terça-feira, 27 de setembro de 2016

Tudo o que você procura é a verdade sobre si mesmo

Consciência, Presença, é o real sentido do Ser. Agora mesmo você é essa Consciência, agora mesmo você é esta Presença, não há como escapar disso. Essa Consciência, essa Presença, é a natureza da Realidade. Não está faltando Presença, não está faltando Consciência, isso é algo que nunca falta. Está faltando a ciência dessa Presença, a ciência dessa Consciência, e é isso que nós sempre investigamos nesses encontros. Isso porque essa Presença, essa Consciência, tem imposto a si mesma uma aparente limitação. Ela se impôs essa aparente limitação, que é a limitação do pensamento, que é a limitação da percepção. É basicamente isso que nós chamamos de inconsciência.

Porém, não podemos dividir essa Consciência, que é sinônimo de Presença, em inconsciência e consciência; não existe tal coisa. Não há inconsciência real nessa Consciência. Essa Consciência é sempre Consciência, e ela é sempre esta Presença, o que significa que essa Consciência está sempre presente. Esta Presença é a pura Consciência, a natureza do Ser é ser Consciência, a natureza do Ser é ser Presença. Essa é a verdade divina, é a verdade de Deus. Essa Consciência também é chamada de Felicidade. Na Índia, eles chamam de Ananda. Ananda é Felicidade, portanto, essa Consciência que é Chit, é também Sat (Ser, Verdade), e também Ananda (Felicidade).

Nosso trabalho, em Satsang, tem como objetivo essa direta constatação. Não se trata de ter algum conhecimento especial para essa constatação, portanto, não se trata de aprender sobre isso. Não precisamos de uma especialização para essa constatação, precisamos, sim, é de uma entrega. É necessário que você se entregue a essa Presença, se renda a essa Presença. Em outras palavras, significa desistir dessa mente egoica, desse sentido de separação, o que significa se desidentificar dos pensamentos e dessa ilusória percepção. Então, aquilo que está presente se manifesta.

Participante: É preciso passar pela santidade para constatar o seu estado natural?

Mestre Gualberto: A natureza do Ser é pura sanidade, e sanidade é santidade. Então, que fique claro: é necessário abandonar toda ilusão. A ilusão da separatividade é a causa de toda miséria, de todo sofrimento no mundo. Miséria e sofrimento não são a natureza do Ser. Então, santidade ou sanidade, que é a natureza da Consciência, que é a natureza do Ser, é o fim da miséria, é o fim da ilusão da separatividade.

Então, a sanidade, ou santidade, deve ser compreendida dessa forma. Isso é ir além da ilusão, além do sofrimento, além da mentira, além desse sentido de separatividade. O ego vive nessa ilusão, nessa mentira, e esse é o único pecado. A pecaminosidade está nesse sentido de separação. Quando isso está presente, a ilusão está presente, a mentira está presente, o sofrimento está presente.

É necessário, sim, ir além da ilusão da separatividade, além de todo esse equívoco, além de todo esse formato que a mente egoica conhece. O homem vive há milênios no medo, na inveja, na ansiedade, no ciúme, no desejo, na ambição, e tudo isso está dentro desse formato da mente egoica, dessa forma como a mente egoica se move. É necessário ir além de tudo isso, além dessa dependência da mente egoica, dessa escravidão, dessa ilusão.

Nesse sentido, a Verdade não é para aqueles que vivem na mentira. A Verdade só está presente quando não há mentira. A Verdade é o real, e o real está presente quando não há ilusão. O ego, em seu modelo, é pura ilusão. O sentido de um “eu” presente em sua inveja, ciúme, posse, controle, ambição, desejo, medo, é pura ilusão. Não há como aquele que está se aplicando em realizar essa constatação da Verdade casar isso com a mentira, casar isso com a ilusão, casar isso com esse estado egoico de pura ignorância, de puro medo, de puro desejo, de puro sofrimento.

É necessário ter uma vida voltada para a Verdade, uma vida de equilíbrio, uma vida de entrega a essa Verdade. O ser humano tem abusado demais em razão dessa identificação com a mente egoica e seus desejos, seus medos e sua constante busca de prazer. O ser humano tem abusado demais do corpo, tem se envolvido em todo tipo de ações que prejudicam essa máquina, esse mecanismo, esse organismo. Então, podemos perceber com isso que não há amor à Verdade.

É necessário um equilíbrio, uma disciplina, uma certa prudência com relação a essa máquina, a esse mecanismo. O homem tem abusado disso. Comida demais, sexo demais, drogas... todo tipo de busca de sensações, criando cada vez mais uma insensibilidade maior no corpo, tornando o corpo cada vez mais insensível. Todos vocês conhecem muito bem esse tipo de coisa. Esse mecanismo, esse “corpo-mente” está aqui para essa constatação. Se ele for destruído... foi destruído.

Então, a sanidade é fundamental. Essa sanidade é essa santidade, é esse equilíbrio, é essa disciplina; é esse mecanismo, esse “corpo-mente” dedicado a essa entrega, a essa Verdade. É necessário que você dedique todos os seus anos, todos os seus meses, todos os seus dias, todas as suas horas, a essa entrega, a essa constatação da natureza real do Ser. Você precisa de um corpo saudável, ou com uma relativa saúde, para que isso seja possível. Então, é completamente desaconselhável todo esse abuso. A natureza egoica, essa natureza da mente, é essa constante busca do prazer.

Participante: O excesso de trabalho também está incluso nesse abuso?

Mestre Gualberto: O excesso de trabalho também. Na verdade, o trabalho não é assunto da fala deste encontro aqui, mas o trabalho também é uma grande prisão, uma grande e maravilhosa prisão. Não subestimem o ego quanto ao trabalho, ele ama essa coisa. Isso lhe dá um forte sentido de existência. Há uma grande realização, há um grande prazer nisso. Não é só a questão do dinheiro que se obtém, mas o próprio trabalho, em si, é muito preenchedor. O ego transforma qualquer coisa em uma fonte grande de prazer, de preenchimento, de realização. É necessário equilíbrio.

Você está aqui para Deus, e não para trabalhar. Você está aqui para realizar Deus, e não para viver transando o tempo todo, comendo o tempo todo. A mente tem isso: ela busca refúgio, ela busca a sua continuidade... essa constante busca de realização, de satisfação, de prazer, e quando você faz isso, se confunde com a mente. Aí, você se torna um escravo – um escravo do prazer da comida, do prazer do sexo, do prazer do trabalho. Estou colocando aqui três exemplos, mas são muitos, são diversos! Tem, também, a escravidão do prazer de beber, de fumar, de cheirar... Essa completa identificação com o corpo.

A mente adora esse sentido de ser alguém na experiência do fazer, do sentir, do obter, do realizar. A pergunta foi se a santidade é fundamental... A santidade é essa sanidade. Sem essa sanidade, não há santidade. É algo completamente insano viver no corpo, identificado com o corpo; viver para satisfazer os desejos da mente egoica, com os quais o corpo se confunde. O corpo se confunde com eles e você se confunde com o corpo. Então, fica sempre aí o sentimento de ser o corpo, de estar no corpo, de ser alguém dentro do corpo, porque os pensamentos giram em torno dessas satisfações, dessa busca, dessa procura de realizar desejos. Percebem a importância disso que estamos colocando?

Toda a sociedade, toda a cultura – esse mundo em que vivemos – incentiva isso, explora isso. As pessoas adoram ir ao shopping. Há uma constante procura por objetos; há uma constante procura pela experiência dos sentidos – tocar, sentir... “Eu sou o corpo, eu sou alguém, eu preciso obter isso, obter aquilo”. A mente gira em torno dessa procura constante de prazer, de satisfação, de realização de desejos. Se ela se mantém presa nisso, você está em uma prisão e, assim, você impõe a si mesmo essa limitação. Quando você se confunde com a mente, você está impondo a si mesmo essa limitação de que você é o corpo, de que você precisa disso ou daquilo.

Tudo o que, na verdade, você procura, não está na mente. Tudo o que você procura, de forma real, é a Paz, o Amor, a Liberdade, a Felicidade do Ser, essa natureza da Consciência, que é Sat-Chit-Ananda. Tudo o que você procura é a verdade sobre si mesmo, sobre si mesma.

*Transcrito de uma fala ocorrida em 3 de Agosto de 2016, num encontro aberto online.
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domingo, 25 de setembro de 2016

A Alegria em Deus

A alegria é o sinal clássico da Liberdade! No entanto, alegria não é viver sorrindo. A Alegria Real é silenciosa. Ela transmite a Presença, mas é silenciosa. Ela diz: “estou aqui”, mas não faz estardalhaço. Ela fica bem invisível, mas diz: “estou aqui, se você pode me ver, ok! Se você não pode me ver, tudo bem também!” Alguns poucos podem ver, muitos outros não podem. A grande maioria não pode, não tem olhos para ver.
As pessoas estão se confundindo com a falsa alegria – essa alegria do sorriso, alegria do mostrar que está bem, da aparência, do status... Essa falsa alegria é aquilo de querer demonstrar para todos à sua volta que você é feliz. É por isso que as pessoas, quando viajam, tiram fotos: para dizer para os outros que elas são mais felizes do que eles, que elas têm mais liberdade do que eles, que têm mais dinheiro do que eles, e desfrutam mais da vida do que eles. Uma coisa de status, de ostentação... Pura vaidade! Coisa de mente egoica mesmo, da mente estúpida...
Mas a Alegria Real é essa aqui: a Alegria de Ser o que você É, sem conflito, sem sofrimento, sem buscar mais do que isso aqui, mais do que aquilo que se apresenta neste momento, com o coração agradecido, com um sorriso nos lábios ou não (isso não importa). Essa Alegria diz: “estou aqui”, mas não é para todos, não é para que eles vejam. Essa Alegria não é exibicionista, não é para humilhar ninguém, não é para dar autoimportância, não cria status, não é vaidosa. Essa é a Alegria de Deus e, como tudo que Deus faz, é simples e sem ostentação, mas de uma grande beleza para aqueles que têm olhos para ver!
A mente é cega, o ego é cego, não vê nada. Por isso, ele se diverte em fazer os outros tristes, se exibindo, se mostrando mais feliz do que os outros – o que é pura vaidade, pura imbecilidade, pura idiotice. No entanto, aquele que está interessado na Vida como ela É não está preocupado em ser alguém para alguns, em se mostrar para outros. A sua alegria é silenciosa, está neste momento, não precisa de nada do lado de fora, é um transbordamento...
É só a mente que conhece status, que conhece essa alegria eufórica, exibicionista, egoica...
*Transcrito de uma fala ocorrida em Setembro de 2016, durante o retiro em Tiruvannamalai, Índia.
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