terça-feira, 26 de junho de 2018

A liberdade de viver sem escolhas

A mente não tem qualquer perspectiva a respeito Daquilo que é inominável, impensável, indizível, indescritível. Nós estamos falando de algo que está fora dessa dimensão conhecida, da dimensão da mente. Em Satsang, nós estamos sempre tratando daquilo que pode ser investigado e, portanto, daquilo que ainda faz parte do processo conhecido da mente, mas é dessa forma que é possível se ter uma percepção direta Daquilo que está além dela.
Nessa nova dimensão, não existe limitação, que é algo tão comum na mente, porque não existe alguém. Portanto, não se trata de “alguém” compreendendo isso, mas essa investigação da limitação é algo que se torna fundamental para se perceber Aquilo que está além desse “alguém”, dessa suposta entidade presente. Dessa forma, podemos nos deparar com Aquilo que está além da mente, além do descrito, além do conhecido. A investigação prepara o terreno para o salto que acontece para além da própria investigação.
Você está aqui para ir além das crenças. Enquanto acredita ser alguém, você permanece dentro da dimensão do conhecido e, portanto, sem conhecer essa nova dimensão. A Realização é o Despertar dessa nova dimensão, dessa Realidade indescritível, desconhecida.
A mente vive dentro dos limites do conhecido, das restrições de suas crenças. O modo de se perceber o mundo, as situações, a vida, através da mente, é sempre dentro dessas restrições. Tudo o que a mente busca – e ela vive sempre em busca – está dentro dessas limitações. Esse é o movimento da personalidade, é o movimento da egoidentidade. Assim, existe uma constante luta, pois a mente está sempre em busca de segurança.
Quando você está livre da “pessoa”, desse senso pessoal, não há mais luta, que é quando há uma profunda compreensão de que essa “pessoa”, essa personalidade, é apenas uma alucinação. Então, você está livre do peso da memória, da busca de segurança, do medo de errar e, portanto, dessa coisa tão pesada que é a escolha.
No ego, você vive dentro desse conceito de escolha, tal é o medo de errar, de não ser bem-sucedido. Na verdade, você foi condicionado, dentro da cultura, a buscar segurança, buscar realização, buscar sucesso, e tudo isso dentro de uma base de escolhas.
Nesses encontros, nós investigamos os padrões dessa egoidentidade, dessa falsa identidade que você acredita ser; o medo, o sofrimento que isso representa e a prisão que está presente nisso. Tudo isso por quê? Porque você não é quem acredita ser. Você está preso a escolhas.
Há uma grande e extraordinária Felicidade na vida livre das escolhas. Nessa Realização de Si mesmo, na Realização da Verdade de sua Real Natureza, nesse “viver” sem escolhas, há uma grande e extraordinária Inteligência. Seu Estado Natural dispõe de uma grande Liberdade, de uma grande e indescritível Criatividade. Seu Estado Natural é sábio! Nessa Criatividade, nessa não escolha, nessa Inteligência, há uma completa liberdade do medo.
Deus é essa Realidade, é esse Mistério. Nós podemos chamar Isso, também, de Consciência. Consciência é Aquilo que está presente quando não há mais a alucinação da egoidentidade. A mente não pode alcançar essa perspectiva, porque isso é impensável, está fora da imaginação, está fora do pensamento. Então, todo esse antigo medo e procura por segurança, toda essa busca de resultados e preenchimentos externos, desaparecem. Essa é a maturidade da Inteligência, a maturidade do Estado Natural, do Ser Realizado, Daquele que “voltou para casa”. Como na parábola do filho pródigo, é aquele que retornou à casa do seu Pai. Algo bastante paradoxal, porque essa Consciência nunca deixou de ser O que É. Então, esse tempo de afastamento do filho pródigo foi algo muito real em sua imaginação, mas nunca foi, de fato, real — do ponto de vista da Realidade Última. O “retorno do filho pródigo” acontece nessa pergunta: “Quem sou eu?”.
Quando você faz essa autoinquirição e explora isso profundamente dentro de si, chega um momento de maturidade, em que a mente diz: “Não sei!”. Somente então, nesse “Eu não sei!”, abre-se um espaço para a instantânea e extraordinária percepção da Verdade sobre si mesmo. Só então, Aquilo que é atemporal, inominável e indizível se mostra presente. Nesse momento, “o filho pródigo volta para a casa de seu Pai”, mas, na realidade, ele nunca saiu dela. Ele fez uma grande viagem de alucinação egoica. O ego é pura alucinação!
Quando existe a autoinvestigação com essa entrega, esse envolvimento total, a desistência acontece naturalmente e a ilusão da separação se dissolve. Eu tenho chamado isso de “colapso da ilusão”, que é o Despertar da Inteligência.
Nessa autoinquirição, nessa exploração, a mente pode imergir na Fonte e desaparecer, porque há essa desistência, essa rendição. Então, esse círculo vicioso da alucinação da mente egoica é quebrado.
Você tem ido por muitas direções, mas todas elas estão dentro desse círculo da alucinação egoica. Você, nesse círculo, nunca encontrou, nem jamais encontrará, a Felicidade, a Paz, a Liberdade, porque Isso não faz parte da mente egoica, não está dentro da alucinação.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 11 de Maio de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

O seu fazer é parar de atrapalhar

Você tem que desfrutar a vida como ela se mostra. Você desfruta de um prato de comida, de um sorvete, de um beijo, de um contato físico, mas não transforma isso numa experiência de “alguém” — não seja um experimentador. Por isso, a questão da relação é uma coisa e do relacionamento é outra.
Como eu sempre falo: vocês transformaram todas as relações em relacionamentos. Então, a esposa, os filhos, a família viram relacionamentos — não são apenas relações. Uma relação é inofensiva, não tem problema nenhum. É como um contato que você tem com um instrumento musical: enquanto ele está em suas mãos, você o toca, mas, quando ele não está mais, não tem problema nenhum.
Quando você tem a fixação, a ideia, a ilusão de que você é uma pessoa, então, o instrumento musical é um peso, porque é um relacionamento, não é apenas uma relação, um contato. A Felicidade não nega nada, não nega a vida, mas o sofrimento sim. É simples tudo isso, não é?
Participante: É simples, mas é difícil de executar, desfazer essa programação toda, como o Senhor disse.
Mestre Gualberto: Eu recomendo você não se ocupar com isso, deixar isso por conta da entrega, da rendição, por conta da Graça. Não é um “fazer positivo” da sua parte; é uma desistência do “fazer”. Até hoje você fez tudo, agora é hora de parar de fazer. A própria ideia de estar na ação é o grande empecilho — acreditar poder ou não poder fazer isso. Esse movimento de “fazer” é um vício muito grande. Então, quando eu lhe falo: “Relaxe! Pare! Renda-se”, a mente diz: “Mas, como eu faço?” Até isso ela quer fazer, como se tivesse um “passo a passo”; não há nenhum “passo a passo”!
Quando a criança sai do útero, da barriga da mamãe, o médico não dá uma aula para ela de como respirar (ela nunca respirou fora da barriga da mamãe); ele dá uma palmada, se for necessário. É bem o que o Guru faz! Ele não ensina você como realizar Deus; Ele só vai lhe dar uma “palmada”, mas vai dar uma “palmada” de verdade, suficiente para você abrir a boca e dar um grito. Quando você dá um grito, o ar entra e, depois, tudo acontece naturalmente.
Então, o Guru faz algo assim: ele faz o “parto” e, depois, dá uma “palmada”. Eu sei o que passou pela sua cabeça. Você pensou: “Eu vou nascer!”. Não! Eu não disse que você vai nascer; eu disse que o Guru vai fazer o “parto”. O processo é natural, mas quem vai facilitar tudo é o Guru. Ele faz o “parto”, dá a “palmada” e você descobre que sabe respirar.
As pessoas vêm a mim e dizem: “Eu não consigo, eu não posso, eu sou muito pecador, eu sou muito burro, eu não tenho rendição, eu não tenho entrega!”. Então, o Guru diz: “Calma! Está tudo aí! Fique aí, porque está tudo aí!”. Ele faz o “parto”, dá a “palmada” e pronto! O que você chama de difícil, eu chamo de trabalho. A Realização não é uma coisa difícil; a Realização é o resultado de um trabalho.
Eu não vejo como algo que requer rendição, que requer trabalho, possa ser fácil. Não é fácil, é trabalhoso. É lindo isso, porque quando há um trabalho, algo realmente acontece. Então, se não houve um trabalho e esse “despertar” foi algo fácil, nada aconteceu ainda. Tem muita gente dando Satsang, mas não aconteceu nada ali ainda, porque não teve trabalho — foi “fácil”. Você vai dizer: “Foi fácil! Não teve trabalho, nada de fato aconteceu!”. Alguns dizem que isso aconteceu depois de assistir a um vídeo ou em uma conversa por Skype, ou seja, não teve trabalho, então, nada aconteceu.
Participante: Mas, nesse trabalho, eu não tenho que fazer também?
Mestre Gualberto: Há um “fazer”, mas ele não é seu! O seu “fazer”, nesse trabalho, é parar de atrapalhar.
O trabalho acontece, mas é um trabalho dessa Consciência, dessa Presença, dessa Realidade, desse Ser, desse Guru interno, que é o Guru externo — só tem Um, que é Deus! É um trabalho sim, mas, é um trabalho já pronto. Na nossa linguagem é um trabalho, mas já está pronto.
O seu trabalho é parar de atrapalhar — isto é um trabalho, não tenha dúvida! Render-se é um trabalho! O detalhe é que as pessoas não querem a rendição, elas querem um trabalho no qual elas estejam atuando, estejam no controle. Há um trabalho enorme para parar de trabalhar, para dar um “stop” na sua rotina, para que você saia de sua programação mental, pessoal, e se volte para dentro, para Isso que Você É!
Portanto, é um trabalho, só que esse trabalho não é nada! O trabalho Real é o trabalho de Deus que, curiosamente, já está acontecendo e, paradoxalmente, já está pronto. Não se faz nada, só se para de atrapalhar. O problema é que vocês não querem parar de atrapalhar.
Participante: Como eu faço para facilitar a tarefa?
Mestre Gualberto: Como eu faço para facilitar? Como eu faço para parar? Como eu faço para não atrapalhar? Como eu faço para agradar? Já está atrapalhando...
Eu preciso mostrar o que você ainda não conseguiu ver, eu tenho que sinalizar. Você tem certeza de que está vendo e eu digo: “Você não está vendo!”, como se eu tivesse que enxergar em seu lugar, só que, na verdade, eu vou lhe dar olhos para ver. Mas, até isso acontecer, eu vou ajudá-lo a descobrir que você acredita ver o que não está vendo ainda.

quinta-feira, 21 de junho de 2018

Descubra seu Estado Natural de Meditação!

Estamos colocando, nesses encontros, a verdade da Quietude, do Silêncio, de sua Natureza Verdadeira; estamos tratando de uma Quietude que não é aquilo que todos conhecem como quietude. Toda fala, em Satsang, aponta para essa Quietude, e Isso não é algo que você possa alcançar. Você não pode encontrar a Verdade! Então, a procura pela Iluminação é inútil, porque você não pode encontrar o seu Estado Natural. Isso não é como encontrar alguma coisa ou alguém que você perdeu. Essa Iluminação, Quietude, Liberdade, é nossa Real Identidade e Ela não é um objeto, nem algo que possamos perceber e consigamos encontrar.
Você não pode se movimentar em direção à Quietude, não pode perturbar o Silêncio, nem encontrar Aquilo que não está perdido. Qualquer movimento que você fizer, irá perturbar Isso, esse Silêncio, essa Quietude, e será somente um afastamento da Verdade sobre você. Quando você compreende esse primeiro passo, já está dando o último. Quando você compreende que tudo que está buscando é parte, ainda, do que a mente tem projetado — o que significa que é parte do pensamento, das suas ideias, da imaginação — sua procura se mostra completamente inútil e, então, você para.
Portanto, essa paz, liberdade, felicidade, que você está buscando, assim como a iluminação ou a realização de Deus, todas estão dentro dessa imaginação criada pelo pensamento. Então, isso ainda é um objeto sendo procurado, como se fosse algo que pudesse ser percebido, ser alcançado ou ser conhecido. Aqui, estou dizendo para você que Isso está fora da mente, e, portanto, não tem nenhuma relação com qualquer objeto ou representação que o pensamento possa reconhecer. Assim sendo, Isso está fora do conhecido. A Verdade, a sua Natureza Verdadeira, é algo assim e isso é a Iluminação. Por esse motivo, isso soa simples e ao mesmo tempo muito misterioso. Não é algo que você possa encontrar buscando e qualquer pensamento é somente um afastamento Disso.
Reparem como é importante essa compreensão, porque, quando isso fica claro, você para com as suas práticas, com toda forma de busca espiritual, com toda essa procura externa. A Real Identidade, seu Ser, não é uma coisa para ser encontrada ou obtida através de práticas e de buscas espirituais — essa é uma tentativa de aproximação completamente equivocada. Isso se dá por uma ação misteriosa de “Algo” maior do que você. Então, a real aproximação da Verdade é completamente livre de desejo, intenção, exercícios e práticas. A realidade do seu Ser está além da mente, do conhecido e do que pode ser percebido. Não tem “alguém” que possa descobrir Isso; não tem “alguém” nessa descoberta, então também não tem vontade, desejo ou intenção. Assim, eu sempre convido você a ficar quieto.
Não estou falando dessa quietude do corpo e da mente, que você pode conseguir através de alguma prática espiritual. Se você pratica alguma técnica de meditação, consegue aquietar o corpo e a mente. Tudo fica muito tranquilo: o pensamento se aquieta, o corpo se aquieta... Ou seja, você entra em um estado em que a mente e todas as atividades do corpo param e, então, tem a sensação de que está se encontrando com a Verdade. Esse é um momento sem qualquer perturbação, conseguido através de um mantra, de uma música, de uma técnica de respiração ou de uma voz falando pausadamente, de forma lenta, conduzindo-o a esse estado, que você considera o estado da “verdade”, do “silêncio”, de perfeita “quietude”. Assim, você fica ali meia hora, quarenta minutos, uma hora, uma hora e meia, talvez duas horas, e, depois disso, tem que se levantar, ir para a cozinha fazer a comida. Mas, quando você está na cozinha, lavando o arroz ou preparando a mamadeira para a criança, a mente já voltou. Ou, depois dessas duas horas, você tem que se levantar e ir para o escritório, mexer nos papéis, responder os e-mails, e percebe que o pensamento volta e traz o personagem novamente, com todo o peso da história que ele tem. Então, não é dessa quietude do corpo e da mente que estamos falando.
Digo isso para você, porque as pessoas me perguntam: “Como manter esse estado de meditação no dia a dia?” O fato é que elas encaram o estado que viveram por meia hora, uma hora e meia, duas horas, como sendo o estado de Meditação e de contemplação do Nirvana, e, depois, elas se veem fora do “nirvana”, do “samadhi”; a mente voltou. O fato é que as pessoas não gostam muito de ouvir o que eu tenho a dizer para elas: essa não é a verdadeira Meditação, o Estado Real. Procuro falar com elas de uma forma bem agradável, mas, mesmo assim, eu acho que não adianta muito.
Eu quero que você descubra seu Estado Natural de Meditação, não esse estado artificial que você encontra por meio de práticas, que, ainda, é parte de um exercício, não é algo natural. Esse estado pode ser um ótimo calmante para os nervos, para os músculos, para a pressão sanguínea, um ótimo relaxante para o sono, traz grandes benefícios para o corpo e para a mente… É um momento sem estresse, sem preocupação, sem família (porque família preocupa mesmo). Nele, seu ego está “nocauteado” durante trinta minutos, uma hora e meia, duas horas, e depois se levanta e está de volta ao “ringue”, com as luvas prontas novamente, porque ele já descansou, tomou água, secou o suor e está pronto para mais vinte e duas horas do dia que você tem, incluindo as horas de sono — isso se você meditou durante duas horas.
Então, você pergunta: “Por que eu não consigo permanecer nesse estado tão maravilhoso, silencioso, de paz”? A resposta é: “Porque não é o seu Estado Natural, mas um estado criado por uma técnica, uma prática de meditação”. Você tem que trabalhar o resto do dia e seu chefe/patrão não vai aceitá-lo de pernas cruzadas, nessa prática, no horário do expediente, seja no consultório, escritório, na fábrica, no quartel ou noutro lugar; ele quer você trabalhando, porque ali é lugar de trabalho. Não estou falando mal de sua prática de meditação, estou dizendo somente que é inútil para esse objetivo aqui, é claro; pode ser útil, mas para esse objetivo aqui é inútil.
Então, essa Quietude de que estamos falando, não é a quietude do corpo e da mente; é algo além dessa prática de meditação; é a Quietude que surge naturalmente quando há atenção sobre o ilusório movimento do “eu”. Isso é a Real Meditação! Eu tenho insistido muito nisso. Portanto, quando você está aberto para observar o movimento desse falso “eu”, começa a descobrir a Real Meditação, seja lá no seu trabalho (no escritório, na fábrica, no quartel, no consultório, escrevendo uma receita, atendendo um paciente, etc.) ou na cozinha, lavando arroz e preparando a mamadeira da criança. É necessário observar a mente, o que se passa dentro de você nessa relação com o mundo à sua volta, no seu dia a dia, quando o seu “eu” é contrariado, a sua “pessoa” é magoada, ofendida, aborrecida, momento a momento...
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 02 de Maio de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

terça-feira, 19 de junho de 2018

Viva em amor com o seu Ser

Enquanto você se confunde com o corpo, a ilusão da mente se repete, mas, mesmo assim, Você continua intocável. Você não se repete, é a mente que se repete! Você não tem problema, a mente tem!
Você está em apuros porque se confunde com o corpo. Como a mente se repete, o que ela faz, o tempo todo, é plasmar formas — ela precisa disso. O corpo é uma forma da mente, mas a mente não é uma forma da Consciência, de sua Real Natureza. A mente é uma forma do ego, do desejo, que forma o corpo para desfrutar daquilo que ele anseia. Então, você nasce porque está em estado de miséria, que é o estado da mente egoica; está embolado, confundido com isso. Quando isso termina, não há motivo para a forma aparecer novamente, porque a mente egoica não está mais presente.
Por que eu digo para vocês sempre, em Satsang: “Não confie na experiência!”? Porque é na experiência que está a ilusão de ser alguém e, assim, você se mantém na escravidão! Vá além disso! Vá além de tudo e de todos! Vá além da mente, do corpo, da ideia de ser alguém! Vá além dessa ilusão!
Pare de pensar em termos de pessoas, de lugares, de coisas, de objetos, porque quando você está buscando isso, está se fixando cada vez mais no tempo. Por exemplo: se você tem um marido, ou um namorado, e vive pensando nele, você está se fixando no tempo, como uma identidade separada. Vá além de pessoas, coisas e lugares! Mantenha-se livre, internamente, de tudo isso, porque, enquanto houver desejo, a mente vai se repetir, vai buscar um corpo novo, uma nova sensação, uma nova experiência, e isso não termina nunca! Está claro isso?
More em seu Ser, viva em seu Ser, case-se com o seu Ser, viva em Amor com o seu Ser! O resto são formas que a mente está criando e buscando para se posicionar no tempo, como uma identidade separada.
O que eu estou dizendo para você é o Cerne, o Coração dos Vedas, dos Upanishads, da Bíblia, do Alcorão e de todos os livros sagrados do mundo. Todos estão apontando para o Divino, e Ele É quando você não é.
A identificação com o corpo, com a ideia de ser alguém, faz você ficar preocupado: “Vou ou não vou”?; “Continuo ou paro?”; “Caso-me ou não?”; “Peço o divórcio ou não?”… É como quando eu encontro alguém que está preocupado com o que come: “Eu sou vegetariana”; “Eu sou macrobiótico”. Estou tratando de outra coisa! Você está preocupado com o que o corpo vai comer, está se identificando com o corpo, achando que o corpo vai se espiritualizar pela comida. O corpo espiritualizado pela comida é o quê? É a mente! O corpo é só a mente e eu estou tratando de Você, não do corpo e da mente. Eu não estou preocupado com o que você come, mas sei que, na espiritualidade, vocês aprenderam isso, então chegam aqui cheios de crenças do que pode e do que não pode; do que deve e do que não deve; do que se faz e do que não se faz.
Que diferença faz para O que Você É, em sua Natureza Real? Antes de o corpo ter nascido, Você é Isso e, quando o corpo desaparecer, Você é Isso! Eu estou apontando para Aquilo que Você É, apontando para Aquilo que é sua Natureza Real, além do corpo, além da mente, além da forma, além do mundo, além do nascer e morrer.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Campos do Jordão, no Ramanashram Gualberto, em outubro de 2016. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

sábado, 16 de junho de 2018

Como opera a ilusão do pensamento?

O pensamento é um movimento automático, em que não há alguém. Então, de certa forma, ele é um fenômeno existencial. Mas, tem outra coisa aí: a intenção. O falso “eu” é viciado nesse movimento de imagens, então, ele carrega a intenção de pensar, porque precisa estar ocupado com imagens, com desejos, com buscas.
O que eu descobri é que no Estado Natural não existe intenção de pensar, pois não há prazer nisso, mas no ego há. Quando digo “prazer”, também me refiro à dor, pois ela está incluída nesse prazer. É paradoxal, porque o falso “eu” não pensa, mas tem a intenção, então, o pensamento fica a serviço dessa imaginação.
O ego não tem nenhum interesse na Felicidade, não sabe o que é Isso, mas ele sabe o que é sensação. Isso explica por que as pessoas cultivam, durante anos, pensamentos negativos e memórias que lhes trazem sofrimento. Desde que o “eu” esteja existindo, está tudo bem; desde que você seja alguém, mesmo deprimido, está bom! Então, para ser alguém, "você" vai buscar o pensamento. Aqui está o paradoxo, porque não tem alguém para buscar o pensamento. No entanto, aparece a intenção do pensamento, que é este suposto “alguém” querendo sobreviver com o pensamento. Então, os pensamentos, que são apenas um fenômeno existencial, ficam a serviço dessa falsa identidade e, como ela está viciada em sentir, em ser alguém, essa intenção continua mantendo-a sempre aí.
O corpo está aqui, mas não tem nada aqui. Há apenas os sentidos (percepção auditiva, visual, o tato, o paladar, o olfato). Esse movimento interno aparece com a intenção de pensar e, então, o pensamento diz: “Eu queria tomar sorvete!”. Nesse momento, o movimento interno começa a criar imagens. Pronto! Aí está o “eu” em sua sensação. Não há necessidade de sorvete, mas o “eu” necessita ser alguém, ele quer a sensação, então, ele fabrica o pensamento. Na verdade, ele pega o pensamento emprestado de um mar conhecido, chamado “memória”, chamado “lembranças”. Ele pega emprestado um pensamento e fabrica uma sensação imaginária do sorvete, ou de qualquer coisa. Ele sendo alguém, ele sentindo, está bom! Não importa se é uma imagem que lhe dá prazer, pode ser uma imagem que lhe dê dor; essa também serve.
Para o “eu”, o que importa é a sensação; a Felicidade não. O “eu” não sabe o que é Felicidade! Como ele pode desejar aquilo que ele não conhece? Tudo o que ele deseja está no seu “mar da memória”, “mar de lembranças”, nas imagens do pensamento.
É normal, para esse falso “eu”, permanecer buscando vida na experiência do pensamento. Como eu enfatizei agora há pouco: não faz diferença se ele está vivendo prazerosamente (o que ele chama de felicidade), ou se ele está vivendo dolorosamente (o que ele chama de infelicidade). Na verdade, a infelicidade é a sua marca registrada! O “eu” jamais será feliz, pois nele não há Felicidade.
É uma questão de intenção — a intenção de continuar. Por isso que, em Satsang, você se vê em resistência. Você não sabe para onde eu estou apontando e não tem interesse nenhum em olhar para lá. Então, requer certo tempo até você compreender a importância da autoinvestigação. Sabem o que é autoinvestigação? É a coragem de investigar a si mesmo e perceber o quanto de mentira você carrega.
A real libertação do sofrimento não é possível dentro de um trabalho de cura. A libertação só pode ser real dentro dessa autoinvestigação, e não é com a intenção de ser curado que a autoinvestigação surge. Ela surge quando há a intenção de observar a Verdade sobre si mesmo. Todos que estão buscando cura não estão prontos para a libertação do sofrimento. Aquele que se torna apto para a libertação do sofrimento não é aquele que busca a cura, mas aquele que busca a Verdade sobre si mesmo.
Uma vez que o Real é visto (e o Real é que não há o irreal), o irreal desaparece. O que não é real, não tem cura, mas pode ser descoberto como não sendo real e, então, desaparece. O ego pode “morrer”, mas não pode ser curado. Quando digo “morrer”, não significa que ele para de respirar, mas que a Verdade é vista e o irreal desaparece.
É como se deparar com um fantasma que nunca existiu. Você entra no quarto e se depara com a inexistência do fantasma — é assim que a ilusão termina. Compreendem agora por que o ego não tem cura? Isso é como dizer a um fantasma (que não existe) que ele precisa ir embora do quarto. Um fantasma que não existe dentro do quarto jamais vai embora. É como o ego – ele não tem cura.
Esse trabalho é muito interessante. Nós estamos investigando a natureza ilusória, não estamos investigando a Verdade. A Verdade é, por si só, autofulgente, autodemonstrativa, e é por isso que todos os Sábios dizem que você já é o Buda. Mas, os tolos também podem usar essa frase sem entender nada do que estão falando. Para você usar essa frase, você tem que ser um Buda ou, então, um tolo. Tem que falar com propriedade. [risos]
O Despertar é um jogo divino. Não tem ninguém para despertar, não tem nenhum fantasma ilusório no quarto, mas é o jogo. É por isso que o Estado Natural não é um estado — ele está fora de todos os estados. Um “estado” é algo que vem e vai e um “não estado” é aquilo que não se pode falar a respeito. Por isso que é tão bonito, tão encantador o Estado de Buda, esse Estado fora dos estados. Quando você me escuta, a sensação é que você conhece Isso. Isso faz você se lembrar de algo que você sabe que sabe, mas não sabe o que é (que é a sua Natureza, que é o que Você É).
Não tem nenhum fantasma ilusório no quarto, como também não existe alguém para ser curado. Então, quando você vai a um Sábio e diz: “Estou tão angustiado”, é como dizer: “Olha, eu tenho um fantasma no meu quarto com a perna quebrada!”. Como você sabe que o seu fantasma está com a perna quebrada? Imagine só: um fantasma com uma perna quebrada precisando de atendimento médico… Não dá para acreditar nisso! É como quando você diz: “Estou deprimido!”. A dificuldade é de “ponto de vista”, é o modo como você vê. Você escuta um barulho e diz: “É a perna do fantasma que mora no meu quarto!”.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de João Pessoa, no mês de Maio de 2018. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

O que é voltar-se para dentro?

Voltar-se para dentro não é comportar-se de determinada forma, respirar de uma determinada maneira, cantar uma espécie de música, recitar algumas palavras... Voltar-se para dentro é não confiar na mente, no que ela diz aí. Não confie em pensamentos, em nenhum deles!
Não há Verdade no pensamento, somente a “verdade” dele. Se você passar algum tempo perto de mim, descobrirá isso: eu não confio em pensamentos! Se eu não confio, você pode começar a desconfiar também. Isso é tudo o que espero de você. Mas, eu posso dar mais um passo com você. O primeiro passo com você é lhe mostrar que nenhum pensamento, sentimento, sensação ou percepção é real em seu Ser, em sua Natureza Verdadeira. Você quer saber qual é o segundo? Dê esse primeiro passo comigo e eu lhe revelarei o segundo.
Despertar é assumir a Verdade de que não há nada além de Deus! Então, a gente não confia em nada além de Deus, ou confia que tudo é Deus; dá no mesmo. Deus é outra palavra para a suprema Bem-Aventurança, suprema Felicidade. Há somente a suprema Felicidade! É aqui que eu estou, é aqui que Eu Sou o que Sou, que Você é O que é. Você se esqueceu disso e eu estou aqui só para lembrá-lo.
Vocês acham que eu sofro? Não! Por quê? Porque não há imaginação. Para sofrer, você precisa do pensamento. E pensamento é o quê? É imaginação, e está sempre associado a objetos, a imagens de coisas, pessoas e situações. Então, vejam como é simples viver sem sofrimento. A única coisa que importa é abandonar a exterioridade, que é criada pelo pensamento; o pensamento também é exterioridade.
Portanto, vejam que Meditação, que é o seu Estado Natural, é algo simples, embora para a mente não seja fácil; é essa atenção permanecendo no agora, no qual está a totalidade da verdade , que é Paz, Liberdade, Felicidade. Não há "pessoa” nessa atenção! O Agora não carrega a “pessoa”! Em todos os Satsangs, estou tratando da Meditação. Eu não ensino uma prática de meditação, mas enfatizo a arte da Meditação, a beleza da Meditação. Na mente, você vive na imaginação, então, o meu trabalho é trazê-lo de volta para esse Espaço, que não é contaminado pelo pensamento, pelo tempo, pela história, e, assim, mostrar-lhe a importância deste instante — que não é um “instante”, pois nele se revela Aquilo que está fora do tempo; é o Coração da experiência, para o qual podemos dar vários nomes: Consciência, Presença, Ser, Deus, Verdade... É qualquer “Coisa” onde “você”, a “pessoa”, não está.
Então, o meu trabalho com você é trazê-lo para este instante, que não é um “instante”, é o Coração da experiência, para o qual podemos dar vários nomes: Consciência, Presença, Ser, Deus, Verdade... Mas é qualquer “Coisa” onde “você”, a “pessoa”, não está.
Assim, não se fixe na identidade, deixe-a solta, pois ela é somente uma coisa do tempo. Quando você assume uma identidade na experiência, ou seja, assume que está vivendo no mundo como uma “pessoa”, você tem preferências, escolhas, medos, desejos e histórias para contar. Quando você é Consciência, você é essa Presença, que esvazia todo o conteúdo da personalidade, da egoidentidade. Quando você é essa Presença, não tem mais “você” e, então, fica uma coisa muito bonita, como uma dessas rosas… uma coisa muito linda, muito atraente, de grande beleza! Contudo, não é isso o que refletem seus desejos, suas escolhas… É exatamente a ausência disso tudo, que é o Vazio, essa Vacuidade, que reflete toda a Beleza!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de João Pessoa, no mês de maio de 2018. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

terça-feira, 12 de junho de 2018

O único problema que você tem

Em seu Estado Natural, não existe o outro. A base do outro está no sentido do “eu”. Se não há nenhum “eu”, não há nenhum “você”. Não é apenas o “outro” que não existe quando não há o “eu”; o mundo também não existe. Seu único problema é o sentido do “eu”. Paradoxalmente, o “Eu Sou” é a solução para todos os problemas. Se existe apenas o “Eu Sou”, não há “você”, mas, se você acredita nesse sentido de “eu sou este corpo” ou “eu sou esta pessoa”, outra “pessoa” aparece diante de você. Dessa forma, o outro se torna muito importante para você, pois a sua existência é dependente da existência dele. Se você aprender a permanecer em Si mesmo, todos os problemas desaparecem imediatamente.
Portanto, a crença é o problema; a outra pessoa não é nenhum problema. Se o seu sentido de “eu” está aqui, você vive nessa comparação: “Eu sou pobre e ele é muito rico”; “Eu sou infeliz e ele é muito feliz”; “Olhe para a esposa dele… Eu não tenho uma esposa”; “Olhe para os seus discípulos… Eu não tenho discípulos”; “Eu falo o tempo todo de Advaita Vedanta, sou um mestre, mas ninguém reconhece minha grandiosidade, minha santidade”; “Se eu estou aqui, por que você não me vê?”; etc.
Então, o sentido do “eu”, essa crença, é o único problema que você tem. Com o sentido do “eu”, você tem em si a inveja. Isso é sofrimento, uma forma de dor que você tem em si mesmo, porque “alguém” tem o que você não tem; “alguém” é o que você não é”. O senso de comparação é a causa de diversos problemas em sua vida. Por exemplo, ao dizer: “A minha esposa não é tão bonita”, o sentido do “eu” diz que você tem uma esposa. O “outro” é uma grande preocupação, porque “eu estou aqui”, “eu sou…”. Crenças! Na verdade, você não é o que acredita ser. A base desse problema são os pensamentos. Se você não tem pensamentos, não há comparação, não há o sentido do “eu”, não há inveja, não há problema.
Eu, particularmente, não tenho nenhum problema, porque “pessoas” não existem para mim. Isso porque esse “eu” não existe para este “Eu”, que é o real “Eu Sou”. Não falo desse falso “eu sou”, que diz: “Eu sou bonito”, “Eu sou marido”, “Eu sou filho”, “Eu sou avô e tenho lindos netos”… O pensamento é muito estúpido e, se você acredita nesse “eu”, os problemas aparecem a todo momento. “Ela comeu o meu bolo! Cadê o meu bolo?”. Vocês percebem o problema? O sentido do “eu” traz todos os problemas. Meu trabalho é compartilhar com vocês como viver sem esse sentido de “eu sou pai”, “eu sou namorada”, “eu sou namorado”…
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de João Pessoa, em Maio de 2018. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Um grande equívoco

O ser humano vive em uma constante procura de prazer, confundindo o preenchimento que o prazer dá com a real Felicidade. Você está em Satsang para investigar isso, não só verbalmente, mas existencialmente.
A questão toda é que o prazer nunca anda sozinho. Ele é como se fosse um produto que você quer comprar, mas para isso tem que desembolsar uma quantia de dinheiro muito alta − o preço do prazer é a dor. Assim, você nunca vai conseguir desassociar prazer de dor, pois, para ter um, terá que ter o outro também. Então, confundir Felicidade com a realização de prazer, que é o que o ser humano faz, é estar em um grande equívoco. Totalmente diferente disso, o Sábio considera Felicidade o Contentamento, que é algo diferente de prazer.
No ego, não há contentamento nunca! Quando as coisas vão mal, existe uma dor ali, e, quando vão bem, mesmo em meio ao prazer, a dor está lá também, à espreita, esperando uma próxima oportunidade para aparecer. Então, você tem sempre essa questão da dualidade, e é basicamente assim que a mente egoica funciona. Eu quero mostrar para você a beleza e importância do Estado Natural, que é Contentamento.
Veja a diferença: o Estado Natural é livre de preocupação, de realização de desejos, do peso da dualidade, dessa questão de prazer e dor, que é algo que sempre estará presente na manifestação. O corpo humano está, biologicamente, preparado para prazer e dor, mas como no Estado Natural você está, internamente, psicologicamente, livre do sentido egoico, também está livre da dualidade. Isso significa que você está livre da necessidade de buscar prazer ou fugir da dor, e essa é a beleza do Estado Natural.
Na dualidade em que você vive, há sempre essa busca de uma coisa, na tentativa de escapar de outra. Ou seja, no ego você vive querendo estabelecer o que gosta contra o que não gosta; o que você quer contra o que não quer. Assim, não existe nunca Contentamento e, portanto, não há Felicidade. O assunto aqui é a questão básica e natural da Felicidade.
É interessante quando você observa a natureza: os seres vivos não têm nenhum problema com essa questão de lidar com a dor, pois prazer e dor são inerentes à manifestação. Vemos isso na natureza, entre os animais, e hoje alguns estudos mostram que nas plantas também.
Entretanto, quando você olha para o ser humano, vê essa confusão de identificação com a mente e, dessa forma, ele está sempre traduzindo a experiência de prazer e dor do ponto de vista pessoal e particular desse falso “eu”. Assim, não existe Felicidade, não existe Contentamento. Para um homem Sábio, a aceitação da Vida como Ela se mostra, como Ela é, é Contentamento. Então, há Felicidade, porque não há busca de prazer através da fuga da dor.
O ser humano carrega um senso pessoal muito forte de realização, o que é pura vaidade, sofrimento e frustração. Vocês já se pegaram reclamando da falta de algum preenchimento de prazer na vida de vocês, dizendo: “Como sou infeliz! Dá tudo errado na minha vida!”? Somente por ter lhe faltado um prazer, que foi negado, você ficou frustrado e irritado, com muita raiva, e isso significa estar preso a essa visão equivocada da vida.
Eu tenho uma coisa para lhe dizer: você sempre vai sentir, fisicamente, prazer e dor. Contudo, você não está condenado a viver para sempre nessa dualidade da frustração, do desejo, do medo. Basta acordar! Quando você está fora dessa sensação interna de dualidade, de procura de preenchimento no prazer, lutando contra a dor, você está livre. Assim, é possível reconhecer sua Real Natureza, que é Contentamento, Felicidade; e Isso é Paz, Liberdade!
Do nascimento até a morte, você sempre terá situações de prazer e dor, e isso será determinado sempre por coisas externas. Fisicamente, você sempre vai experimentar isso, mas, internamente, pode viver livre desse senso pessoal nas experiências de prazer e dor.
O Sábio vive sua vida, do ponto de vista externo, como qualquer outro. Contudo, do ponto de vista interno, o homem Sábio está em Contentamento, em Felicidade, em Liberdade, porque ele sabe que é Deus que determina tudo o que acontece. Como não se confunde mais com o corpo, o Sábio não tem mais nenhum problema, pois não está a favor do prazer e contra a dor. Isso significa que todos os seus problemas só aparecem porque você se vê como uma “pessoa”, como uma identidade separada, “alguém” que pode controlar uma coisa livrando-se de outra.
Se o seu objetivo real é a Felicidade, esqueça a busca da felicidade e realize seu Estado Natural de não dualidade. Pare de se confundir com experiências externas, deixe-as por conta de Deus. Vou ser prático agora com você: se alguém não gosta de você, isso não é um assunto seu. Você está se envolvendo com situações completamente equivocadas! O que é assunto seu é estar livre desse “alguém” que você acredita ser, não é se importar se alguém gosta ou não de você. Eu estou lhe dando um exemplo do quanto você se importa com o que se passa do lado de fora, ignorando a Realidade do que Você É aí dentro.
Esse seu sentido do “eu” vive se importando com o que parece estar acontecendo do lado de fora. Dessa forma, você sempre será infeliz, pois você sempre tentará se proteger, se defender, se justificar, melhorar essa autoimagem. A busca de prazer é, em si mesma, dor, importância egoica. Deixe as coisas lá fora, no lugar delas. Não busque prazer nem fuja da dor, e, quando surgir um ou outro, não se confunda com a experiência, porque ela vem e vai.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 25 de Maio de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Por que a dor e o sofrimento?

O Amor é tão indefinível como o seu próprio Ser. Mas, é preciso que você não esqueça o ponto mais importante: Ele não está separado do que Você É, da Verdade sobre Você mesmo; Ele não é um ser e você outro. Ele é a Luz que não tem opostos; não é a luz que se opõe, que é contrária a escuridão.
No entanto, há uma escuridão que Ele dissipa, que é a ilusão da ignorância – essa é a única escuridão que essa Luz sem opostos faz desaparecer. Estou tratando com vocês do impossível, que é colocar em palavras Aquilo que as palavras não podem expressar: esse Incondicional Amor de Deus, que é o Amor de Deus por Si próprio.
Esse Amor é a única Luz que não conhece opostos, que não conhece a ilusão, que não conhece a ignorância, que não conhece o sofrimento. Assim como o mar não reconhece ondas, o Ser não reconhece o ego. Para o mar não há ondas pequenas ou grandes; para o mar, só há o mar. Para Deus, só há Ele mesmo.
A pergunta constantemente feita há milhares e milhares de anos, é: “Se Deus é Amor, por que tanta dor? Se Deus é Verdade, por que tanta mentira?”. É uma pergunta que parte de um pressuposto completamente equivocado, que é a existência de “alguém” separado, vendo e vivendo a dor, o sofrimento.
Sob o olhar da Verdade, o sofrimento e a dor acontecendo a uma entidade presente é uma ilusão, algo que se sustenta na “não Verdade”, na ignorância acerca Daquilo que Você É em seu Ser, em sua Natureza Real, em sua Natureza Essencial, que é a Natureza da Luz. “Vós sois a luz do mundo.” Essa Luz é Aquela que não tem opostos, o Amor incondicional, a Verdade de Deus.
Então, não surge a pergunta: “Por que dor e sofrimento?”. Essa pergunta só surge na ilusão da ignorância sobre quem de fato você é. Enquanto você estiver se confundindo com a experiência “corpo-mente-mundo” e com tudo que ela representa, a dor e o sofrimento estarão presentes. É algo que só pode permanecer devido à ilusão, à ignorância sobre quem de fato Você É.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Fortaleza, em fevereiro de 2018. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Todo o meu enfoque está em lhe mostrar o que é Real Meditação

Em Satsang, estamos trabalhando juntos essa questão da Realização. Realização é o encontro com a Verdade em nós mesmos. Aquilo que nós chamamos de mente humana tem se mostrado um extraordinário mecanismo, mas ela carrega um aspecto, dentro de seu movimento, que tem produzido aí o estado de separatividade — você e a Realidade, você e Deus, você e a Verdade.
A mente tem esse movimento caótico de pensamentos, sentimentos, emoções, percepções, assentados nessa base falsa, que é o falso “eu”, que não é você, mas se passa por você. A mente não pode ser parada. Você percebe toda a confusão dela, mas, simplesmente, não consegue pará-la; não consegue desligar, nem interromper a confusão que ela cria em sua vida. O que você chama de “sua vida” é confusão. Assim, o pensamento não pode ser parado. Isso é curioso, pois ele pode parar, mas não pode ser parado. Essa confusão pode ser interrompida, mas por Algo maior que o seu desejo de interrompê-la. Todo esse sofrimento, toda essa confusão interna pode ser interrompida, mas não por você.
É melhor colocar dessa forma: pode haver uma interrupção, mas você não pode interromper isso. O pensamento pode parar, mas você não pode pará-lo. O sofrimento pode terminar, mas você não pode fazê-lo terminar. O medo pode acabar aí, mas você não pode acabar com ele. Você é o medo, a confusão, a tagarelice interna, esse estado caótico interno, e esse “você” é a ilusão do falso “eu”. Você está muito preso a esse movimento para poder interrompê-lo; está embolado com isso. Você está identificado demais com o pensamento para poder interrompê-lo; está identificado demais com a confusão interna para poder se livrar dela; identificado demais com a imaginação para poder interromper o medo.
O seu trabalho é Acordar, porque tudo isso é o “estado de sono”, mas você não sabe que está dormindo. Isso é semelhante a estar sonhando sem saber que está sonhando. Tudo o que você busca é Amor, Paz, Liberdade, Felicidade, Verdade, mas, como está se confundindo com a mente há muito tempo, você tenta encontrar Isso dentro dela própria. Para que o Amor, a Verdade, a Liberdade, a Felicidade, Deus, seja Real aí, você tem que Acordar. Como você está “dormindo”, “sonhando”, está buscando Paz, Amor, Felicidade, Liberdade, Deus, externamente, ou seja, está buscando Isso dentro do seu “sonho”, no “estado de sono”.
Você está buscando a Paz e, simultaneamente, produzindo confusão nos relacionamentos, contra a própria Paz que você está buscando. Você quer paz, mas não quer a Paz. Você não sabe o que é Paz para poder encontrá-La, por isso que você A busca fora. Isso vale para Liberdade, Felicidade, Amor. Você não sabe o que é Amor; sabe o que é prazer, preenchimento em prazer afetivo, emocional, sentimental, mas isso não é Amor. É por isso que você busca isso nos relacionamentos e, então, quer casar, ter filhos… Você busca a felicidade em objetos. Você acredita que, quanto mais objetos conseguir, mais felicidade terá (para ter objetos você tem que ter dinheiro; quanto mais dinheiro, mais objetos; quanto mais objetos, mais conforto; quanto mais conforto, mais felicidade). Porém, conforto não é Felicidade e objeto não dá Felicidade… Nada do lado de fora, absolutamente nada, dá Isso!
Tudo do lado de fora produz prazer e dor. Amor, Paz, Liberdade, Felicidade, Deus, é algo que está dentro, não está fora. Meu trabalho com você é lhe mostrar o que Você É para si mesmo, para si mesma, porque você precisa somente estar só. Tudo o que você precisa já está presente Nisso que Você É, não está fora!
Por isso todo o meu enfoque é lhe mostrar o que é Real Meditação. Você precisa descobrir O que está presente, que já está aí... É só descobrir! Você não vai produzir, nem trazer de fora, vai só descobrir. O meu trabalho é ajudá-lo a lembrar-se de como acessar essa descoberta.
Enquanto houver qualquer forma de dependência — e dependência é estar ligado ao mundo externo que a mente produz em seu sonho, em sua fantasia, em seu desejo de se expressar — você permanecerá fora de Si mesmo, fora de sua Natureza Essencial, e não haverá Amor, Paz, Liberdade, Felicidade… Não haverá Deus! Tudo o que você nasceu para realizar é essa descoberta Daquilo que está aí, mas que não é esse corpo, essa mente, nem objetos, lugares, pessoas, coisas, imagens, ou seja, não é absolutamente nada do lado de fora.
Quando o seu Ser, sua Real Natureza, aflora, tudo continua no mesmo lugar, mas agora tudo está em um novo lugar. O que eu estou dizendo é que não é o mundo externo que tem que desaparecer, é a ilusão que a mente faz sobre o mundo externo, o que ela projeta sobre toda essa exterioridade, pessoas, coisas, lugares, objetos, sensações, percepções.
É como se houvesse um bolo com uma cobertura. Ninguém sabe do que aquele bolo foi feito, não se sabe que tipo de bolo está ali debaixo daquela cobertura, se é um bolo de laranja, cenoura ou chocolate. Na verdade, a gente nem sabe se é um bolo, pois, devido a cobertura, pode não ser um bolo real, mas algo com uma cobertura muito bonita e bastante convincente. A mente tem criado essa cobertura sobre a sua Real Natureza. Você não sabe que “bolo” é esse, porque está encantado com a cobertura. Toda sua experiência, chamada de “vida”, é sobre a “cobertura” e não sobre o “bolo”.
Então, quando você vem a Mim, eu digo: “Isso não é real”. As pessoas ficam furiosas a princípio, é verdade. Elas ficam furiosas quando eu digo: “Você é uma fraude!”. Não estou dizendo que Ela não é Real, estou dizendo que “ela” não é real; tudo que ela sabe dela mesma não é real. As pessoas vivem num constante tumulto interno, confusão interna, numa completa contrariedade dentro. Esse dentro ainda é a “cobertura”, a superfície.
Assim, digo que não existe forma de você parar isso. A mente é isso, essa confusão; ela é essa “cobertura”. Essa é uma notícia desanimadora... Não existe forma de parar essa mente. Agora tem uma outra notícia que não é tão ruim, é uma notícia boa: não há necessidade de pará-la; ela para! É possível quebrar esse modelo, esse padrão, desfazer-se disso, mas não é necessária nenhuma ação da sua parte. Olhe que interessante! Há em você um elemento capaz de romper com esse padrão, mas não é o “seu esforço”, da forma que você entende essa questão do esforço. Por isso, você não necessita tentar destruir, parar a mente.
Agora nós tocamos na questão da Real Meditação. O problema com a meditação tradicional, que as pessoas conhecem, é que ela tenta fazer com que você pare a mente, e você não precisa fazer isso. A mente pode até se esconder, mas não vai parar; ela voltará de novo. Você não necessita tentar parar a mente; ela para, mas não é você quem para. Ela para por si só quando há espaço de Consciência. Dê espaço para a Consciência e a confusão da mente desaparece!
Como é que você dá espaço para que essa mente pare por si só? Atenção! Só isso. Apenas fique atento à maluquice dela. Ela é doida ou não é? Você olha o movimento dela e, então, o sonho termina. E isso acontece porque você se desidentifica, naturalmente, da maluquice dela, da tagarelice interna dela. Não é a mente tentando parar a mente, é a observação paciente, cuidadosa, sem pressa… um profundo interesse em observar. Assim, a confusão termina, a identificação com esse pensamento maluco que você tem desaparece, porque o sonho acaba, o sono acaba ‒ Você Acorda! Quando você Acorda, não há mais mente. A mente é inconsciência, é o sonho que acontece no sono, porque não se observa a doideira. Então, o doido vai junto com a doideira, a doideira carrega o doido, mas, se há atenção, desidentificação, não tem doido, então, não tem doideira.
O que é estar Acordado? É estar desidentificado do corpo e da mente. Então, não há crenças nem padrões de condicionamento de família, cultura, política, religião. Você está em seu Ser, em sua Natureza Real, que é Inteligência, Amor, Verdade, Paz, Felicidade! Você não busca Isso; Isso se revela como a sua Natureza sempre presente.
Você não tenta controlar a mente, os desejos, o medo, a ansiedade, a egoidentidade com suas loucuras, e isso tudo vai embora. Não tente parar de pensar, de sentir, de desejar, de ter medo. Não tente nada disso, apenas traga consciência, observe. Quando você observa, consegue perceber que isso não é você, mas, sim, um impulso doido, viciado, repetitivo, mecânico, inconsciente, que surge e arrasta você. Mas, agora você pegou isso, está vendo e, como eu costumo dizer, está se desabituando de ser miserável. Você está se voltando para Deus! Numa linguagem religiosa, está se santificando, deixando de ser um problema.
O seu trabalho é Acordar! É um trabalho totalmente Seu, mas não é um trabalho “seu”. É um Trabalho da Graça, do Amor divino, dessa Consciência interna, que é o Guru.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Campos do Jordão, no Ramanashram Gualberto, em Abril de 2018. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

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