quinta-feira, 29 de março de 2018

A Vida é um acontecimento sem alguém

Você não pode fazer destas falas uma coleção de palestras, uma coleção de conversações, acreditando que, através do estudo dessa coleção, você possa vir a realizar a Verdade.
A primeira coisa, aqui, é abandonar todo tipo de fantasia, toda ilusão, inclusive a ilusão de se obter esse Estado (que não é bem um estado). Esse Estado, que em nossos tempos modernos é conhecido por Iluminação, não é algo a ser alcançado. Isso não ocorrerá em 3 meses, em 24 meses ou em 40 anos. Essa Realidade de Ser, que chamamos de Estado Natural, não é algo no tempo. Contudo, como você está “vivendo” dentro desse sonho de tempo e espaço, é preciso encarar isso, sim, como um trabalho, o qual lida com o tempo e com o espaço. Sem dúvida, o assentar nesse Estado Natural é o resultado de um trabalho.
Para alguns leva mais ou menos tempo que para outros, mas não existe nenhum método rápido. Não existe nenhum sistema ou prática que possa conduzir você até este momento, até este instante. Quando falo de Autorrealização ou deste Estado Natural, estou falando da rendição desse falso “eu”, do fim da ilusão desse falso “eu”. Assim, o único propósito – se é que podemos usar esta palavra – deste encontro é investigar a natureza ilusória do falso “eu”. Não vamos construir a Verdade através de um método ou sistema ultrarrápido. Aqui, nós estamos investigando a ilusão desse sentido de alguém presente se separando do mundo, da vida, da experiência.
Quando você era criança, ainda numa idade precoce, você era encorajado a se identificar com o personagem associado ao nome que deram a esse corpo. Começaram a chamar esse corpo por um nome e, a partir daquele momento, o cérebro associou o nome ao corpo, o que lhe deu a crença da existência de uma identidade dentro dele. Veja como é simples isso! Quando olharam para esse corpo e o chamaram de Maria, o cérebro aí associou a palavra Maria a esse corpo, e o pensamento imaginou uma entidade presente. Assim surgiu essa ilusão; a ilusão da pessoa que tem um nome. Então, tudo que começou a acontecer em volta desse mecanismo biológico parecia confirmar que aquilo estava acontecendo a Maria. Então, “Maria” estava nessa experimentação, o que é pura imaginação, uma grande mágica nesse teatro divino; e o mágico está oculto.
Há supostas entidades presentes na experiência que denominamos vida. Os personagens parecem crescer, mas não há nenhum personagem ali; há só mecanismos biológicos crescendo, apresentando certas características, habilidades e funções – algumas puramente biológicas e outras mecânicas. Tratam-se apenas de máquinas vivas, máquinas biológicas.
Você, agora mesmo, não está aqui ouvindo. Isso é só um processo, uma função, uma característica, uma habilidade mecânica e biológica dessa estrutura, para a qual inventaram um nome. Aquilo que você chama de “eu” é uma ficção. Não tem ninguém aí! Só há um mecanismo respondendo de forma fisiológica, sensorial e mecânica aos estímulos “internos” e “externos”.
Então, quando você vem parar nesse espaço chamado Satsang, é hora de acordar. Agora você compreende qual o significado da palavra “acordar”. Acordar, aqui, significa ver este jogo — não intelectualmente, mas diretamente; ver que não tem alguém presente aqui e agora. A Vida é um acontecimento sem alguém. Chega um momento em que tudo está acontecendo, mas sem a ilusão de um experimentador; isso é Iluminação! Tudo fica definitivamente assentado como Realidade, como Verdade, e você é Paz, Amor, Liberdade e Felicidade. Não há mais sofrimento, porque não há mais ilusão, não há mais sono.
Assim, se não há mais separação entre “eu e a vida”, “eu e o mundo”, “eu e Deus”, não há mais medo, não há mais passado nem futuro. Isso é o desmantelamento total de todas as falsas certezas e seguranças, de todas as crenças e condicionamentos; é o Despertar da Sabedoria, a Realização de Deus! Então, a Verdade que está presente aflora! É estranhamente familiar a clareza, a sensação, a percepção de que sempre fomos Isso!
Portanto, isso não é uma ação no tempo; é o fim do tempo! Não se preocupe com o tempo; ele é só uma preocupação do pensamento. Não há tempo para isso que Você É; não há tempo para esse desmantelamento de suas crenças, o que eu chamo de colapso da ilusão. Essa Consciência, essa Presença, esse Ser, que não é esse mecanismo com um nome, com uma história, com seu antigo modelo programado, agora está presente como Pura Inteligência, Pura Liberdade, Pura Realidade.
As características, tipo e jeito de ser de cada um não estão ligados ao Ser, à Essência. Esse Ser, que é Consciência, que é Presença, é “algo” completamente “sem jeito”. A Realidade desse Ser é indefinível, inefável, inominável, indescritível, literalmente “sem jeito”.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 22 de Janeiro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

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