quarta-feira, 31 de maio de 2017

A Vida não carrega nenhuma história

A base para a revelação da Verdade é essa investigação sobre você mesmo, acerca de quem verdadeiramente você é. Até esse momento, você está se confundindo com a ilusão de existir alguém presente nessa experiência humana, pois você foi educado para acreditar nisso. Você se vê como uma entidade, uma pessoa, alguém presente dentro do corpo. É necessário ir além dessa ilusão!
O seu condicionamento lhe diz que você está separado, experimentando objetos separados de você. Os olhos veem coisas do lado de fora; os ouvidos escutam sons que vêm do lado de fora; o cheiro também vem do lado de fora. Ou seja, os sentidos estão voltados para o exterior, para sensações externas, e essa é a ilusão de que existe separação entre o experimentador e o que ele experimenta – o experimentador dentro e a experiência fora. Dessa forma, temos sujeito e objeto, e isso não é verdade.
Toda experiência está acontecendo sem o experimentador; é somente a experiência dessa Consciência. Sem Consciência não há experiência. É o pensamento que tem uma história para contar sobre a ilusão entre experimentador e coisa experimentada, mas o pensamento é somente uma imaginação, uma ficção, mais uma experiência, também, nessa Consciência. É bem interessante isso, algo de grande importância, porque, quando fica claro, compreendido, mesmo que intelectualmente, que não existe separação entre pensamento e pensador, coisa observada e observador, aquele que escuta e aquilo que é escutado, nós temos já uma base para não mais confiarmos nessa ilusão de que existe alguém presente.
“Alguém presente” é somente um condicionamento, uma crença. Não existe “alguém”! Por exemplo: agora, aqui, a ilusão é de que existe a separação – “nós estamos aqui e você está aí”. Assim, nós teríamos, nessa mesma sala, nesse presente momento, alguém ou alguns no Brasil, outros na Índia, outros nos Estados Unidos e outros em Singapura, o que não é verdade! Existe somente uma experiência acontecendo nesse instante, e ela é essa Consciência. Ela assume a forma, o som, o “ouvir”, a localidade (Brasil, Singapura, Estados Unidos, etc.) e assim por diante, mas é a mesma Consciência em sua expressão. Uma única Realidade presente.
Somos quarenta e dois participantes nesta sala do Paltalk e, aqui, temos mais cinco presencialmente. Contudo, não existem “pessoas” nesta sala. Não existe “alguém” falando e “outros” ouvindo. O que temos é somente a experiência em si, nela mesma. A experiência nela mesma é a Consciência, e não uma experiência para “alguém”. É a experiência nela própria, por ela própria, nela mesma. Essa experiência é pura Consciência, pura Presença. Essa é a base para o fim da dualidade, do sentido de separação. Quando não há dualidade, não há conflito, medo e sofrimento. Todo o seu problema está na ilusão de que “você” está aí, na experiência desse “alguém”, desse “mim”, desse “eu” (“eu e a minha história”, “eu e minha dor”, “eu e meus problemas”).
Portanto, a forma real de lidar com os pensamentos é não se confundir com eles. Em outras palavras, é não se ver como o pensador deles. Todo problema começa porque você acredita estar no controle, ser o responsável, mas, se observar de perto, vai perceber que os pensamentos acontecem de forma semelhante à chuva: sem qualquer controle da sua parte. Quando esses pensamentos acontecem e você acredita que são seus, você se confunde com a história que eles contam e, então, passa a existir nessa ilusão de ser alguém que tem problemas. Todos esses pensamentos giram em torno dessa autoimagem, que é aquilo que você acredita ser. É essa autoimagem que tem problemas – problemas com outras pessoas; problemas de ordem emocional, psicológica, de saúde; problemas com o passado, com o futuro… A autoimagem, esse “sentido do eu”, está lutando para mudar as coisas, o que é uma ilusão. Assim, o conflito, o sofrimento e o medo permanecem.
A Vida não carrega nenhuma história. A Vida é aquilo que se apresenta neste momento presente, neste instante. Portanto, não há pensamentos sobre o que acontece e não há passado, presente e futuro. Não há “alguém” responsável ou capaz de se ocupar com isso. Na Índia, eles chamam de Maya essa ilusão da dualidade, da separatividade, a existência de um “eu” e aquilo que acontece do lado de fora, na forma de pessoas, lugares e objetos; “eu e a minha história”; “eu, o mundo, e Deus”. Portanto, precisamos entrar fundo nisso, para soltar essa ilusão da dualidade, da separatividade – Maya.
Participante: Em novembro de 2016, uma de minhas melhores amigas se envolveu num acidente de carro e morreu no local. Ela tinha um filho de cinco anos... A pergunta é: como eu poderia vencer esse medo?
Mestre Gualberto: Não é sobre “um medo”. É preciso nos aproximarmos dessa coisa chamada medo. O medo ligado a uma situação particular, ou a qualquer outra situação, é sempre medo. Não importa do que temos medo, pois existe somente o medo. Agora, por que o medo está presente? Essa é a questão! Por que o medo está presente? Porque o sentido de separação está presente. O sentido de separação se baseia no pensamento, no que ele “diz” sobre aquilo que acontece. Repare que o pensamento acontece dentro do tempo. Ou seja, quando há espaço para tempo, há espaço para pensamento.
É quando o pensamento aparece que o medo aparece. O pensamento é a base do medo; é a base dessa separação entre esse “eu” e o perigo iminente para esse “eu”. A ilusão do “eu” sustenta a ilusão do perigo para esse “eu”, e o que sustenta isso é o pensamento. Medo é algo sempre ligado a tempo, porque é algo sempre ligado a pensamento. O pensamento sempre trata do passado ou do futuro, onde o medo é possível. Se não existe passado ou futuro, não existe pensamento e, portanto, não há medo. Então, a minha recomendação aqui é: abandone o pensamento! Abandone o “eu”! Isso é possível agora!
*Transcrito de uma fala ocorrida em 17 de Abril de 2017, num encontro aberto online.
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segunda-feira, 29 de maio de 2017

Você nasceu para descobrir que nunca nasceu

Há algo fundamental para você, para o qual você está sendo convidado nessa vida, nessa existência. Essa é a razão pela qual você está aqui, nisso que nós encaramos como vida humana, nisso que nós chamamos de vida, nesse mundo. Você está aqui para uma única coisa: Felicidade! Apenas para isso! Felicidade é possível, é a única possibilidade real nesse mundo. Contudo, só é possível quando você está além dele. Enquanto sua visão for a visão comum, a visão de todos à sua volta, você estará numa interpretação equivocada daquilo que você está presenciando.
Essa existência é somente um show, mas um show que você não pode apreciar quando é cego. Você precisa de olhos para assistir a esse show, e a mente egoica veda tudo. A mente egoica coloca uma “cortina” entre você e a Realidade. Curiosamente, essa Realidade última é Você, mas a mente é a cegueira, e isso lhe incapacita de assistir a esse show. É isso que significa ser miserável, ser sofredor.
Você está aqui para acordar, o que significa poder assistir ao show e nunca mais estar na escuridão. A palavra Guru, na Índia, significa “Aquele que o faz perceber a Luz”, “Aquele que abre seus olhos”, “Aquele que tira você da escuridão”. O Guru é aquele que lhe dá olhos para ver, ouvidos para ouvir e coração para sentir a beleza desse show.
O que me traz aqui é a Compaixão, que significa esse movimento misterioso de alegria de poder assistir a tudo isso e compartilhar. O que traz você aqui é algo aí dentro que diz que a vida não pode ser só isso: nascer, crescer, virar um rapazinho ou uma mocinha, arrumar um namorado ou uma namorada, ficar noivo, casar, ter três, quatro, meia dúzia de filhos, criá-los, dar-lhes uma educação formal para que eles ganhem dinheiro e façam o mesmo que você fez… Depois esses filhos também casam, têm filhos, e você se torna avó ou avô, quando, então, já está com muitas rugas no rosto e caminhando para o túmulo.
Há algo em você que diz que a vida não é somente isso. Em meio a todo esse processo, há um profundo descontentamento, uma insatisfação, um medo, um vazio existencial e uma procura constante de preenchê-lo com coisas, viagens, entretenimentos e toda forma de prazer. Há algo dentro de você que sinaliza que deve haver algo maior que tudo isso. Esse “algo maior” é o que chamei de “show”. Na Índia, eles chamam de lila, a brincadeira divina, a brincadeira de Deus.
Identificado com a mente egoica, nesse sentido de separatividade, você está cego! Não pode desfrutar desse show, não pode enxergar essa brincadeira divina, não pode ver que tudo isso é apenas um sonho… um sonho divino, um sonho de Deus. Portanto, o que o traz aqui é que há em você uma insatisfação, um vazio, que nada do lado de fora pode preencher.
Você está aqui para desfrutar desse show. Há uma profunda e indescritível alegria em desfrutar desse show. Felicidade é o seu estado natural de ser: Silêncio! Felicidade é o seu estado natural de ser: Liberdade! Felicidade é o seu estado natural de ser: Consciência! Quando não há mais ego, não há mais sofrimento. O sofrimento está presente quando o conflito está presente, o qual está presente na “cegueira”, quando há escuridão. O conflito está presente quando há separação entre você e Deus. Quando há esse véu, há a ilusão do sentido de separatividade, e, então, há medo. Nessa separação, o conflito; no conflito, esse sofrimento.
Você está procurando por alguma coisa… nas coisas! E “alguma coisa” não está nas coisas! Essa “alguma coisa” que você procura está além do conhecido, além do tempo, além da mente. Em outras palavras, isso está além de relacionamentos. Você jamais vai encontrar o desconhecido no conhecido. O outro, as coisas e os lugares são o conhecido. Você não vai encontrar Felicidade, Paz, Liberdade e Amor no outro, nem em coisas e lugares do lado de fora. Só a mente separatista conhece esse lado de fora. Isso é parte dela. Sua Natureza Real é o desconhecido. Sua Natureza Real está além de tudo que está aparecendo do lado de fora. Só a mente procura o que é conhecido. Seu Ser não está buscando nada, não está procurando nada, não confia em nada, não aceita absolutamente nada como sendo real. Seu Ser está pronto, completo… Puro Amor, pura Felicidade, pura Liberdade, pura Sabedoria! O seu Ser é essa não conceitual Consciência, algo além do tempo, além do conhecido, além do corpo, da mente, dos objetos, das experiências, das sensações… além desse “mim” e desse “outro”!
Há um incondicional Amor autorrefulgente por detrás dos seus olhos. Seu Ser é autorrefulgente! Não há nada além Dele! Sua mente egoica está agarrada ao conhecido. Toda sua experiência de vida, nessa cegueira, está ligada a pessoas, objetos e lugares. É isso que o seu pensamento produz todos os dias. Sempre isso! O tempo todo! A sua mente está sempre ocupada, fazendo um barulho inacreditável. Ela é muito barulhenta e está sempre girando em torno de pessoas, coisas, lugares e da realização de um “eu” pessoal, nesse contato com objetivos, desejos, intenções, motivações… Tudo baseado em exterioridades. Dessa forma, você se mantém sempre pobre, miserável, dependendo de pessoas, objetos e coisas.
Seu Ser é autorrefulgente, carrega um brilho próprio e natural, atemporal. Pura Liberdade! A mente, condicionada a esse modelo comum, uma presa capturada por maya, pela ilusão, não consegue ver esse jogo, essa lila, essa brincadeira divina, esse show. Portanto, você está aqui para uma única coisa: desfrutar do Divino, desfrutar de Si mesmo, porque Você é o Divino – a criança brincando nessa manifestação. Na Índia, eles têm um nome para aquele que está, conscientemente, dentro desse jogo, dessa brincadeira, desse sonho. Eles chamam de Bhagavan. É aquele que não sofre, que vive como um Jivamukti; aquele que está liberto em vida!
Você é essa Presença, essa Consciência, esse Incondicional Amor, essa Liberdade, essa Felicidade… Não há absolutamente nada fora isso em você. Qualquer coisa fora isso, não é você, é parte da ilusão da separatividade. Você não é medo, desejo, depressão, mágoa, ansiedade, ressentimento, ciúmes, inveja… e por aí vai. É uma lista enorme! Você não é sentimentos negativos nem positivos. Você está além de tudo isso! Não tem alguém como você, porque não tem alguém aí. Você não é um ser único, você é o único Ser. Não sei se percebem a diferença… Você é o único Ser! Você é O que Eu sou, O que Ele é. Você é Tudo! Você é Nada!
Estar iluminado não é ver tudo iluminado, é só ser a Luz de tudo. Isso é Felicidade! Isso é estar além do nascimento e da morte! Isso é Consciência, Atemporalidade, Meditação! Você, em seu Estado Natural, é Meditação. Nada de se sentar de pernas cruzadas, cantar mantras, respirar de uma certa forma – isso não é Meditação, é prática de meditação. Meditação é o Estado Natural, fora do tempo. Não tem nada a ver com uma prática ou com silenciar o pensamento.
Este instante, agora mesmo, é Meditação, quando não há separação; quando não há “eu e você”; quando não há “eu e o pensamento”. O pensamento não é o problema. Os objetos são aparições e, também, não são problemas. Não há problemas!
Quando nos encontramos, o fazemos para você assumir Isso: a Verdade sobre quem Você é! Chega de histórias, crenças, condicionamentos, conceitos sociais, cultura, conhecimento… Podemos jogar tudo isso fora! Não serve! Aqui, a gente desaprende tudo. Você precisa desaprender tudo! Todo esse conteúdo não serve para nada! Vamos incinerar isso, colocar fogo nessas coisas. Você precisa apenas Ser… simples, natural, real. Dessa forma, o “fogo” está presente e você é Deus em sua brincadeira, brincando consigo mesmo! Pura Alegria!
Você nasceu para descobrir que nunca nasceu e, portanto, não pode morrer, não pode sofrer! Você não está nesse mundo! Esse mundo, esse show, essa brincadeira divina, é que está em você!
*Transcrito de uma fala ocorrida em 12 de Abril de 2017, num encontro aberto online.
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sexta-feira, 26 de maio de 2017

Liberdade é assumir a Verdade de sua Real Natureza

Nesses encontros, nós temos a oportunidade de nos sentarmos juntos, de nos aquietarmos e entrarmos nesse momento de investigação, nesse momento de silêncio.
É fundamental compreender que a vida é um jogo. Na verdade, uma brincadeira divina. Só resta a você desidentificar-se internamente, psicologicamente, e tudo ficará bem. Estou dizendo que você precisa deixar a vida seguir e apenas permitir que tudo seja visto dessa forma.
Não há nada o que fazer! Tudo já está acontecendo! Tudo já está acontecendo segundo essa Vontade Divina! Aquilo que prevalece na sua vida é essa Vontade Divina, que é aquilo que acontece.
Permita cada coisa acontecer, cada coisa aparecer… Aparecer como é! É importante que você lembre que os pensamentos também fazem parte disso; os sentimentos também. Você também é parte disso que está aparecendo. Não tem nada fugindo dessa Vontade Divina! Isso pode soar muito estranho, mas é assim. Essas respostas de ações, pensamentos, sentimentos, tudo isso é parte dessa aparição, disso que está aparecendo. Quando você não se confunde mais como "alguém presente" nessas aparições, você está livre! Você é essa Liberdade! Os problemas aparecem apenas quando você se confunde com a crença de ser “alguém”, que tem que assumir responsabilidades, nessa ideia de ser o autor, o realizador, o fazedor, aquele que escolhe, aquele que decide, aquele que manda.
Não existe nenhum indivíduo cuidando dos seus próprios assuntos. O que prevalece é essa Inteligência, essa absoluta Presença, Aquilo que não pode ser explicado. O que prevalece é esse Silêncio. Todos estão preocupados em se livrar da mente – isso é a mente procurando se livrar da mente. Todos estão tentando, de uma forma muito dura, muito complicada, se livrar da mente. A forma mais rápida é simplesmente perguntar: “Para quem esses pensamentos estão acontecendo?" ou “De onde esses pensamentos vêm?”. Então, nós chegamos a um ponto onde não há alguém… Porque não há alguém! Os pensamentos, os sentimentos, as sensações e as emoções são aparições sem um autor. Isso é Liberdade! Liberdade é assumir a Verdade de sua Real Natureza, de sua Real Identidade, que não é pessoal. Não há “pessoa”, não existe o “eu”!
Isso é muito básico… Muito estranho, mas básico. É estranho e básico, mas fundamental! Essa percepção direta Disso, sentir Isso de uma forma direta, é lindo demais! Quando você usa palavras, você destrói Isso, porque Isso está além das palavras, além dos pensamentos. Palavras como “despertar”, “iluminação”, “realização”, também são apenas palavras.
*Transcrito de uma fala ocorrida em 14 de Novembro de 2016, num encontro aberto online.
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quarta-feira, 24 de maio de 2017

Deus é a única Verdade sobre Você!

O que fazemos juntos nesses encontros? Estamos nos aproximando de uma investigação acerca de quem nós verdadeiramente somos. É importante que você compreenda algo básico aqui nesse encontro chamado Satsang, que significa “encontro com O que é”, "encontro com a Realidade, com a Verdade". Aqui, a primeira coisa é a compreensão de que você não é os seus pensamentos. Essa é a primeira coisa a ser compreendida e precisamos ter isso muito claro. Você não é os seus pensamentos! Isso significa que qualquer ideia que você tenha sobre si mesmo não é você, ou seja, seu nome não é você; seu corpo não é você; sua mente não é você. É interessante falarmos do corpo e da mente nessa investigação.
Primeiro, o seu corpo não é bem seu. A natureza lhe emprestou temporariamente um mecanismo, com um par de olhos e de ouvidos, uma única boca e um único nariz, um par de pernas, braços e mãos. Esse corpo, você sabe, é todo ele uma herança, algo que você herdou dos seus antepassados. Portanto, ele não é seu. Da mesma forma, o que você chama de mente é somente um condicionamento cultural. A língua portuguesa, ou inglesa, ou alemã, é uma coisa aprendida, de acordo com a cultura do lugar em que você nasceu. Se você fala tâmil, português, inglês ou alemão, é porque esse corpo nasceu dentro dessa cultura.
Os pensamentos que passam em sua cabeça são, também, culturais. Um pensamento político, social, as ideologias, as crenças religiosas, tudo isso faz parte de um condicionamento cultural. Alguns pensamentos são bons, outros são ruins; alguns pensamentos são para o bem e outros são para o mal. Repare que você pode observar esses pensamentos, essas ideologias, crenças políticas, sociais… Ou seja, você pode observar tudo que lhe foi ensinado. É possível uma observação daquilo que se passa tanto no corpo quanto na mente. Então, você não é o corpo e nem é a mente. Da mesma forma, você pode observar sentimentos, sensações, emoções, percepções, e, se tudo isso pode ser observado, trata-se de algo externo, ainda do lado de fora. Se isso pode ser testemunhado, não é você. Então, tanto o que se passa “dentro” ou “fora”, ainda é algo externo a Você; não é Você.
No entanto, isso tem criado uma ilusão, na qual você tem colocado toda a sua vida, a sua existência – a ilusão de que isso é algo pessoal, algo seu, tão íntimo que você se confunde com ele, acreditando ser isso. Então, você se confunde com os pensamentos, como se eles fossem você. Esses pensamentos são tomados, aí, como sendo você mesmo. Quando você fala, a ilusão é que essa fala é você. Quando o pensamento acontece aí, a ilusão é que você está pensando, que esse pensamento é seu. Assim, quando acontece um sentimento, isso “é você”. Da mesma forma, “é sua” uma sensação, uma percepção, uma emoção. Isso está acontecendo ao corpo e à mente e você se confunde com o corpo e dá uma identidade a esse movimento da mente. Estar se confundindo assim nós chamamos de “estar identificado”, e esse é o estado comum a todos, é o condicionamento que tem criado a ilusão de uma identidade presente em tudo isso, pensando, sentindo, amando, odiando, triste, alegre, saudável, doente… É assim que você se confunde com o corpo.
Pergunta: O que é esse Despertar, essa Realização, essa Iluminação?
Mestre Gualberto: A iluminação é o fim dessa ilusão de uma entidade presente na experiência desse instante, seja qual for a experiência. Não se trata de alguém presente aqui e agora, mas é exatamente o fim dessa ilusão de que existe uma entidade presente nesse instante, nesse momento. Trabalhar isso é a real Meditação.
Meditação é a arte de Ser, mas Ser não significa estar presente como “alguém”. Ser significa o fim dessa ilusão de uma identidade separada, da ilusão de um “eu”, desse “mim”, dessa “pessoa” com sua cultura, história, seus sentimentos, suas sensações, emoções e percepções. Estamos aqui fazendo algumas afirmações que podem ser testificadas por você mesmo. A Realização não requer nenhuma crença. Aquilo que chamamos de Realização é algo que pode ser verificado como sendo sua Verdadeira Natureza, o seu Ser Real.
Portanto, estar em Satsang significa estar nesse encontro com a Realidade, com a Verdade de sua Natureza Real. Isso é o fim do sofrimento, do conflito e do medo. Esse é o Despertar da Sabedoria! Autoconhecimento não é o conhecimento de um “eu”, mas sim o reconhecimento da Verdade de que não há qualquer “eu” para ser conhecido, e isso é o Despertar da Sabedoria. Quando há autoconhecimento, está presente essa Autorrealização, o Despertar da Sabedoria, e, assim, você está além da limitação, que é a limitação da cultura, de toda forma de condicionamento, do conhecimento e da experiência. Você nasceu para realizar Isso! Você nasceu para a Realização de Deus!
Deus é a única Verdade sobre Você! Deus é a única Realidade, e onde há Deus, não há conflito, medo e sofrimento; não há nascimento ou morte. Assim, é fundamental realizar Isso, O que Você é. Isso não tem nada a ver com qualquer realização externa. Não importa o que você já realizou ou pretende realizar externamente. Sem essa Realização da Verdade sobre você mesmo, toda e qualquer realização do lado de fora não significa absolutamente nada. A única coisa que realmente vale a pena, que realmente importa, é realizar Deus! Você nasceu apenas para Isso! Essa Realização de Deus é a Realização da Felicidade!
*Transcrito de uma fala ocorrida em 24 de Abril de 2017, num encontro aberto online.
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sexta-feira, 19 de maio de 2017

O que você veio fazer aqui?

O que geralmente esperamos quando vamos a um encontro, a uma palestra, a uma conferência? Quando vamos a um desses lugares, vamos com a intenção de descobrir alguma coisa que possa funcionar para nossa vida, para que possamos acertá-la, colocá-la numa direção. Mas, olhem para vocês… Há muito tempo já fazem isso! Se não estão numa conferência presencialmente, estão "acompanhados" de algum livro novo. É como aquele que procura uma receita para um novo prato. É assim que tem sido.
Então, vocês não só trocam de palestrante, mas, também, de guru, como você que já está vindo de outro para cá, não é? Daqui você vai para um próximo. Vocês ficam assim: trocando de livro, de guru, de palestrante… Não dá para trocar de mulher tão facilmente, por não ser tão simples, mas alguns até trocam. Trocar de filho também fica mais difícil, mas mudam de casa, de emprego, de guru, de religião, de médico… querendo algo que funcione. Parece até razoável essa mudança. Em alguns aspectos, é aceitável ou tolerável, mas quando falamos da Realização de Deus, da Realização da Liberdade, da Felicidade, da Realização da Sabedoria, isso não se aplica.
Você não precisa de mais conhecimento, de mais experiência, de melhor comportamento, de melhores ações, hábitos, ou adquirir novas virtudes e liberar-se de antigos vícios. O que você precisa aqui é render o ego, mas ele não vai fazer isso. Por que as pessoas amam ouvir palestras ou recitar poesias? Porque é algo inofensivo, não vai atingi-las. É assim quando você lê um livro, uma poesia, ou quando assiste a uma palestra, pois você está diante de algo impessoal.
Por que vocês não fazem a pergunta correta? Qual é a pergunta correta? Quem está interessado na pergunta correta? Se tivessem interesse na pergunta correta, estariam formulando-a para si mesmos. Autoajuda, terapias, ensinos espirituais, práticas espiritualistas, nada disso resolve. O que resolve é o abandono da ilusão, daquilo que tem produzido todo o medo, o qual se reflete em todo tipo de comportamento – desonestidade, insinceridade e descaso com o que é, com a Verdade, com o que se apresenta. Vocês não querem ver o que se apresenta. Não estão dispostos a fazer a pergunta correta, porque não querem ver o que está, de fato, mantendo essa ego-identidade. Basta uma ligeira aproximação disso e vocês correm, pois tudo o que os fere, magoa, ofende, aborrece, entristece, chateia, não dá prazer e não preenche emocionalmente, psicologicamente, fisicamente, então vocês rechaçam, jogam fora, vão atrás de outra coisa. São centenas, milhares de exemplos que se apresentam para mim no dia a dia. O que falam, escrevem, como se comportam, o que exigem de si mesmos, o que exigem de mim, o que exigem da vida, mostra-me claramente isso.
Não é a Verdade, é o consolo; não é o que é, mas sim o que você quer que seja; não é a vida como ela se mostra, é o que você projeta como um ideal de vida para esse “mim”, para esse “sentido do eu” – é nisso que você está interessado. Nós vemos toda essa confusão, essa coisa cômica e dramática no mundo, porque o mundo é uma extensão maior da sua vida particular: tem confusão dentro, há confusão fora. Na sustentação da imagem de si mesmo não há Liberdade, Consciência, Verdade e, assim, não há Paz, Amor, Felicidade.
A minha pergunta é: o que você veio fazer aqui? Você não está aqui para aprender algo comigo. Você está aqui para descobrir o que você é, mas isso não é possível – como se acredita por aí – ouvindo falas, palestras, escutando um especialista que sabe algo que você não sabe, que vai lhe comunicar algo que você não conhece, afirmar e confirmar palavras nas quais você acredita, porque já leu isso em algum livro.
Conhecer a si mesmo não é algo acrescentado a você. É algo presente no instante em que o sentido de separação cai. Não é uma teoria, um conceito ou algo que você aprendeu. Conhecer a si mesmo significa estar fora do sentido egoico, do sentido de ego-identidade. Assim, o conhecimento sobre Isso não é Isso. A Realização da Verdade sobre si mesmo não é uma teoria, é algo que se evidencia no viver, na vivência direta. Escritos, falas, poemas, recitações, nada disso é real aqui, no fim desse sentido de dualidade, de separação.
Portanto, não se trata de acrescentar a você alguma coisa que você não tenha, mas sim de soltar a ilusão que você carrega sobre quem é você. Isso não se aprende! Isso é como cavar um buraco e encontrar um baú antigo, debaixo da terra, cheio de moedas de ouro. Houve um trabalho e o encontro de algo, mas você não aprendeu nada. A Realização é assim. Esse baú já está lá, cheio de moedas de ouro, mas requer um trabalho [para encontrá-lo]. Se acontece o trabalho, acontece o encontro, mas ficar ouvindo sobre um pedaço de terra, onde há um baú enterrado, não vai resolver. Portanto, não adianta ficar ouvindo sobre o Estado livre do ego, da dualidade, sobre Beatitude do Ser, Consciência e Verdade.
Então, o que significa cavar esse buraco? O que significa desenterrar esse baú? Você é vaidoso, orgulhoso? Tem medo de ser magoado, ofendido? Tem medo da mulher, do marido, dos filhos? Tem medo de adoecer, de envelhecer? Tem medo de morrer? Tem medo da crítica, de ser ridicularizado? Tem inveja, ciúmes? Você tem coisas? É dono de quê? Onde está o “sentido do eu” nessa experiência que você chama de “minha vida”? É isso que tem que ser desenterrado! Compreendem o que eu quero dizer? Você tem inimigos? Tem amigos? Tem pessoas de quem você gosta e outras de quem não gosta? Estamos falando de desenterrar isso. Está vendo como é prático? Não tem nada a ver com teorias! O que se passa na sua cabeça? Quais os pensamentos que predominam aí? É de aquisição material? É com a imagem de alguém poderoso? O que predomina? Com o que a sua mente se ocupa? Com o que você se ocupa, psicologicamente, na maior parte do tempo? É com o futuro? É com o passado? Está vendo o que é "cavar"?
Sua vida gira em torno de quê? Família, como mulher, filhos, netos? O que se passa aí dentro? Do que você depende? De atenção, prestígio, reconhecimento do outro? O que você teme? O que, se lhe faltasse agora, faria você entrar em desespero? Qual ente querido lhe faria falta se morresse hoje? Quem é importante para você? Qual é a pessoa mais importante na sua vida? Compreendem o que eu chamo de "cavar"? Isso não é uma coisa para aprender! Todo esse blá-blá-blá Advaita, ou Neo-Advaita, que está por aí, não serve para nada. Na verdade, isso pode envaidecê-lo mais ainda, porque agora “você tem um conhecimento que outros não têm", "sabe o que outros não sabem". Pode até escrever livros, recitar poemas, fazer vídeos e palestras sobre isso.
Compreendem? O ego se tornou mais poderoso ainda! Para si mesmo, é claro. O ego só é uma realidade para si mesmo. É nele mesmo, na autoimagem, que ele se sente mais poderoso. Pura vaidade! Tudo isso você faz por medo. Você tem medo de ver a futilidade, a inutilidade que é esse “sentido do eu”, a estupidez que é carregá-lo. Então, você está sempre tentando preencher isso com alguma coisa, como agora, com o conhecimento espiritual ou Advaita ou Neo-Advaita. Por isso que você se mete em todo tipo de prática, de ensinamento, de conhecimento, de experiência.
Está claro isso? Está difícil acompanhar? Onde você encontra esse "baú", então? Como você o "desenterra"? É sendo alguma coisa ou descobrindo que não há nada? Não há nada em lugar algum! Não há nada em parte alguma! Então, o que é que você veio fazer aqui?
*Transcrito de uma fala ocorrida em Março de 2017, num encontro presencial, na cidade de João Pessoa/PB.
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terça-feira, 16 de maio de 2017

A única Realidade presente é essa Consciência

Satsang é um momento precioso, porque é um momento onde estamos investigando a natureza da Realidade, a natureza da Verdade; um momento dedicado a essa investigação. A palavra Satsang significa próximo da Verdade, na proximidade da Verdade, em companhia da Verdade. É o que nós temos dentro desses encontros.
O pensamento comum é o pensamento dual, é o pensamento da dualidade, em posição de dualismo. Nessa posição, há um vasto espaço, onde aparecem o sujeito e os objetos. No conceito comum, temos a mente, o corpo e um mundo cheio de objetos – a mente aparecendo dentro do corpo e os objetos aparecendo dentro do mundo. Essa é a forma comum de lidarmos com a Realidade, uma forma ilusória de tratarmos com o que É.
Isso acontece em razão de uma falta de investigação correta, de forma profunda. Se você entrar fundo nessa experiência “mente-corpo-mundo”, você descobrirá que não há essa separação, ou, simplesmente, que o corpo, a mente e o mundo são só aparições nesta única Presença, a qual não se divide, não se separa entre sujeito e objeto. Essa única Presença aparece como essas aparições, mas está além delas. Se o seu interesse real é ir além da dualidade, além do sentido de separação, e, portanto, além do conflito, além do sofrimento, você precisa descobrir a Natureza Real das experiências, dessas aparições. É isso que fazemos em Satsang!
Esse sentido de separação entre sujeito e objeto é uma ilusão. Isso não é real! O pensamento formula isso e dá realidade a essa ilusão, mas ele também é só uma aparição, dentre outras, e todas essas aparições estão surgindo, aparecendo, nessa Realidade, nessa Presença, nessa Verdade, nessa Consciência.
Todo problema, conflito, sofrimento e confusão estão dentro dessa dualidade. Quando não há dualidade, não há conflito, não há sofrimento, tudo está no lugar. Não existe a ilusão de um personagem defendendo e tentando sustentar, segurar, manter coisas. Esse personagem não é importante… Ele nem aparece! Ele só “aparece” dentro dessa ilusão.
Todas as aparições surgem como sensações, percepções, pensamentos, e todas são feitas desta única Consciência, desta única Presença, sem separação. Só há esta Presença, só há esta Realidade e Ela é não dual. Apenas o pensamento está criando a ideia de um mundo do lado de fora e de alguém dentro do corpo, que é essa “pessoa” que você acredita ser. Não tem “alguém” aí! É só uma crença, uma ideia, uma imaginação. Tudo está sendo construído pela imaginação! Toda essa dualidade, e, portanto, todos os problemas da sua vida – nessa ideia de que você tem uma vida pessoal, própria, particular – são, também, só uma imaginação.
Se você olhar com aproximação real, você vai descobrir que a nossa primária experiência é essa Consciência. Só existe Ela!
É essa Consciência que toma forma de mente, corpo, mundo, pensamentos, sensações e todas as aparições. A única Realidade presente é essa Consciência, é este Silêncio, é Aquilo que está além da ilusão da dualidade, além da ilusão da separação, além de todo conflito, sofrimento e medo.
A natureza da Felicidade é você em seu Estado Natural, em que não há dualidade, não há o “eu”, o sentido de “alguém”. A questão é que vocês estão muito agarrados a essa ilusão, tentando manter a história dessa suposta entidade, só porque ela se vê cercada de coisas particulares, pessoas, lugares e objetos. Vocês estão viciados nessa crença e não estão dispostos a soltá-la, por isso é que dá um pouco de trabalho. Não é isso mesmo? Ou você tem alguma outra explicação do porquê disso acontecer dessa forma? Você está apegado à história de namorado, de esposo, de filho, de avó, de mãe, de sobrinha, de tia… Você está agarrado a essa responsabilidade. Uma coisa engendrada, criada, pelo pensamento. Não é isso? Você não quer deixar isso explodir.
É linda a compreensão disso! É de uma grande beleza a compreensão disso! Tremendamente libertadora! Mas você precisa assumir essa Liberdade ou, então, viverá estressado. Aliás, o estresse só é possível quando há essa vinculação com essas imagens, com essas histórias que você não quer soltar. Dessa forma, você está presente na experiência do estresse, da ansiedade, da depressão… Tudo criado pela imaginação de um suposto pensador dentro da sua cabeça, de alguém que quer ser responsável por tudo, que quer mudar o rumo das coisas, que quer consertar o que está errado. Como se houvesse alguma coisa errada! Como se você tivesse qualquer poder de fazer alguma coisa! É muito engraçado isso! É ridículo, estúpido e engraçado o modo como o ego se comporta. O ego é essa estupidez mesmo! Não tem conserto!
Os terapeutas estão tentando melhorar isso. Eles têm um trabalho incrível, um trabalho “danado”, uma coisa como enxugar gelo. Os psiquiatras, os psicólogos, os terapeutas, os conselheiros matrimoniais, enfim, toda essa gente de boa intenção, todo esse pessoal bem-intencionado, está tentando, mas não está dando certo, não! Contudo, nós podemos descobrir o verdadeiro Silêncio, esta Realidade presente.
*Transcrito de uma fala ocorrida em 20 de Fevereiro de 2017, num encontro aberto online.
Para informações sobre os encontros e instruções de como participar, clique aqui.

domingo, 14 de maio de 2017

Qual é o meu segredo?

Em Satsang, estamos tratando do final do tempo, da história, do pensamento, do passado, do futuro, da noção de estar presente. O que traz você a Satsang é a sensação de que há algo maior do que a “pessoa” na experiência de viver. Há algo maior do que a experiência de ser alguém vivendo seus dias, para depois ter uma história para contar, um livro para escrever, coisas para dizer.
O meu enfoque é nesta Presença, onde nós somos o que somos. Nesta Presença, nesta tarde, o sol brilha, o seu coração brilha também, e você é o que é. Não há tempo, não há história, não há o “eu”. Há somente Consciência aqui e agora, sem revolução, sem guerra, sem luta, sem dor.
Quando eu olho para você, eu vejo a mesma Luz que brilha em meu coração, o Brilho de Deus, a Luz de Deus! Um dia, Jesus Cristo disse: “Você é a Luz do mundo!”. Brilhe sua Luz! Neste momento, neste encontro, só há Deus! Não há você, não há história, não há ninguém! Eu quero que todos vocês relaxem nisso.
O ego é o seu problema; os seus pensamentos são os seus problemas. Pare com os seus pensamentos! Não pense! Permaneça na contemplação da Luz do Sol, neste momento. Todo momento é este momento, e somente nele Deus está. Eu sou Deus, você é Deus! Não pense sobre a “pessoa”. Não há “pessoa”! Para mim, não há “pessoa”, só há Deus! Em seus olhos há Deus! Deus em todo lugar! O tempo todo, eu sinto Deus, porque eu sou Deus! Em minha vida, não há medo, não há problema, não há sofrimento. Bem-vindo a Satsang – este encontro com a Verdade. A Verdade é Beleza! Deus é uma linda menina! Eu quero ficar aqui… Eu preciso ficar aqui onde Deus está! Eu não quero me mover! Eu não preciso me mover, porque eu posso permanecer sem ego, sem pensamentos sobre o que acontece. Meu segredo é o Silêncio da Meditação.
Tudo que eu posso mostrar a você é como viver assim, e Isso é possível a todos! A Felicidade não é a realização de alguém; a Felicidade é a Realização da ausência de alguém. Todo o problema que você tem comigo é esse: você quer afirmar uma crença e me convencer de que ela é real. Eu me sinto como alguém que entra no museu de cera e encontra muitos personagens da história humana: Stalin, Hitler, Mussolini, Tibério César… Na sessão dos filósofos, eu encontro Descartes, Spinoza, Sócrates, Aristóteles, Platão… Tanta gente bonita, em suas roupas elegantes… mas são apenas bonecos de cera. Quando eu escuto você falar comigo, você está sempre falando da história. Só sabe me contar história! Quer me convencer que você é de verdade. Como pode encontrar a Felicidade de ser O que É, se você se confunde com uma história que está sendo contada? O corpo está contando uma história; a mente está contando uma história; a sociedade, a cultura, o conjunto de situações e circunstâncias estão contando uma história; e você, convencido disso, quer me contar essa história.
Compreende? Não tem ninguém! Você não é uma história, mas assumiu um nome, uma profissão, um personagem – “algo feito de cera”. Este é o sentido do “eu” na experiência que você chama de vida. Compreende o que eu quero dizer? É um drama, uma tempestade com vendaval, relâmpagos, trovões e muita água, mas eu vejo que é só um copo d'água produzindo isso. Você pode fazer uma tempestade com um copo d'água! Oh, criança… Que “tempestade”!
Sabe o que você está fazendo? Você está dando continuidade a isso, perpetuando a história do museu. Você está chamando muita atenção! Todos os dias recebendo visitações e sendo apreciado como “alguém”… Alguém com seus trajes típicos, vestido e investido de uma história, tendo o tempo como o fator mais importante. Isso só porque você pensa, ou acredita pensar, sobre coisas, pessoas, lugares e situações; só porque passa um pensamento aí dentro da cabeça dizendo coisas e você acredita nele.
Quando esses pensamentos se tornam demasiadamente persistentes e não largam você, você fica obcecado por isso. Não basta só o que todos têm como senso comum, o pensamento vai mais longe. Ele cria particularidades, as quais fazem de você alguém que a ciência médica, psicológica, chama de “paciente”. Só porque algumas crenças são muito fixas, bastante persistentes, eles chamam isso de patologia. O pensamento é uma coisa incrível! E lá vai você viajando nessa imaginação, naquilo que o pensamento sabe produzir muito bem, só porque não assume a Verdade sobre si mesmo; só porque você valoriza o que todos valorizam. O que é que você valoriza tanto? Crenças, conceitos, teorias, ideias, pensamentos sobre como deve ser o mundo, sobre como deve ser a vida – a “sua” e a “dos outros”, como se houvesse outros à sua volta.
Tudo é uma grande fraude, um museu de cera! Se você não encontra Hitler, ou um dos personagens aqui do Nordeste, como Lampião ou Maria Bonita, você encontra o seu namorado, seu marido, seu filho… Não muda muito, não! São todos personagens neste museu de cera, no qual você também se vê como alguém. Então, este instante de encontro com esse entardecer é desprezado. Este momento único, sem separação entre esse sol e você, é desprezado. Aquilo que está aqui e agora é desprezado, para ser valorizada a história que o pensamento constrói sobre o que aparece, sobre o que acontece. Então, você está dentro de um museu, onde tudo que você vê é história, e toda ela é imaginária, criada pelo pensamento, construída de cera. Você chama isso de vida! A vida está presente agora, quando não há história, quando não há cera, quando não há personagens. Faz sentido isso? Dá para acompanhar? Sobre o que eu estou falando, gente?
Participante: Sobre a mentira da vida pessoal. A mentira de ser alguém para alguns, que ajudam a manter essa identidade, que nos valorizam ou desvalorizam.
Mestre Gualberto: Isso! E isso é o quê? Isso é tempo, imaginação! Isso o afasta de Deus! Deus é sinônimo para o que acontece aqui e agora, sem “alguém”, sem interpretação, sem o desejo de alterar, mudar, lutar contra isso. Sem história, só há Felicidade! Você precisa do pensamento para estar no mundo como “alguém”. Agora mesmo, vá para sua casa. Precisou do pensamento ou não? Você precisa do pensamento para ir para a sala da sua casa, diante da televisão, para aquele móvel à direita da televisão, para a porta de entrada do seu apartamento… Agora vá para o seu quarto. Vá para a cama. Agora para o escritório, para o consultório, para a fábrica… Vá para dentro do seu carro. Agora você tem um carro, tem uma casa, tem um escritório, um consultório… Agora vá ver seu filho, sua filha, seu marido, sua esposa…
Você precisa do pensamento para ser alguém no mundo. O mundo se lembra de que você é alguém e o chama. É o pensamento que constrói o seu mundo; é o pensamento que constrói a avó, a mãe, o pai, o filho… É o pensamento que constrói esse museu de cera. Sem o pensamento, quem é você? Como você pode sofrer sem o pensamento? Sofrer por quem? Como você pode ter uma patologia sem o pensamento? Como você pode ser um psicopata, um maníaco? Como você pode ser um louco ou um sábio? Como você pode ser um menino ou uma menina? Como você pode ter problemas? Como você pode ter contas para pagar? Como você pode ter coisas ou perder coisas? Como você pode ser rico ou pobre? Como você pode ser humilhado, estar ofendido, magoado, triste, sem o pensamento? Então, do que estamos falando?
Você não está lidando com os fatos, pois os fatos são as coisas que acontecem. Você está lidando com o que o pensamento diz sobre o que está acontecendo. Aí está o problema! Entre o fato (que é a realidade) e a ideia sobre o fato (que é imaginação), há uma distância, e nela o conflito aparece. Nessa separação, o sofrimento aparece. Não há Amor nessa distância; não há Paz nessa distância; não há Felicidade nessa distância; não há Liberdade nessa distância; não há Deus nessa distância; não há Verdade nessa distância.
Você está sempre assim, nesse museu de cera: ou você está com a história do passado ou com a história do futuro. Uma coisa chama-se lembrança e a outra chama-se imaginação – futuro é imaginação e passado é lembrança.
*Transcrito de uma fala ocorrida em Abril de 2017, num encontro presencial, na cidade de Fortaleza/CE .
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quarta-feira, 10 de maio de 2017

A única coisa que importa de verdade é encontrar a si mesmo

A única coisa que importa de verdade, para você, é encontrar a si mesmo. Tudo o que você faz, ou fez, ou tem a intenção de fazer, é, no fundo, para encontrar a si mesmo.
Tudo o que você faz na vida é para encontrar a Felicidade, mas Ela não é algo que é resultado de alguma realização externa. Isso significa que você está na busca de si mesmo, mas não sabe. O caminho que a cultura, a sociedade, o mundo lhe deu, foi esse movimento para fora. É necessário voltar-se para dentro; sair da rua e voltar para a casa. A mente só conhece exterioridades, só conhece o lado de fora. Enquanto a mente só conhece o lado de fora, algo em você só conhece o lado de dentro.
Há algo em você que é a base de todas as aparições externas, que sustenta todas essas aparições externas, mas não se confunde com elas. Há algo em você profundamente enraizado nessa interioridade. Este algo em você é essa Presença interna, que não despreza o lado de fora, mas não se perde nele. É o Cerne, o Espaço indescritível de pura Presença… É o “Coração”!
Mente significa exterioridade e miséria; Coração representa Presença, Consciência e Felicidade. Toda a sua riqueza real está dentro de casa, não está na rua. A única coisa real presente, aqui e agora, é essa Presença além da mente e do corpo. Isso não pode ser tocado pela morte, assim como não foi tocado pelo nascimento. Indo para fora, saindo de casa, você se confundiu com o corpo, com a mente e com os projetos de uma realização externa e se empobreceu como uma pessoa, como uma entidade separada, confundindo-se com a experiência “corpo-mente-mundo”. Você está vivendo em pobreza.
Nessa ilusão de ter nascido, você carrega essa ilusão de adoecer, envelhecer e morrer. Você carrega a ilusão “eu sou o corpo”, “eu estou no mundo”, e isso não é verdade. Essa é a ilusão de estar do lado de fora, fora de casa, de ser “alguém” no mundo, de estar na rua. Quando você vem a mim, quando escuta as minhas palavras ou olha em meus olhos, nesse instante, eu me dirijo a essa interioridade, a essa riqueza de sua Real Natureza. Nesse sentido, não há alguém falando, não há alguém ouvindo; é a Riqueza se encontrando, o Coração se encontrando, a Interioridade se encontrando. É Deus com Ele mesmo! Você é Deus, mas se vê como pessoa, fora de sua Natureza Verdadeira. Fora de sua Natureza Essencial, você se vê na rua, se vê como alguém jogado na rua, procurando algo do lado de fora, procurando uma riqueza que não está lá.
Você quer ter mais saúde, mais dinheiro, mais coisas… Todos querem ganhar na loteria! Você quer mais poder, quer fazer algo pelo mundo, pelos outros, quer ajudar a humanidade, quer salvar o planeta, quer deixar seu nome na história, quer ser alguém lembrado, reconhecido, importante, famoso… Na rua, você sempre quer alguma coisa. No lado de fora, você sempre procura mais, e isto é sempre mais do mesmo, mais das mesmas coisas que todos buscam, mais, mais, mais…
Felicidade não é ter mais, não é poder mais, não é fazer mais, não é ganhar mais. Felicidade é só Felicidade, e Nela não tem “você”, e não tem mais. Felicidade é a ausência desse “você”, dessa ilusão de estar do lado de fora à procura de algo. Quem é algo, tem algo a perder. Quem não é, não tem o que ter e, portanto, não tem o que perder.
Assim, o meu convite para você é: deixe a rua, volte para casa. As pessoas estão morrendo, mas quando pessoas morrem não estão voltando para casa, estão apenas dando continuidade à sua história pessoal, ao sonho pessoal, ao sonho dessa entidade ilusória – a rua continua. É necessário morrer, mas morrer de verdade. A Verdade significa voltar para casa, soltar essa ilusão de ser “alguém”, sustentado, agarrado, segurando ou procurando coisas. Quando se morre assim, só se morre uma vez. Isso significa morrer para o passado, morrer para o futuro, morrer para coisas, pessoas e lugares geográficos; deixar o tempo.
*Transcrito de uma fala ocorrida em 26 de Abril de 2017, num encontro aberto online.
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segunda-feira, 8 de maio de 2017

O que é a Verdade?

A Verdade, necessariamente, é algo presente agora, aqui, nesse momento. Nós não vamos produzir, trazer ou imaginar isso. E aí surge a pergunta: o que é a Verdade? Por que ela parece estar tão oculta? Uma vez que Ela está presente, por que Ela não se apresenta, afinal? Onde é que Ela se esconde, já que Ela é algo que está como base, como essa Realidade, como Aquilo que, sendo um fato, não pode ser negado?
Você tem sempre a sensação de que há duas coisas presentes: aquilo que observa e aquilo que é observado. Por exemplo: neste momento, você tem a impressão de que você está ouvindo e eu falando. Assim, nós temos duas coisas aparecendo. Então, a minha sugestão para você é: aproxime-se dessa experiência colocando o pensamento fora dela. Agora, por exemplo, enquanto você escuta, fique no “ouvir”, mas sem o pensamento sobre o que você escuta. Isso você pode aplicar em qualquer experiência sensorial, seja auditiva, visual, tátil…
Geralmente, o que fazemos nesses momentos é nomear, classificar, aquilo que experimentamos. A mente egoica tem a necessidade de se separar da experiência, e faz isso classificando, procurando segurança, pois o que ela ama é essa separação entre essa experiência de ouvir e “alguém” para ouvir. “Alguém” ouvindo vai concordar, discordar, aceitar, rejeitar, apreciar, gostar… e isso vai somente validar, a cada momento, a ilusão de duas coisas acontecendo, a ilusão da dualidade, a separação entre “alguém” e o que esse “alguém” escuta.
Aqui estou lhe dando algo muito prático, o trabalho a ser feito. O trabalho é: fique com a experiência, mas não entre nela. Isso é a base da Meditação e é Ela que torna clara a Realidade, a Verdade presente aqui e agora, nesse momento.
O único trabalho necessário é Meditação, agora, nesse momento, diante dessas palavras, do que os olhos estão vendo, da sensação que o corpo experimenta, sentado aí no sofá, na cadeira, ou deitado na cama… A pura sensação desse instante, seja auditiva, visual, etc. Se enquanto esse “ouvir” estiver acontecendo, a boca estiver mastigando alguma coisa, fique apenas com a sensação do paladar. Todo o seu condicionamento é de “alguém” nisso. Esse “você” sempre está aí, o que é uma ilusão. Nunca tem “você” aí, tem somente a experiência, mas é o pensamento que diz que tem “você” aí. Esse é o hábito, o vício dessa continuidade.
Você tem escutado muitas falas por aí que tratam da não dualidade, mas não lhe dão o trabalho para a constatação disso. Eu estou lhe dando o trabalho, sinalizando para você a única coisa que precisa ser trabalhada, o que é algo básico e simples. Embora possa parecer, a princípio, muito complicado, ainda é a parte mais fácil. A parte maior é da Graça, é dessa Presença, dessa Presença de Deus. Essa Presença, Deus, o Guru, faz o trabalho pesado.
Não há separação alguma na experiência. Ouvir, falar, caminhar, sentir frio, calor, são sensações. Você não separa a sensação, daquilo que sente; não separa o calor, do corpo que queima; o ouvir, dos ouvidos que escutam; o doce, do paladar. O que eu quero dizer é: o calor é sentido aí, sem separação; o som é sentido aí, sem separação; o sabor é sentido aí, na língua, sem separação. Você não separa o experimentador da experiência; é uma coisa só! Quando os seus olhos estão diante de um objeto, não há você e o objeto nesse olhar; há somente o olhar, não há separação. Tudo acontece dentro desse mecanismo, desse cérebro, dessa "máquina", mas você não separa o que acontece dentro, daquilo que acontece fora. Não há separação.
A ilusão é que tem “alguém dentro”, que está nessa experiência, mas eu estou dizendo que há somente essa experiência. Esse “alguém dentro” está classificando a experiência para o seu conforto, sua segurança, sua crença, para a validação de uma entidade presente. Isso está claro? Isso vale para qualquer sensação externa, sensorial, como para qualquer sensação interna.
Com o pensamento, portanto, é a mesma coisa: você não separa o pensamento do pensador. A ilusão do pensador cria o pensamento como algo separado, e o pensamento cria a ilusão do pensador, mas você não separa o pensamento do pensador. Isso vale, também, para uma emoção: ela não acontece fora. Ou seja, o pensamento é um só movimento; a emoção é um só movimento; a sensação física é um só movimento. Então, a pergunta que eu fiz no início da fala foi: onde está oculta a Realidade dessa Verdade presente? Está oculta nessa ilusão de um “alguém” presente nisso. Não tem alguém! Isso é tão claro!
Participante: De onde surge essa ilusão?
Mestre Gualberto: Da ilusão de que há uma ilusão. Tudo isso é criado pelo próprio pensamento imaginando algo. O pensamento ama imaginar-se, imaginar a si mesmo como uma entidade separada, e aí cria o pensador. Então, de onde surge essa ilusão? Da ilusão! Quando fica constatada a ilusão da ilusão, não há ilusão. É maluco demais isso?!
Participante: O pior é que saber disso com toda clareza não muda nada.
Mestre Gualberto: Muda tudo, porque eu acabei de explicar para você o único trabalho que você tem para fazer. Coloque em prática isso e depois me diga se muda ou não muda. Quando uma voz estiver falando com você, a ideia é que “alguém” lá está comunicando algo para “alguém” aí. Nesse momento, interrompa isso, essa ilusão, pois isso é só a mente com ela mesma, dizendo coisas. Da mesma forma que ela fala dentro dessa cabeça aí, entre essas duas orelhas, fala através desse “outro”, mas é a mesma mente. Então, muda tudo! Se você percebe que isso é somente um jogo da mente com a mente, olha para isso e testemunha sem dar continuidade, você quebra esse modelo, esse padrão. O pensamento diz: “Não muda nada”, mas é por que ele quer a mudança. É um velho truque do pensamento dizer isso. Todavia, não vai mudar nada aí, pois já está tudo no lugar. Acompanhem isso fazendo esse trabalho e vocês verão.
Por exemplo: quando você não permanece nesse “ouvir”, você emite uma posição sobre o que está sendo colocado, como acabou de fazer, dizendo: “O pior é que saber disso com toda clareza…”. Ou seja, não há clareza! O ponto é esse! Quando há clareza, não há confusão, desordem, conflito, nem a necessidade de mudar alguma coisa. Está tudo claro? Então já mudou tudo. Você está habituado a viver norteado pelo pensamento, pela "pessoa", pela ideia de "alguém" presente nessa experiência de ver, ouvir, pensar, falar, sentir, explicar, esclarecer, justificar. Você faz isso o tempo todo, numa relação ilusória com um mundo do lado de fora, onde tem namorada, noivo, marido, filhos… Então, isso produz medo, que só é possível nessa separação, nessa ideia “eu e o outro”, “eu de bem com o mundo”, “eu de bem com ele, com ela”… Mais claro dessa forma?
Estou colocando para você como trabalhar isso. Trabalhe isso agora, nesse “ouvir”. Se essa atenção está aí, você não se separa, dizendo: “Eu não consigo”. Quando você diz isso, quem entrou em operação senão o pensamento, já se separando, já ouvindo e interpretando? Ou seja, não tem nada claro, porque isso não está claro para o pensamento. Isso está claro, sim, mas não para o pensamento. Isso só opera a mudança, mas não opera a mudança para "alguém", para o pensador. Isso acaba com o pensador, com esse que julga, avalia, censura; esse observador separado, que diz: “Não dá”; “Está muito claro”; “Já cheguei lá. Consegui”.
Quando convido você ao Satsang, eu o convido à arte de ouvir. E ouvir não é entender, é somente ouvir. Você passa todos os dias, o dia inteiro, entendendo coisas: liga a televisão, liga o rádio, escuta as notícias, conversa com alguém, recebe e-mail, recebe uma conversa no whatsapp… Quando convido você ao Satsang, eu o convido a ficar quieto. Não se trata de entender, mas apenas ouvir. Nesse “ouvir”, Aquilo que está claro (sem o pensador, o pensamento e a ideia a respeito) revela-se como Verdade, que é essa Realidade, que é a base de Satsang.
Não é para entender! Isso é Meditação, Consciência, Presença. Isso é o Despertar! É algo presente agora! Pode levar cinquenta anos [para esse Despertar], mas esses cinquenta anos são agora! Pode ser que esse trabalho leve cem anos, mas ele já terminou agora! Só termina agora, porque, na realidade, quando esse trabalho começa, termina. Não há uma progressão, uma evolução, nem é uma escada, pois você não vai galgando degraus. Você "solta" o pensamento, a crença; "solta" aquele que interpreta, julga, avalia, que diz “está claro” ou “está muito nebuloso”; "solta" aquele que diz “entendi” ou “não entendi nada”. Você "solta" isso e pronto: aí está a sua Natureza Real, Verdadeira.
Entenderam? Muito prático, muito direto. Isso é o fim do sentido da separação, da dualidade, dessa simples crença: “eu e aquilo lá” – um “eu” aqui experimentando o mundo lá, com esse “eu” se confundindo, naturalmente, com o corpo, o que é somente uma crença que o pensamento anda fortalecendo. E agora? Como está aí? Ainda está claro ou está escuro? Está fácil ou está difícil?
Participante: Sempre bem na Sua Presença.
Mestre Gualberto: Essa Presença que Eu Sou é essa Presença que Você É. Sempre está bem nessa Presença, sim. Essa Presença é a base da Realidade. Quando você sai para o pensamento, sai dessa Presença. Vocês estão viciados em fazer isso e é por isso que o trabalho leva algum tempo.
*Transcrito de uma fala ocorrida em 30 de Janeiro de 2017, num encontro aberto online.
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sexta-feira, 5 de maio de 2017

Quando você vai a um Mestre, você está indo a si mesmo

Esse é sempre um momento de investigação. Esse é o Real Satsang, que é um momento não intelectual. No ego se dá muita importância ao intelecto. Quando chegam alguns novatos, eles trazem, geralmente, muitas questões. Em Satsang, não estamos interessados em respostas, mas na direta percepção. É por isso que você está aqui. Você se encontra nesse espaço para perceber diretamente e não para entender intelectualmente. Quando identificado com o corpo e com o processo do pensamento, seu interesse intelectual é muito forte e você acredita que, quanto mais entende intelectualmente, mais avançado está. Na verdade, mais confuso você está. Quanto mais entende intelectualmente esse assunto, mais confuso você se encontra. Esse não é um assunto intelectual.
Sabedoria não é nada intelectual. O conhecimento é intelectual, a Sabedoria não! Aqui, o propósito é irmos exatamente além dessa limitação do intelecto, porque a grande verdade é que, quanto mais você sabe, mais confuso você está. Quanto mais você conhece, entende, aprende, muito mais intelectual se torna e mais confuso fica. É sempre o ego que quer saber, pois ele tem que conhecer, e, para mim, esse é um dos claros sinais de verdadeira insensibilidade a essa percepção que vai além da dualidade. O entendimento intelectual está dentro dessa dualidade. Eu falo dessa percepção direta, que significa estar cônscio, ciente, daquilo que se apresenta, que está diante dos olhos. Essa percepção lhe dá sabedoria, não dá conhecimento. Está presente no “não saber”, no “não conhecer”, nesse “ver de uma forma direta”, não dual. Está claro isso?
Isso é algo diferente do que você está acostumado a ouvir. É contrário a todo “nosso” aprendizado, treinamento, condicionamento. Digo “nosso”, porque é o condicionamento que recebemos desde a infância. Aqui estamos diante de algo que é fascinante, de extraordinária beleza e Graça! Quando eu confesso para você que, por exemplo, você não é o corpo e a mente, que você é essa Presença do “Eu Sou”, não basta isso ser intelectualmente apreendido, guardado, decorado, compreendido. É necessária, sim, uma compreensão, mas não intelectual, pois esse tipo de compreensão é algo inteiramente diferente do que estamos tratando em Satsang. Aqui, estamos falando da direta compreensão que está nessa Percepção.
Então, essa questão fica muito clara quando confesso a você que Eu não sou o corpo, nem a mente, que Eu Sou essa eterna Presença. É claro que, quando usamos aqui esse pronome “Eu”, não estamos nos referindo à pessoa, mas sim a essa Presença, que é onipresente. Essa Presença não é algo particular de um corpo chamado Marcos Gualberto. Não estou falando sobre Marcos, ou João, ou José, ou Maria. Esse “Eu Sou” inclui todas essas aparições. Eu não estou falando de “mim mesmo”, desse “você mesmo”, dessa “pessoa”, mas o intelecto pode pegar esse pronome “eu” e tornar isso algo pessoal, que é o que ele faz muito bem. Quando você faz isso, mais uma vez está confuso.
Portanto, quando eu me refiro a esse “Eu Sou”, refiro-me a cada criatura, manifestação, aparição. Esse “Eu Sou” é essa Absoluta Realidade. Esse “Eu Sou” é sem nascimento e sem morte. Esse “Eu Sou” não desaparece, não tem começo e não tem fim. Esse “Eu Sou” é eterna Beatitude, Bem-Aventurança, Felicidade! Portanto, esse “Eu Sou” é Nirvana, é Reino dos Céus, é tudo! Esse “Eu Sou” é nada! Nesse “Eu Sou” não há nenhuma criação e nenhuma destruição!
Assim, não há como apreender o significado disso intelectualmente, mas sei que alguns têm tentado esse tipo de coisa. Alguém vai a uma palestra, ouve uma fala, decora algumas palavras e as repete, porém, essa não é a compreensão da qual eu falo; é uma compreensão meramente intelectual e isso não serve para nada! Isso ainda está nessa dimensão do “eu”, na dimensão da “ego-consciência”, da “mente-consciência”, da mente em sonho – em completa inconsciência, portanto.
As pessoas, quando vêm falar comigo, dizem basicamente as mesmas coisas. Elas trazem sempre as mesmas questões, como: “Como eu resolvo esse problema?”. Quando elas descobrem acerca dessa possibilidade da Realização, de ir além de todos os problemas, querem resolver esse “problema”: o problema da Realização. Elas sempre têm problemas. Primeiramente, os problemas pessoais, e, depois, surge o problema de “ir além da pessoa”. A mente está sempre criando problemas, sejam eles para a “pessoa” ou para a crença de uma suposta “não-pessoa”. Então, as pessoas perguntam: “Como posso ‘me’ autorrealizar?” Geralmente, elas querem Isso de forma rápida. De preferência, sem Satsang presencial, sem nenhum desconforto, “assistindo ao final do campeonato de futebol”.
É como uma pessoa nadando em um rio e reclamando que está com sede. O problema delas é a sede, embora estejam dentro de um rio. Estão pedindo por água mesmo nadando em um rio. Essa Realização é a sua Real Natureza. Portanto, Isso não é um problema. O problema é a ilusão de ser uma pessoa, o que traz todos os outros problemas para a “pessoa”. Então, a “pessoa” quer se livrar dos problemas, mas ela é o problema; a ilusão de sua identidade separada é o problema. Assim, a sua sede é a ilusão da falta de água; é a ilusão de uma existência separada. No rio, que é pura Consciência, a ilusão é uma entidade presente nadando e sofrendo de sede. Então, quando elas perguntam como resolver os problemas, é algo muito engraçado para mim. Acompanham isso?
Você está preso à experiência “corpo-mente-mundo”, como uma entidade (“pessoa”) presente nela, e isso é o que chamam de Maya na Índia: a ilusão do sentido de separação. Por estar preso a esse condicionamento, você está preso a essa ilusão da sede, da falta de água, mesmo estando cercado por ela, havendo água por todos os lados. Pela manhã, quando você caminha pela rua e, de repente, escurece, você olha para cima e percebe que o sol, momentaneamente, está oculto por detrás de algumas nuvens, mas você não diz que não tem sol. Você se mantém tranquilo, não se apavora, se assusta ou se perturba, porque sabe que o sol vai aparecer de novo. Não é assim? Você continua caminhando e sabe que daqui a pouco vai clarear tudo de novo, porque o sol está lá. Aquilo é só uma nuvem. Assim, você apenas aguarda a nuvem se dissipar, e, então, o sol brilha novamente, em todo o seu esplendor, em toda a sua glória. Não é assim? É exatamente assim.
Da mesma forma, você é o Divino, é a Consciência, é Deus, é a Verdade, é esse Radiante e Indescritível Sol, essa Indescritível e Radiante Luz. São apenas as nuvens da ignorância que aparecem e cobrem o Sol. Quando isso acontece, você acredita que é uma “pessoa”, um “ser humano”, e fica assustado! Então, você se depara com todas as situações que aparecem e as transforma em situações de ordem pessoal. Se elas são agradáveis, você se sente muito feliz, pessoalmente, e, se são desagradáveis, você se sente triste, deprimido, pessoalmente também. Assim, o que é bom é a “boa sorte” e o que é ruim é a “má sorte”, quando você acredita que tem problemas. Cansado disso, você vai em busca desse Despertar, dessa Realização. Começa a estudar Advaita e a fazer diversas práticas espirituais. Agora, você se encontra com outro problema, que é o “problema da iluminação”. Portanto, há sempre nuvens.
Eu quero dizer para você: não há nada errado! Você pensa que há algo errado, porém essa sensação criada pelo pensamento de que há algo errado é um condicionamento mental, um modo de aproximação e pura interpretação daquilo que acontece. Algo intelectual, mental. Então, você pensa que existe algo errado em algum lugar – algo errado com você, com o mundo, com os outros. Eu lhe garanto que tudo está no lugar em que precisa estar! Mesmo o que está “fora do lugar”, ainda está no lugar em que precisa estar, e até que aquilo “entre no lugar”, o lugar dele é aquele onde ele se encontra.
A ilusão diz que você vai controlar isso e, portanto, que você vai acertar as coisas. Entretanto, eu lhe garanto que as coisas se acertarão no tempo e da forma em que elas se acertarão, e até elas se acertarem, as coisas estarão no lugar. Tudo é essa Absoluta Presença, Absoluta Realidade. Tudo é o que é, e essa é a sua Verdadeira Natureza. Não há nuvens, ou, se aparecem nuvens, isso não pode encobrir a Realidade dessa Presença, dessa Consciência. Ela está sempre lá, brilhando, radiante.
Alguns de vocês estão começando a perceber que, quanto mais estudam e aprendem, mais confusos e estúpidos se tornam; ficam mais barulhentos, inquietos e agitados internamente – uma mente sem espaço, inquieta, tagarela. Portanto, não adianta se envolver em todo tipo de coisa, ficar para cima e para baixo, caminhando de religião para religião, de guru para guru, de escola para escola, de prática para prática… Existem muitos ensinos, estudos e livros, muito a aprender e sobre o que ouvir, mas tudo isso é tremendamente inútil. O que você precisa é ir além desse sentido de separatividade, além da dualidade, e o intelecto não pode fazer isso, porque ele não consegue e não tem como fazer isso. Todo o esforço pessoal é um esforço que gira em torno da própria “pessoa”, pois tudo o que a mente procura é aquilo que está dentro do campo dela; não pode estar fora. Para o ego isso é algo desesperador, porque ele sempre pretende fazer algo.
Algumas pessoas perguntam como isso aconteceu aqui, a Marcos Gualberto, e eu falo de Ramana. Então, elas perguntam: “Você tem Ramana como seu Guru? Ele foi seu Guru?”. Minha resposta é muito clara quanto a isso. Eu considero Ramana como Eu mesmo, como Aquilo que Eu Sou. Eu olho para ele como algo muito maior do que um Guru. Hoje, claramente, eu posso olhar para ele como o próprio Universo, como a própria Vida, Nela mesma, e isso não é outra coisa a não ser Aquilo que Eu Sou. Assim, ele é simplesmente outro aspecto de Mim mesmo. Quando ele me encontrou, eu prestava reverência a ele, e havia algo aqui claramente me mostrando que essa era uma reverência ao meu íntimo Ser, a Mim mesmo. Então, isso é tratar o Guru como a Si Mesmo. A palavra “guru” significa mestre, aquele que dissipa essas nuvens, as nuvens da ignorância. A palavra “guru” significa “aquele que dissipa a escuridão” e, aqui, dissipar a escuridão é dissipar essas nuvens aparentes, passageiras. O Guru é aquele que dissipa essas nuvens e, então, Aquilo que já está presente, que é essa Presença, essa Graça, essa Verdade do “Eu Sou”, que está aí, se apresenta.
Ramana esteve fazendo exatamente aquilo que estou fazendo hoje. Ele estava apenas confessando a Verdade de sua Real Natureza; não estava ensinando. Era um trabalho de Despertar! A questão está em despertar o aluno, o discípulo, para a Verdade de sua própria Natureza. Não se trata de ensinar ao discípulo Aquilo que ele é, mas de fazê-lo ver Aquilo que ele é. Ele, Ramana, estava apenas confessando essa Verdade sobre ele mesmo. As pessoas iam e podiam se assentar diante dele e perceber que não havia “pessoa” presente.
Nesse momento, os pensamentos, as perguntas e os problemas desaparecem, porque as nuvens desaparecem, e aí a Presença do Guru é a mesma Presença do discípulo. Então, não há “Guru”, nem há “discípulo”. Temos apenas essa única Presença nessa real confissão. A beleza de estar diante do Guru, de um Mestre vivo, é que você pode se encontrar com Aquilo que você é! Além das formas, dos nomes, das aparências, você pode se encontrar com essa Realidade, com a Verdade de sua Divina Natureza. Ramana olhava para todos à sua volta como olhava para si mesmo. Ele nunca se dizia Mestre.
Quando você vai a um Mestre, não é ele quem diz que é um Mestre. É você quem faz isso. Ramana olhava para todos como a si mesmo. Essa era a sua confissão: não havia ninguém separado dele. Quando você vai a um Mestre, você está indo a si mesmo. Enquanto existir essa ilusão da separação, da separatividade, de entidades presentes dentro de uma experiência, não haverá Verdade. O Guru é a Verdade, e ele não vê alguém separado dele. O discípulo vê assim; a mente vê assim. Claro isso? Portanto, a Realização é uma questão de despertar, não de ensinar alguma coisa para alguém, porque não há “alguém”.
Assim, aquilo que você sente é um equívoco, porque sente a partir dessa ilusão da separatividade. Quando você vê o Guru como sendo uma “pessoa”, você o julga, o ama e o odeia como a uma “pessoa”. No entanto, o Guru está em outra confissão, na qual não há dois, não existe o sentido de separação. Nessa confissão, ele não depende do discípulo, porque não há discípulo, não há dualidade, não existem os dois lados da moeda. O Amor, essa Consciência, Presença, Verdade, Liberdade, Felicidade, não conhece esses dois lados da moeda. Somente aquilo que a mente produz como sendo liberdade, consciência, verdade ou amor, que sempre está dentro de uma dualidade, carrega o oposto junto.
*Transcrito de uma fala ocorrida em 24 de Agosto de 2016, num encontro aberto online.
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quarta-feira, 3 de maio de 2017

Este sentido de ser alguém ainda está aí?

Esses encontros carregam sempre um novo perfume. Nós estamos tratando de algo sempre novo. A Verdade é algo assim. Eu tenho percebido o quanto tem sido difícil, para alguns, a compreensão direta da importância de um trabalho como este, a importância direta deste trabalho.
Por que nós temos esse jogo aqui? Por que nós temos essa brincadeira aqui? Esse jogo chamado Mestre e discípulo? Essa brincadeira chamada Mestre e discípulo? Nós podemos levantar milhares de argumentos, questionar isso de diversas formas, ter milhares de aproximações para investigarmos esse tema, que é essa necessidade (ou não) de um jogo como esse, de uma brincadeira como essa, onde temos a figura do Guru e a figura do discípulo, a figura do Mestre e a figura do devoto.
É natural que alguns professores, alguns, assim chamados, “gurus”, digam claramente que não há você, que você não é real, que esse aparente indivíduo presente não é real. Os verdadeiros Gurus também fazem o mesmo. Podemos tirar daí a ideia de que você não pode fazer nada para essa Realização, uma vez que você não é real. Então, não existe nada que esse aparente indivíduo, essa aparente pessoa, possa fazer por essa Realização, em direção a essa Realização. No entanto, nós precisamos investigar isso, porque a verdade é que, enquanto houver alguma forma de identificação com essa ilusão de um “indivíduo” aparente, a ilusão dessa “pessoa”, não há qualquer escolha a não ser a busca.
Porém, é comum você ouvir, também, que a busca não é real, uma vez que aquele que está na procura disso não é real. Mas eu quero que você olhe comigo o que vamos colocar. Se existe esse sentido de separação, esse sentido de um “eu” localizado dentro [do corpo], ou como esse corpo, então essa crença – que não é só uma crença, mas também um sentimento – estará, com certeza, ocultando essa Realidade. Então, reparem que é uma fala bem paradoxal. Enquanto houver esse sentido de um “eu”, localizado aqui no corpo, ou como o próprio corpo, essa crença, esse sentimento, estará ocultando a Verdade.
A verdade é que não há “alguém”, não há a “pessoa”, mas essa crença/sentimento dá existência a essa entidade ilusória. Então, não adianta simplesmente teorizar sobre isso. Toda essa fala tão comum, de que o guru não é necessário, porque não há discípulo, não há mestre e não há pessoa, está perfeitamente certa, mas não funciona. Ela está certa do ponto de vista do Guru, ou do ponto de vista Daquele que está fora da ilusão de ser uma “entidade”, de ser “alguém”, de estar presente no mundo, dentro do corpo ou como o corpo. Mas, se isso não é real, é apenas uma crença e, como uma crença, não funciona. É só mais uma teoria sobre a Verdade, mas não é a Verdade.
É aqui que entra esse jogo, onde a figura do Mestre e a figura do discípulo aparecem para aquele que ainda se vê sendo uma entidade separada. Aquele que se vê como uma entidade separada não pode lidar com a Verdade; pode, sim, lidar com as crenças. Em suas crenças, ele pode aceitar a Verdade do Guru ou a ilusão do guru; mas, em suas crenças, ele não pode deixar de aceitar a ilusão de ser “alguém”. A crença não tem qualquer liberdade, mas a vivência direta da Verdade tem Liberdade. Repito: a crença não tem qualquer liberdade.
É uma tremenda ilusão – a pior e mais funesta de todas as ilusões – tecer teorias sobre a liberdade ou a verdade no campo da mente, onde só há crenças, teorias, ideias, conceitos. A Verdade está além disso! A Realidade de nossa experiência direta, que não é uma experiência pessoal, é a experiência sem o experimentador, sem a crença de um “eu” presente; a experiência livre da ideia “eu sou o corpo”. Essa experiência, o experienciar direto, é de uma ilimitada Consciência, suprema Inteligência, suprema Realidade. Mas isso não é uma crença, não é uma teoria. Portanto, a necessidade da brincadeira “Mestre e discípulo” sempre se fará necessária, enquanto a ilusão “eu sou o corpo”, ou “eu sou alguém”, estiver presente. É exatamente a crença “eu sou o corpo” ou “eu sou alguém” que está ocultando a sua Verdadeira Natureza, sua Real Natureza, Aquilo que é a Verdade sobre Você. Isso está ocultando, aparentemente, mas de uma forma “bem real”, a Paz, a Liberdade, a Felicidade, que é algo inerente, inato, que é a Natureza do Ser.
Então, todas essas discussões são puramente intelectuais, algo completamente estúpido e inútil. Enquanto o sentido de separação estiver presente, enquanto a ilusão de um “eu” separado, de uma entidade nessa experiência “corpo-mente-mundo”, estiver presente, a presença da figura do Guru se fará necessária. Eu sei que isso é uma forte pancada, um golpe violentíssimo, na presunção, no orgulho, e na vaidade do “eu”, porque ele é profundamente arrogante, bastante autodidata, mas não pode sair do campo da egoidade, da dualidade, por maior que sejam os seus esforços. Isso porque todo trabalho no ego é o trabalho do ego, para o ego e pelo ego. Todo trabalho na mente é o trabalho da mente para a mente, pela mente, com a mente e não sai da mente.
Não há quantidade de argumentos, de declarações e de afirmações que possam mudar isso, porque isso é assim. Somente Deus reconhece Deus! Somente Consciência se revela como Consciência! A mente não chega lá. Nenhuma prática, técnica de meditação, nenhum tipo de sadhana, nada disso pode manifestar essa Realidade, porque Ela está fora do tempo. A sadhana até tem certo lugar, mas isso é muito primário, inicial. Mesmo uma sadhana real, aquela diante da figura, da Presença do Guru, também não representa nada decisivo.
Portanto, se esse sentido de separação está aí, a ilusão está aí, com toda a sua intelectualidade, capacidade de argumentar, contra-argumentar, explicar, ensinar, concluir, deduzir. Estamos dizendo que essa aparente entidade presente na busca dessa Realização, dessa Felicidade, é ela mesma o impedimento. Assim, essa aparente entidade presente de braços cruzados, falando de uma “não entidade”, de uma “não pessoa”, da ilusão do discípulo e do guru, também está na mesma condição.
A coisa é muito simples, muito básica. O Guru é uma necessidade enquanto a ilusão estiver presente, carregada desse sentido de separação. O Guru é uma necessidade, porque esta Presença é uma necessidade! Deus é a única necessidade, porque Ele é a única Realidade, a única Verdade! Tudo mais são crenças, conceitos, ideias, conclusões, opiniões espiritualistas, conclusões filosóficas, conclusões advaitas, ou neo-advaitas, e assim por diante. Em Satsang, estamos tratando do fim do sentido de separação, dessa ilusão de “alguém” localizado dentro do corpo, aqui, como este corpo; estamos tratando do fim dessa crença/sentimento. Tratamos da ilimitada Consciência, Daquilo que é a base de todas as aparições, de toda e qualquer experiência. É o final, o “cair” desse véu, que é o véu da separatividade, da dualidade, do sofrimento, da busca, da ilusão do “eu”.
É algo completamente ingênuo, tremendamente estúpido, essa aparente e ilusória entidade presente, essa “pessoa”, falar de uma “não pessoa” e que não há nada para ser feito. Tremenda, funesta e grande ilusão! Tendo compreendido isso, fica muito claro que essa aparente entidade ainda está em busca da felicidade e, ao mesmo tempo, dizendo que não há nada para ser feito. Como uma aparente entidade, ainda nessa ilusão de ser “alguém”, de ser uma “pessoa”, nega a necessidade de fazer alguma coisa, se ela ainda está em busca da felicidade, da paz, da liberdade e da verdade? É só uma crença. Essa aparente entidade, também, é só uma crença, e crê que não há nada que se possa fazer, mas, mesmo assim, continua na dualidade, na egoidade, no sentido de separação, na infelicidade, na busca da felicidade. Então, nunca mais discutam sobre isso, pois é muito estúpido, coisa de um ego muito grande. Deixem a mente em paz. Parem de perturbar a mente. Portanto, guardem muito bem isso, e nunca mais terão problemas com isso.
Vou terminar apenas repetindo isso: se existe esse sentido de separação, esse senso do “eu” localizado aqui, dentro do corpo, como esse corpo, então essa crença, esse sentimento, está ocultando a Realidade, a Verdade de Ser, a Verdade de Sat-Chit-Ananda, a Verdade da ilimitada Consciência. Se Isto está presente, dizer que não há nada para se fazer e, ao mesmo tempo, continuar buscando a Felicidade, a Paz, o Amor e a Liberdade, carregando esse sentido de desejo e medo, é bastante sem sentido, estúpido e ingênuo.
Ok, pessoal. Vamos ficar por aqui. Até o próximo encontro. Namastê.
*Transcrito de uma fala ocorrida em 18 de Novembro de 2016, num encontro aberto online.
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