quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Ananda, a Alegria do Ser!

Nós estamos falando nesses encontros de algo que significa, para você, sua Real Liberdade, sua Verdadeira Liberdade, que é não sustentar nada, não segurar nada. Se você segura um sentimento, um pensamento, e se encontra uma base na qual você se sustenta, isso mais uma vez lhe escapa.
Isso é como tentar segurar um móvel dentro de um espaço, esquecendo a realidade do próprio espaço, no qual esse móvel aparece. Você se perde quando sustenta um sentimento, um pensamento, uma crença, um ideal, uma certeza, um conjunto de ideias. Você se perde desse espaço, e se situa segurando uma aparição. Quando o espaço está ocupado e você olha para ele, seus olhos se prendem nos objetos presentes neste espaço, e o espaço, em si, é esquecido. Enquanto sua atenção está no objeto que observa nesse espaço, você esquece o próprio espaço; você se perde do espaço, e deixa de reconhecê-lo.
Da mesma forma, acontece quando você se perde de si mesmo, e quando segura um pensamento, uma emoção, uma sensação, uma história, uma lembrança, uma memória, uma provocação. Quando alguém se aproxima de você e o chama de estúpido, se você segura essa ideia, então, de fato, é um estúpido; você se identifica com uma ideia, perde-se de si mesmo, situa-se numa crença e num pensamento. Você é o espaço, mas se perde desse espaço quando se prende a qualquer forma de pensamento, a qualquer crença, conceito, ideologia e imaginação.
Quando nós falamos sobre o sentido do eu, de ser "alguém", estamos falando exatamente disso: de se perder numa emoção, sensação; se perder num pensamento, numa ideia de ser "alguém". Por exemplo, alguém que se perde na ideia de "ser inteligente", que não é a real inteligência, e a crença de "ser inteligente" não é inteligente. Você jamais se ofende com alguém por ele considerá-lo uma pessoa inteligente, mas se ofende quando o considera um estúpido. Você se perde no pensamento, na crença de que é um ser estúpido, uma pessoa estúpida, e fica ofendido, com raiva, aborrecido, mas não quando alguém diz que você é inteligente. Na verdade, você é de fato uma crença e, quando você é uma crença, está dentro de uma limitação. Essa é a limitação do ego, e assim ser inteligente ou ser estúpido é estar em uma crença. Agora mesmo, você é este espaço, este espaço vazio. Neste espaço vazio, os móveis aparecem; os pensamentos, as emoções e os sentimentos aparecem; a ideia "sou inteligente" ou a ideia "sou estúpido" também aparecem.
Quando a Graça o coloca diante desta Presença, este espaço vazio chama-se Consciência! Essa Graça, essa Consciência é exatamente o que estamos colocando: um espaço vazio. A mente e o corpo aparecem neste espaço, bem como as crenças e as descrenças, as opiniões, os julgamentos e tudo mais. A Liberdade de ser é essa Consciência, a Consciência consciente das aparições. Você fica inteiramente consciente.
Quando alguém se aproxima e o chama de estúpido, você está consciente de que não foi você quem recebeu essa nomeação. Se não se prende a essa ideia, você permanece como esse Espaço Vazio, a Real Consciência, a Consciência consciente dessa crença. Entretanto, quando se perde nessa crença, você se situa no tempo e no espaço, como uma entidade separada, alguém que acredita "ser alguma coisa". Há uma grande limitação, que, agora, eu chamo de mediocridade: situar-se na mente, situar-se sendo "alguém", na crença de "ser alguém". Você é inteligente, eu aprecio sua inteligência, e nesse momento você se sente feliz, porque alguém apreciou sua capacidade, sua habilidade, sua destreza, sua capacidade de compreender, de entender, de raciocinar. Quando faz isso, você se situa no tempo, como alguém que acredita ser aquilo que outros dizem "que você é". O ego adora isso: ver confirmadas as suas crenças! Isso, apenas, fortalece em você o sentido de "ser alguém". É o que eu acabei de chamar, agora há pouco, de segurar um pensamento, segurar uma convicção, uma crença, uma ideia.
Algumas vezes eu provoco isso nesses encontros. Eu digo: você é arrogante – e você acredita nisso. Ao acreditar nisso, você abandona esse Espaço que não tem nome, que não pode ser nomeado, classificado, julgado, avaliado. Você abandona esse Espaço e se situa na crença de "ser alguém", e "alguém" arrogante. Porém, o ego não se considera arrogante, mas sábio, inteligente, e isso fere esta autoimagem que você tem de si mesmo, de si mesma.
Percebem isso?
Tudo isso é somente uma crença, e você acaba de se situar numa ideia, que é a ideia de ser arrogante. Então, no ego, nessa crença, nesse hábito, vício, de sustentar ideias sobre si mesmo, você não é real, e sim um joguete de fácil manipulação. Você acredita facilmente em qualquer coisa, mas quem acredita? Essa pessoa, que você acredita ser, é o ego.
Eu estou desafiando você a permanecer jamais tocado por qualquer opinião, julgamento, avaliação, pensamento – os seus pensamentos ou os pensamentos dos outros sobre você. Eu estou dizendo que isso é possível. Não estou dizendo que isso é algo fácil, mas estou dizendo que é possível.
Seu trabalho em Satsang é reconhecer a Verdade sobre si mesmo, e eu estou apontando isto para você! Quando eu aponto para você, eu digo: Você é real. Mas eu não estou falando desse "você" que você acredita ser; eu estou falando do Vazio, do Espaço, deste imensurável Espaço! Estou falando dessa Coisa sem nome, sem forma, que não é arrogante, não é estúpida e não é inteligente. Estou falando Daquilo que permanece como pura Consciência, Presença, Realidade.
Como é que soa isso para vocês?
Não há nada de misterioso nisso... É somente o reconhecimento Daquilo que Você É! Um reconhecimento que não pode ser capturado pelo intelecto, porque o intelecto não entra nisso! Você pode capturar isso, mas não pode prender isso como uma aquisição, também, do intelecto.
Você é o Buda, o Cristo, é a Consciência, é a Verdade! Quando eu aponto para você, eu digo: Você É! Eu não estou afirmando nada. Eu estou dizendo: Você É esse Vazio. Esqueça o termo Buda, Cristo, Deus. Permaneça sem ideias sobre isso, presente aqui, agora, e somente olhe você capturado, mais uma vez, pelo mesmo velho padrão de "ser alguém", que depende da opinião, do julgamento, da avaliação dos outros; da ideia que os outros têm sobre você.
Você pergunta: "sou o espaço onde toda experiência acontece?" Eu estou dizendo exatamente que você é todo o Espaço, não somente o espaço onde toda experiência acontece. Você é todo o Espaço... É somente Espaço. O corpo e a mente são aparições, como as ideias, as crenças, "inteligente", "arrogante" e "estúpido" são aparições, e você permanece aí.
Quando vêm a esses encontros, vocês acham que vão descobrir algo mágico. Porém, se vocês descobrirem algo mágico, será um truque, pois aquilo que chamam de magia é somente mais uma ilusão. Esse Espaço é só o espaço. É interessante falarmos, um pouco, sobre isso. Alguém tem essa coisa chamada despertar, realização de Deus, Iluminação, como algo que vai torná-las pessoas especiais; alguns acreditam nisso. Você não é especial na Realização! Nesta Realização, você "não é"! Quando essa Realização está, você não está! Você não está mais, para ser elogiado ou difamado; não está mais para se ofender, quando lhe chamam de arrogante ou estúpido, nem para se vangloriar ou se sentir especial, quando dizem que você é safo, inteligente, pois isso não faz a menor diferença.
Alguns dizem, já disseram para mim: você é uma fraude. Alguns já disseram para mim: você é o Guruji. Alguns já disseram para mim "eu não acredito em você", e outros já disseram "Você é o meu Mestre". Ok, eu digo para eles. Isso é com eles, não é comigo. EU SOU O QUE SOU e isto continuará assim. Está claro isso, que são somente ideias, crenças? Jamais se ofenda, magoe-se, ou fique triste, com o que pensam sobre você, ou falam de você. Todo e qualquer pensamento é só pensamento, e tem, somente, a realidade que o pensamento tem, nada além disso. Mas, quando você segura isso, isso assume uma realidade para esse "você" que você acredita ser.
Participante: O fato de ser Iluminado, ou Desperto, tem a ver com a alegria interna que jorra do coração, sem necessidade externa ou meios externos para isso?
Mestre: Deixe-me colocar de uma outra forma, dando resposta a sua pergunta, naturalmente. A natureza dessa Consciência, desse Vazio, dessa Presença, é a natureza do Ser, Aquilo que podemos chamar de alegria. Mas, compreenda, alegria de uma qualidade inteiramente diferente da alegria que a mente conhece. A mente conhece a alegria quando ganha um prêmio, um presente, ou passa em um concurso público, numa prova. Porém, esta alegria da conquista, da realização de algo, é uma alegria circunstancial, momentânea; é uma alegria causada. A alegria do Ser, da Consciência, da Presença, de sua Natureza Verdadeira não tem causa.
Na Índia eles chamam de Ananda, que é uma palavra sânscrita para Felicidade – uma alegria sem causa, não dependente, não circunstancial. É uma alegria que não pode ser roubada, tirada de você, porque você é esta alegria. Não é algo que você sente, é algo que você É. A natureza desta Alegria é Ananda, Felicidade, Beatitude.
Quando você está diante de um Mestre vivo, fica claro o que estamos falando: há algo que emana de Sua Presença, do Seu Silêncio; há algo presente em Seus olhos, e por trás da Sua voz; algo que silencia e aquieta você; algo que, também, lhe permite desfrutar dessa mesma alegria de sua Natureza Real, de sua Natureza Verdadeira, Algo que É você. Tudo o que você está para fazer, aqui, nessa vida, é desfrutar desta Alegria, que é a Alegria de sua Natureza Real.
Uma outra palavra para esta Alegria é Amor, que não é algo motivado pela forma, ou ligado a ela; não tem nada a ver, absolutamente nada, com a forma masculina ou feminina, ou com a forma animal. Não é amor às pessoas, aos animais ou às plantas... É algo além da forma... É a fragrância presente em todas as direções, que caminha para todas as direções. Assim, como esta Alegria sem causa, é este Amor sem causa: algo que não tem contrário, não tem oposto, não pode mudar. Você não pode transformar esta Alegria em uma outra coisa.
O Sábio é pura Alegria, é puro Amor, e você não pode entristecê-lo; você não pode fazer isso. Ele não vai amá-lo porque você O ama. Ele vai amá-lo porque Ele não pode deixar de amá-lo. O seu amor é condicional, o do Sábio é incondicional! Sua alegria é condicional, a Dele é incondicional!
É isso. Vamos ficar por aqui. Boa noite!
*Transcrito de uma fala ocorrida em agosto de 2015, num encontro presencial, na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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