quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Neste Lugar o Amor se Reconhece

O que a mente concebe, teoriza, idealiza, imagina, ainda é parte dela. A velha ideia de alguém presente, vivendo alguma coisa, ganhando alguma coisa, tendo algo para mostrar… Isso não é real. Na verdade, quando você está profundamente feliz, ninguém está interessado em você. Você quer ser o centro das atenções? Seja infeliz! Estando feliz você não é o centro das atenções. Você não causa nenhum estardalhaço, nenhuma impressão. Agora, quando você é infeliz, você fica bastante interessante para as pessoas.
Participante: Por isso é que o ego aprecia [ser infeliz]?
Mestre: Sim. O ego fareja sofrimento. Ele não tem faro para a Alegria, para a Liberdade, para o Amor, para a Paz... Por isso é fascinante, lindo demais, estar diante de um Ser Realizado, porque ele não tem esse perfume tão atraente, já que a Felicidade não tem cheiro. A miséria tem. A sensibilidade do ego é farejar miséria. É como você dar para um cão uma peça de roupa para ele farejar. O cão descobre de quem é aquela peça, porque ele tem um faro muito apurado. O ego é uma espécie de cão que fareja, com um faro apuradíssimo, tudo que pode alimentá-lo. Assim como o cão fareja a roupa e chega até o seu dono, o ego fareja aquilo que mais pode supri-lo, preenchê-lo, alimentá-lo. Então, o ego sente de longe o cheiro de conflito, tensão, estresse, ansiedade, nervosismo, desejo, medo. A Liberdade, o Amor e a Verdade não têm cheiro.
Na realização, você não fica atraente. Ao Ser, você é fascinante, mas, para a mente egoica, você é completamente desinteressante. O seu fascínio por estar em Satsang, a sua alegria por estar em Satsang, o seu relaxamento em Satsang, não é algo que está acontecendo na mente egoica, é algo que está acontecendo a Você. Não está acontecendo a essa “pessoa” que, por muito tempo, você acreditou ser; a essa “pessoa” que está na imaginação das outras pessoas. Por elas se verem como pessoas, elas o veem como pessoa, e, como pessoa, você é muito interessante para elas. Como Consciência, você não desperta nenhum interesse delas. Causa estranheza, interesse não.
Quando as pessoas escrevem para mim ou estão comigo presencialmente, a primeira coisa que elas apresentam é esse profundo interesse em sustentar o velho cheiro – o cheiro do conflito, o cheiro do sofrimento. Diante de um Mestre vivo, você está diante desse Desconhecido, e ele é o único que trata com você. Todos os demais à sua volta tratam com a ideia que fazem de você, baseados na ideia que fazem deles mesmos. Eles não tratam com você.
O Amor é o único que está interessado somente em uma coisa; o Amor só tem um interesse. O interesse do Amor é o Amor. Então, o Desconhecido, a Presença, a Consciência, o Guru, só tem um interesse: Você, porque Você é o Amor; o Amor que Ele é. É o Amor interessado Nele mesmo. Todos os que estão à sua volta não conseguem vê-lo, porque não há Amor. Não é possível Amor sem Verdade, e não há Verdade na mente. Se não há Verdade, não pode haver Amor. Um Mestre vivo é a Verdade. Então, o Amor está presente, e o Amor se reconhece. Ele é o único que lida com você, como você, de fato, É. Por que você se sente tão relaxado em sua Presença? Tão leve? Tão preenchido? Porque você sabe que ele não está ignorando você! E, aqui, não se trata de uma apreciação, ou de uma visão centrada na personalidade. O ego também tem interesse no ego, mas o interesse dele é proporcionar alimento para si mesmo, o que eu chamei agora há pouco de farejar, sentir o cheiro do sofrimento, o cheiro da dor.
Estar diante dessa Presença é estar diante de Si mesmo; o único Espaço onde Você é visto. Seu Ser, sua Natureza Real, volta para casa diante da Verdade, do Amor que é o Guru, que é a Consciência, que é Você. Por que você ama estar em Satsang? Porque não existe outro lugar fora de Satsang. Outro lugar fora de Satsang é um lugar que a mente imaginou para uma suposta entidade, e essa suposta entidade é a ideia de ser alguém, a ilusão que você faz de si mesmo. Lá, nesse “outro lugar", é sempre desconfortável. O "cheiro" de lá não faz você relaxar. É um cheiro de tensão, de nervosismo, de estresse, de conflito, de medo, de sofrimento.
Esse Espaço é o único “lugar” em que a mente não pode estar. Ela não entra nesse “lugar”, porque ela não pode imaginar Isso. Nesse “lugar”, o Amor se reconhece. Então, Guru e discípulo, Mestre e discípulo, nesse Espaço, nesse “lugar”, desaparecem, assim como desaparecem o conhecimento, o experimentador, o pensador, a resistência, o sentido de separação. Ninguém pode ver você. Eles não têm olhos para isso; a mente, não!
É como você no meio de uma multidão, onde todos estão usando camisa azul, e alguém grita: “Fulano está ali!” Aí você diz: “Quem? Qual deles?” Ao que respondem: “Aquele de camisa azul!” Aí você olha e diz: “Seja mais específico!” E dizem: “Exatamente aquele com a camisa de cor azul! Você está vendo?”
Não, porque você é só mais um de camisa azul. Por isso que não há Compreensão. Compreensão só é possível quando há Liberdade. Liberdade só é possível quando há Consciência. Consciência só é possível quando há Inteligência; e essa Inteligência está presente quando esse Espaço, chamado Verdade, está presente.
Você não é mais um de camisa azul no meio da multidão quando Deus o encontra. Só Deus pode ver Deus! Só a Verdade se reconhece na Verdade! E as pessoas vêm a mim e falam de Iluminação, como se pessoas pudessem reconhecer Isso. “Pessoa” é o obstáculo! “Pessoa” é a multidão de camisa azul, num espaço que não é um lugar real, num espaço imaginário, onde o cheiro não é agradável.
Você acha que o seu pai o compreende? Espera que ele o compreenda? E o seu namorado, seu marido, seus filhos, seu círculo de relacionamentos? Só há Compreensão quando não há “pessoa”, porque Compreensão é Inteligência. Não é a compreensão de alguém, é só a Compreensão. É como a Inteligência: não há alguém nela; é como a Verdade: não há alguém nela; é como o Amor: não há alguém nele; ele não é pessoal. Reparem que Amor não é um verbo, não é uma ação, não tem sujeito nisso. Liberdade é um verbo? Não tem sujeito na Liberdade; não é um verbo. Você não pode conjugar Liberdade, seja nessa primeira pessoa, naquela segunda ou naquela terceira. Verdade também não é um verbo. Deus não é um verbo. Não dá para conjugar Deus. Você não vai encontrar a primeira ou a segunda pessoa para conjugar Deus.
A Compreensão está presente quando não tem sujeito. Então, não é a “minha compreensão”, que diz: “Compreendo você”. Não é assim. Essa é a beleza da Iluminação! Essa é a beleza, que também não é um verbo. Eu iluminado, tu iluminado, ele iluminado... Não é assim.
As pessoas querem uma coisa impossível! Elas querem se iluminar, elas querem compreender... Eu falo da Compreensão, não falo de compreender. Eu falo da Inteligência, não de alguém Nisso. Eu falo do Amor, da Verdade, da Iluminação, não falo de alguém Nisso. Eu falo do “lugar”, não falo de alguém lá. Lugar também não é um verbo. Então, quando você vem para se iluminar, você está projetando uma imaginação, uma crença... mais uma crença. É como encontrar Deus; você não pode! É como encontrar a Verdade, a Compreensão, a Liberdade, o Amor; você não pode!
Meu interesse é em você, não no personagem de camisa azul. A beleza nesse Estado Natural é que você tem olhos. Você não está interessado em um lugar imaginário, onde tem uma multidão de camisa azul, onde tem um cheiro muito forte. Eu falei agora há pouco sobre esse cheiro; já esclareci o que é essa “camisa azul”; já coloquei para você claramente que não existe esse lugar, é só imaginário. Eu não estou interessado nisso; não aqui! Agora, só pode haver ISSO aqui.
Repare que é quando você vai para o mundo imaginário do pensamento que você se encontra com a imaginação de pessoas, todas com um nome. Mas você não sabe com quem, de fato, está lidando, pois são todas basicamente iguais: carregam os mesmos medos, os mesmos conflitos, os mesmos dilemas, dramas, problemas, anseios, receios, desejos, medos... Então, quem é você no meio dessa multidão, se não for encontrado pelo olhar de Deus? Está compreendendo? Se não for encontrado pelo olhar de Deus, você é um no meio da multidão, nessa ilusão de ser filho de fulano de tal, neto de fulano de tal, pai de fulano de tal, marido de fulano de tal...
*Transcrito de uma fala ocorrida em Novembro de 2016, num encontro presencial, na cidade de João Pessoa/PB.
Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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