condicionamento, em um fundo de crenças. Ir além disso, de forma natural, é possível através de um trabalho.
Então, esse condicionamento acontece e se mantém de forma automática, mas a Realização não. Esse automatismo está presente em razão dessa inconsciência, que é o velho e antigo modelo do ego. Não existe nenhuma pessoa “acontecendo” na experiência deste presente momento, portanto, não existem os problemas pessoais que você aparenta viver. Eu sei que é muito estranho ouvir isso... Todos têm problemas, porque todos se consideram pessoas.
A Vida é um movimento sem alguém dentro Dela e não carrega nenhum problema. Não existem problemas, porque não existem “pessoas”. Se não existem pessoas para resistir ao misterioso movimento da Vida, não há problemas. No entanto, enquanto você continuar se sentindo uma pessoa, os problemas serão inevitáveis. Não existe “pessoa” para ver seus problemas resolvidos. Eu sei que essa é uma afirmação complicada para a mente egoica.
O que estou dizendo é que cada coisa acontece da maneira como tem de acontecer. Esta é a única Verdade, a única coisa possível. Estamos falando do ponto de vista da suprema Realidade, da suprema revelação da Verdade de Deus, do Ser, da Consciência. Por isso que, quando apontamos para a Iluminação, para o Despertar, estamos apontando para o fim da inconsciência, para o fim de todo o automatismo de condicionamentos, porque, como uma entidade separada, ilusória, você está vivendo no tempo que a mente produz e reconhece.
Aquilo que você chama de “passado” é um “tempo” apenas reconhecido dentro dessa inconsciência, dentro desse automatismo de condicionamento egoico. Tudo aquilo que você chama de “passado” é só história, memória, lembranças, uma forma de imaginação que o pensamento produz e reconhece. Estar preso a isso é o que eu acabei de chamar de “automatismo”, de “inconsciência”, de “condicionamento”. Essa tem sido a vida da “pessoa” com os seus imaginários problemas.
Vale o mesmo para o futuro. O futuro não é nada além da imaginação que o pensamento produz, criando uma suposta “realidade” que acontecerá. Mas, ninguém sabe, não há certeza, você não tem nenhuma certeza sobre o futuro. Você mesmo é parte dessa imaginação, é “alguém” que, supostamente, veio do passado, está atravessando o presente e caminhando para o futuro. Todo esse movimento é imaginário!
Suas perguntas se baseiam em crenças, as quais estão fundamentadas em lembranças, na memória, e tudo isso está dentro do campo da mente egoica. Aí está toda a sua vida problemática, uma vida pessoal que só existe na imaginação, porque seu Ser Verdadeiro não faz parte, não comunga, nem compartilha de nada disso. Você não se reconhece em sua Real Identidade, então, substitui esse conhecimento da Verdade sobre si mesmo por uma imaginação acerca de quem você é.
"Você não se reconhece em sua Real Identidade, então, substitui esse conhecimento da Verdade sobre si mesmo por uma imaginação acerca de quem você é."
Estou convidando-o a ir além da mente, a desidentificar-se do corpo. Você está apegado a várias formas de crenças e a principal delas é: “Eu sou alguém dentro do corpo! Este corpo sou eu! O que acontece a este corpo acontece a mim, e tudo que envolve a história deste corpo, desde o nascimento até a morte, é a minha história”. Então, você diz: “Eu sou pai”, “Eu sou mãe”, “Eu sou filha”, “Eu sou casado”, “Eu sou solteiro”, “Eu sou viúvo”, “Toda a história ligada a este corpo é a minha vida”. Isto é pura confusão, pura desordem.
Você está sonhando e levando a sério o sonho. Os Sábios dizem que isso é só um sonho e que você não deve tomá-lo por realidade. Aquele que está Realizado, que não está mais preso à ilusão “eu sou o corpo, sou alguém, tenho uma história”, vê tudo isso apenas como uma aparição.
Todos assistem a filmes e veem tudo parecendo muito real, mas sabem que são apenas filmes, que aquele sangue não é sangue; que aquele fogo não está, de fato, queimando uma casa; que aquela casa é de mentira e o fogo também. Tudo é feito para parecer muito real, mas é só uma aparição.
Portanto, não se confunda com o corpo, com a mente e, então, você permanece além da história. Mas, dentro da sua cabeça, há muitas histórias, crenças, ilusões, imaginações.
Tudo que estamos lhe dizendo é: Acorde! Assista ao filme, mas reconheça-se em sua Verdadeira Natureza e tudo estará terminado. Então, tudo poderá ser visto de um novo ponto de vista, que é o ponto de vista da Realidade. Para o Sábio, a Vida é o que É, e tudo o mais é apenas um sonho, no qual existe prazer e dor, alegria e tristeza, coisas ruins e coisas boas. Mas, todo esse movimento dual é só a vida como ela é, porque você, como Sábio, permanece em seu Ser, em sua Natureza Real.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 26 de Setembro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Este é seu momento de ir além desse mundo

O meu trabalho com meu Guru levou 21 anos. Eu não fiz absolutamente nada, somente atrapalhei. Não consigo lembrar uma só coisa que eu tenha feito para ajudá-lo. Você saberá o que estou dizendo, no tempo certo. Você olhará para trás e dirá: “Caramba! Eu nunca fiz nada que pudesse ajudar o meu Mestre, para hoje estar aqui olhando a vida dessa forma”.
Agora, se você perguntar para mim se consigo me lembrar da resistência, consigo sim; também, me lembro da desconfiança, da insegurança, do medo de ficar doido, da incerteza, do sentimento de não saber o que estava acontecendo e para onde eu estava indo, se estava indo mesmo a algum lugar ou se não estava.
Se você perguntar para mim, eu consigo lembrar as várias vezes que a coisa “pegou”, mas isso está numa dimensão tão surreal, que parece que foi com um personagem, que foi somente uma imaginação de tempo. É como se eu estivesse assistido a um filme e dissesse: “Olhe, aconteceu isso, aquilo e aquilo outro”. Porém, era um filme, não tinha nada a ver com Isso que é Real. O “filme” estava lá, acontecendo em uma “tela”, mas não tinha nada a ver com o que Sou, mas somente agora eu posso dizer isso.
Portanto, você será capaz de lembrar o quanto atrapalhou, mas o que o Guru fez para desfazer essa ilusão, você não saberá; só saberá que foi desfeita. É como se ele tivesse levado você a pulso, o empurrado através de uma porta invisível, que você nunca viu diante dos seus olhos; ele achou a porta e o empurrou porta adentro, contra a sua vontade. Isso é muito louco, mas é assim.
Na verdade, todo esse “processo” não foi um processo, foi um sonho. Quando você acorda de um sonho diz: “Puxa! Não teve processo nenhum! Foi somente imaginação, nunca teve nada acontecendo!” A sensação que a gente tem é essa: “Foi somente um sonho!” Quando a Realização se assenta, você olha para trás e diz assim: “Havia montanhas, mares, florestas, mas era só um sonho”.
Não é lindo isso? Não sei se estou conseguindo retratar isso direitinho para vocês.
Aí, você sabe... Por você mesmo, você sabe! Você, então, é uma autoridade para falar: “Puxa! Nunca houve um tempo em que eu não fosse o que Eu Sou. Eu Sou o que Sou, sempre fui!” ‒ você sabe de forma direta.
Este é seu momento de ir além desse mundo, de deixar a história de que nasceu, de que é marido, esposa, papai, mamãe, de que tem filhos, família... É o momento de permanecer em seu Ser, em sua Real Natureza, sua Verdadeira Identidade, que é a Consciência de Deus, que é Felicidade, Paz, Inteligência, Liberdade. É quando não há mais história, vínculos, nascimento ou morte, medo, desejos, anseios… Não há mais exterioridade.
Isso é um assunto de Deus, não um assunto seu; o seu é ficar quieto. O seu trabalho é sair da sua rotina, sair do seu script, que você sabe qual é: ser avô, ser mãe, ser pai, ser esposa, ser marido, ser empresário, ser “alguém” no mundo. Assim, quando sai do script, você vê espaço para o Divino, para Deus trazê-lo de volta… Ele vai trazer você, de novo, para esse Lugar. Ele vai pegar você pela mão e trazê-lo; vai fazer você retornar para Si Mesmo. Você nunca esteve em nenhum outro lugar. Este é o seu Lugar, você só se esqueceu disso.
"Isso é um assunto de Deus, não um assunto seu; o seu é ficar quieto."
Jesus conta uma parábola sobre isso, que é a parábola do filho pródigo. Vocês conhecem a parábola, não é? O pai tem dois filhos e, num belo dia, um deles perde o juízo e diz: “Eu quero viver a minha vida. Quero que o Senhor dê a minha herança, porque eu quero ir embora”. O pai diz: “Você tem certeza?” Ele diz: “Sim! Eu quero ir embora!”. Então, o pai dá a ele a herança e diz: “Está aqui meu filho. Você quer sua herança, tome”. Então, o filho viaja para uma terra distante, com sua herança, e começa a usar e abusar do dinheiro: sai pelos bordéis, pelas farras, pelas festas, até que um dia a herança acaba. Como se vê sem dinheiro, vai procurar emprego, e a função que arrumam para ele é a de guardador de porcos. Os anos passam, e lá está ele, já está com uma certa idade, naquela vida, trabalhando como cuidador de porcos, todo sujo. Diz a parábola de Jesus que, num belo dia, ele olha para o céu, com as mãos e o rosto sujos, o corpo malcheiroso, lembra-se de casa e diz: “Puxa! Que situação!” Está na parábola assim: “Naquele momento ele caiu em si mesmo”. Então, ele caiu em si e disse: “Caramba! Que situação a minha! Eu tenho um pai tão rico e olha onde eu vim parar!” Ele tem um momento de lucidez.
Olhem para vocês! Satsang é um momento de lucidez. Alguns de vocês estão começando a desconfiar que não adianta se casar de novo, ter mais filhos, empreender em mais e mais negócios, ganhar mais e mais dinheiro, construir, construir, construir. Alguns de vocês já compreenderam que não podem ficar desperdiçando essa “herança”, que é a energia física, a saúde que ainda resta aí para o corpo e os recursos do dinheiro e do tempo com outras coisas. Olhem para vocês! É um momento de lucidez!
Na parábola, Jesus conta que o rapaz diz: “Voltarei para a casa do meu Pai”, e começa a voltar. Quando ele está a caminho, de longe o pai olha e alguém diz: “Olhe! Aquele não é o seu filho?” O pai olha de novo e diz: “Puxa! Parece que é ele, sim!” O pai pede a alguém para ajudá-lo a chegar. Quando o filho chega, o pai o abraça e diz para o filho que tinha ficado em casa: “Olhe, seu irmão acabou de voltar. Vamos fazer uma festa”. Então, o filho recém-chegado toma um banho, fica cheiroso, perfumado, o pai manda preparar uma roupa muito bonita para ele, coloca um anel no seu dedo e diz: “Vamos matar um cevado, fazer uma festa”. O filho que ficou em casa disse: “Pai, o que é isso? Eu estou com o senhor há tanto tempo, você nunca mandou fazer uma festa dessa para mim, mas esse aí, esse mal-agradecido, fugiu de casa, levou o dinheiro, gastou com as meretrizes” (Está lá na parábola de Jesus; diz que foi com as meretrizes, que é o símbolo da luxúria, do prazer, da estupidez humana). “Ele gastou tudo com as meretrizes e você faz uma festa dessa?” Então, o pai olha com um olhar compassivo e diz para o filho: “Meu filho, nunca faltou nada a você. Tudo o que eu tenho sempre foi seu, mas o seu irmão estava perdido! Ele estava morto, mas agora está vivo!”
Quando você volta para Deus, volta para a Verdade, para casa... Você se lembra de novo! Deus está trazendo você. Você só volta, quando Ele traz você. Esse trabalho é algo que acontece de dentro para fora, então, é Deus trazendo você de volta. Na verdade, é Ele trazendo-o para Si Mesmo, não é você voltando para Ele. Enquanto a religião formal, a religião dos “ismos”, se preocupa em mudar o homem de fora para dentro, a Verdade é algo que floresce de dentro para fora. Por isso que não se trata de uma prática, mas de uma honesta intenção, aí dentro, de desistir. Isso é algo que nasce do próprio Deus, da própria Consciência, do próprio Ser, aí dentro. Então, você traz atenção a todo esse movimento desordenado, viciado, da mente e consegue começar a apreciar a Verdade, a deixar tudo por Ela, a, literalmente, morrer por Ela. E tem que morrer mesmo por Ela! Você vai atrapalhar algumas vezes, mas é nessa hora que a Graça do Guru, dessa Presença, a Graça Divina, o Espírito Santo, vai ser mais forte que você e vai lhe revelar quem de verdade Você é. É por isso que você precisa da Graça do Guru, da Graça de Deus. "Porque pela Graça sois salvos; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” ‒ está lá na Bíblia; é a mesma mensagem.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Cabedelo - PB em Março de 2018. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-Satsang.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Devoção a Deus é entrega à Vida

Todo Mestre real lhe mostra como esquecer-se de si mesmo, como abrir mão de sua falsa liberdade, como trazer Consciência, que produz desidentificação. Podemos nos aproximar disso através de uma fala que aponta para a não dualidade ou para a importância da devoção. Devoção é entrega a Deus, à Vida. Não separe Deus da Vida ou a Vida de seu verdadeiro Ser. Essa devoção a Deus é entrega à Vida, e isso é a Realização do verdadeiro Eu. Então, devoção a Deus é devoção à Verdade sobre Si mesmo.
É imperiosa a Presença, a Graça de Deus. Dentro de uma linguagem não dual, eu diria que é imprescindível a atenção sobre o movimento falso dessa ilusória identidade, com escolhas, desejos e determinações. Assim, a atenção sobre isso, sobre esse “mim”, sobre esse “eu”, é, em outras palavras, a verdadeira e real devoção a Deus, à Vida, ao seu verdadeiro Ser. Se isso está presente, não há espaço para o medo; isso é estar no seguro abrigo da Verdade.
"(...) é imprescindível a atenção sobre o movimento falso dessa ilusória identidade, com escolhas, desejos e determinações. Assim, a atenção sobre isso, sobre esse 'mim', sobre esse 'eu', é, em outras palavras, a verdadeira e real devoção a Deus, à Vida, ao seu verdadeiro Ser."
O Guru sempre dirá: “Você é Ele!” Bhagavan Sri Ramana Maharshi dizia: “Entrega a Bhagavan, que Bhagavan cuida!”. Este é o sentido real da entrega. Não há nada que seja meu, não há nada que não seja de Deus. Assim sendo, a Meditação se torna natural, como seu Natural Estado de Ser, quando só há “Ser”, quando Ele cuida de tudo, quando Você é Ele, quando não há mais mente, corpo, mundo, saúde, tempo, ou qualquer coisa que não seja Ele. Tudo é Ele.
Se você acredita que alguma coisa não é Ele, a não separação é, ainda, apenas uma crença para você. Se você é Meditação, não há resistência, não há preocupação quanto ao corpo, quanto ao futuro, quanto a situações adversas, porque não há mente, não há tempo. O tempo é Dele, o tempo é Ele. Ele é o tempo que aparece na mente, a mente que aparece na Consciência, a própria Consciência, e está além do tempo, da mente e dessa consciência objetiva que conhecemos.
Não confie em mais nada, não se separe, não se veja separado. Então, você relaxa em sua Graça, em sua Presença, na Verdade… Você é este próprio relaxamento. Uma fala que trata sobre Você, também trata sobre Ele, pois ela mostra que você é Ele e Ele é você.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Fortaleza, em Maio de 2018. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

O Único Conhecimento que realmente importa

O que a entrega e a meditação representam? Esse é o nosso assunto dentro desse encontro. Não são as palavras em si que têm importância, mas aquilo que está além delas, afinal, não são as respostas a perguntas nem as próprias perguntas que têm relevância em Satsang. Em geral, você passa sua vida inteira em busca de respostas; as pessoas vivem à procura de respostas. Assim, por existir a fixação nessa busca, desde criança você vem adquirindo e acumulando conhecimento.
Que espécie de conhecimento você pode, também, adquirir aqui? Se você entra nessa sala para adquirir mais conhecimento, eu tenho uma pergunta para lhe fazer: que conhecimento pode ser mais importante para você além do fato de que você já É? Você já É! Que conhecimento pode ser mais importante do que esse? Mas, mesmo assim, você passa a vida inteira procurando mais conhecimento, e para quê?
Quando você desperta para a sua Real Identidade, para a sua Real Natureza, já não se importa mais com o conhecimento, pois ele é apenas para preencher a mente egoica. O coração do Sábio já está pleno, não precisa ser preenchido. A mente do Sábio desapareceu, então, não há necessidade de nenhum conteúdo. Em Satsang, nós temos apenas um Conhecimento que realmente interessa: o Conhecimento da Verdade do Ser!
Enquanto a mente egoica está presente, você pode continuar adquirindo conhecimento mundano e orgulhar-se disso. As pessoas se sentem muito orgulhosas de todo o conhecimento que adquiriram, mas para que serve isso? Quanto tempo esse tipo de conhecimento vai durar, dar-lhe importância e fazer você se sentir tão orgulhoso? Pode parecer que eu estou desprezando o conhecimento, mas isso não é verdade; ele também tem um certo lugar, mas não pode lhe dar Autorrealização, a Realização de Deus, a Felicidade suprema, a liberação do sofrimento, o fim do medo. Então, o seu conhecimento continuará aí até que ocorra algum problema nesse mecanismo cerebral, quando parte dessa memória poderá ser esquecida, destruída. Isso poderá acontecer durante a vida do corpo ou todo o mecanismo cerebral será destruído junto com o corpo. Porém, esse Conhecimento que Você É está além do corpo, do cérebro; está além da história e desse mundo.
Então, aqui a questão é: “Quem sou eu?” Enquanto você estiver aqui, me fale sobre quem é você e não sobre o que você sabe; fale de sua própria e direta experiência consigo mesmo; fale-me sobre Meditação. Você sabe o que é Meditação? Meditação é não perder de vista a Si mesmo!
"Você sabe o que é Meditação? Meditação é não perder de vista a Si mesmo!"
Essa Consciência, essa Presença, é a prova da Realidade Divina, Daquilo que está fora do tempo. Esse é o Despertar da Sabedoria, que é o verdadeiro Conhecimento. Então, Você sabe que É, e isso não pode ser lembrado ou esquecido, perdido ou queimado pelo fogo, nem pode desaparecer com a morte do corpo ou com o desaparecimento de objetos à sua volta. Aquilo que está além da mente não tem nascimento nem morte, é a sua Natureza Verdadeira, Real, é o seu Ser. Então, quando vem a Satsang, você se depara com a Verdade, com o real Conhecimento, que é o Conhecimento de Deus.
Sabem por que as pessoas têm medo da morte? Porque elas não conhecem a Meditação e perderam de vista a sua Verdadeira Identidade. Elas são prisioneiras do conhecido, do conhecimento, estão presas no passado, na memória, na história. Quando está em sua Natureza Real, que é Meditação, você não perde de vista sua Verdadeira Natureza e, então, não há mais o que perder, nem ganhar. Assim, você está livre, absolutamente livre. Em sua Real Natureza, você não é um homem ou uma mulher, não é um jovem ou uma criança ‒ isso tudo são meros conceitos na ilusão, no sonho, em maya. Estar agarrado a isso é a prisão.
Quando esse corpo aí nasceu, seus pais, parentes, todos comemoraram, estavam sorrindo e orgulhosos; agora, quando esse corpo morrer, todos vão lamentar, chorar e ficar de luto. Isso é maya, a ilusão. A ciência diz que mais de 80% do seu corpo é água, portanto, você é apenas uma pequena gota no oceano, no universo da água. Então, esse corpo é a água que volta para a água, mineral que volta para a terra, mas não tem ninguém dentro dessa gota. Portanto, não há porque se alegrar ou se lamentar, pois isso é somente um acontecimento em maya, no sonho divino.
Sabe porque é lindo estar aqui? Porque agora você tem a oportunidade de descobrir que não é esse corpo e se firmar no único Conhecimento que realmente importa, que é saber quem Você É. Você é O que É e isso é tudo que importa!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 04 de Julho de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

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