sexta-feira, 30 de junho de 2017

Qual é a pior de todas as ilusões?

Nesses encontros, estamos tratando do véu que está, aparentemente, ocultando a Verdade, a Paz, essa Felicidade inerente a nós mesmos, compreendendo aquilo que poderíamos chamar de “aparente entidade separada”, que está na constante busca da paz e do fim do sofrimento. Mas, é exatamente essa busca da paz e do fim do sofrimento que mantém a existência dessa suposta entidade, dessa ilusória identidade.
Não podemos fazer como muitos, que estão simplesmente tentando ignorar essa ilusão. Você não fica livre da ilusão fechando os olhos para ela ou dizendo que ela é somente uma ilusão. Esse “falar” ou essa crença não são suficientes. Se, como uma "pessoa", nós sentimos que não temos nada para fazer, estamos apenas iludindo a nós mesmos com uma teoria Advaita. Se nos sentimos como "pessoas" e dizemos que não há nada que possa ser feito, estamos apenas enganando a nós mesmos. Não há nada que possa ser feito, que precise ser feito, quando estamos livres dessa ilusão. Entretanto, se ainda estamos presos a essa ilusão, ela ainda é bem significativa; é, ainda, bem real. Então, a pior de todas as ilusões é, estando na ilusão, acreditar estar livre da ilusão; ou seja, como "pessoas", acreditarmos que estamos iluminados.
Hoje em dia, há muitas pessoas que, por conhecerem esse assunto teoricamente, intelectualmente, por terem passado por algumas experiências de meditação, falam do fim da ilusão, como se não houvesse mais ilusão para elas. Continuam se sentindo pessoas, mas falam do fim da pessoa. Hoje em dia, temos muitos “acordados” ou “iluminados” no mundo… São "pessoas acordadas", "pessoas iluminadas". Eu tenho algo para lhe dizer: enquanto houver o sentido de "pessoa", não há real Iluminação, Despertar, Realização. Essa é a pior de todas as ilusões: estar na ilusão e não ver a ilusão – esse é o próprio trabalho da mente egoica, da mente ilusória. Estou dizendo que "pessoas" não se iluminam. Quando há Iluminação, não há "pessoa". Se, como "pessoas", nós sentimos que não há nada a fazer, estamos, de fato, em pior posição do que aquele que nunca ouviu esse ensinamento, porque estamos negando a nós mesmos e o meio real pelo qual podemos ver a maneira de nos livrarmos do nosso sofrimento.
É um belo jogo divino! Precisamos compreender – não intelectualmente, mas experimentalmente. Precisamos ver, claramente, a ignorância. Somente, então, essa sombra pode se desvanecer sob a luz da Consciência. Esse é um trabalho de entrega e queima do ego, de dissolução dessa ego-identidade, dissolução real dessa ilusão. Sem isso, ficamos apenas no terreno da crença, dos conceitos, das ideias, das palavras, o que não serve para nada, o que torna, na verdade, o ego mais orgulhoso, vaidoso, presunçoso, poderoso, porque agora ele tem um conhecimento, uma certeza intelectual, que outros não têm.
Não existe nada para ser feito e ninguém para fazer. Isso deve ser resultado desta Realização e não uma crença; deve ser uma compreensão inabalável, vivencial e não pode vir de uma confirmação externa, como uma frase lida ou uma palavra escutada de outro. Tem que ser algo direto, verdadeiro! É algo muito simples, mas não tão simples como a mente egoica tenta fazer ser, pois, dessa forma, ela é o ladrão se vestindo de policial, disfarçado de policial. A autoinvestigação, a devoção e a entrega são necessárias.
Participante: Aqueles que se enganam, pensam estar vivendo Isso. Como saber se há essa vivência ou se é um engano?
Mestre Gualberto: Você não pode saber isso no outro, mas, sim, em si mesmo. Jamais se preocupe se você pode ou não descobrir isso no outro. Repito: você tem que descobrir Isso em si mesmo. Até porque, se alguém está vivendo isso e é verdade para ele, não significa que isso seja verdade para você; e, se alguém não está vivendo isso e apenas diz que está, mas não é verdade para ele, também não altera, em nada, para você. Aqui, a questão é descobrir, por você mesmo, se Isso é real e em que nível é real aí, em você mesmo. Isso é uma honestidade de foro íntimo. Somente essa sua intimidade com a Realidade é real para você.
Todos podem dizer qualquer coisa ou podem acreditar que estão vivendo qualquer coisa. Mas, a questão é: e você? Está numa vivência real ou num engano? Se você for profundamente honesto quanto a isso, a Graça o conduzirá para aquilo que é verdadeiro. Quando você estiver diante de um Mestre verdadeiro, você saberá, pelo próprio fato de você ser verdadeiro. Se você não é suficientemente verdadeiro, ainda pode "bater cabeça" por algum tempo.
A experiência vivencial direta tem a prova da Realidade. Se alguma coisa não é experiencial e direta, é algo meramente intelectual, e isso se mostra com o tempo, porque não há legitimidade, não há verdade. Quando o fogo é real, ele queima, mas, quando não é real, é uma questão de tempo para você descobrir que ele não tem calor nem poder algum para queimar qualquer coisa. É como uma joia que parece de ouro, mas, quando chega à mão do especialista, fica claro que não é ouro. Então, torne-se especialista, aumente seu "faro". Eu chamo isso de honestidade. Assim, quando você aumenta seu “faro”, torna-se especialista e, somente em olhar para o fogo, você vê se é real ou não, se ele tem poder de queimar ou não.
Eu quero dizer que você tem, em si mesmo, esse poder de não se identificar com a mente e com o que ela cria. Então, seu "faro" fica apurado. Explore qualquer experiência, pensamento, imagem, sensação ou percepção, dessa forma. Quando nós exploramos nossas experiências assim, torna-se mais claro, mais óbvio, que essa Consciência é aquela que testemunha a experiência. Como Ela não se confunde com essa experiência, não pode ser enganada por palavras, ensinamentos, conceitos, teorias e crenças. Isso não é um assunto que se aprende com um professor. Essa não é uma matéria de intelectual compreensão.
Aqui, somente a experiência direta, não a compreensão intelectual, irá satisfazer. Quando não estamos suficientemente maduros, ficamos nessa brincadeira de palavras e na procura de conhecimento sobre Isso. Porém, quando a maturidade chega, já não nos satisfazemos com palavras, com conhecimento e com intelectualidade. Conhecimento, palavra e intelecto estão, ainda, nessa dimensão da mente egoica. A Realidade está além da mente. Assim, não há como você se perder e deixar-se enganar facilmente por conhecimento, intelectualidade e experiência emprestada. Precisamos de uma experencial compreensão, uma não intelectual compreensão.
*Transcrito de uma fala ocorrida em 28 de Março de 2017, num encontro aberto online.
Para informações sobre os encontros e instruções de como participar, clique aqui.

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