terça-feira, 31 de março de 2015

Como o acordado vê o mundo?

Quando eu estou envolvido numa atividade intelectual que exija pensamento, por exemplo, agora, o uso da fala que requer verbalização, eu não consigo ver uma frase sendo formulada para ser expressa – eu fico tão surpreso quanto você, eu escuto junto com você. Eu estou sempre no ponto zero. Por exemplo, quando eu lhes conto uma história, eu vejo a mesma surgir junto com você. Quando começo uma fala em Satsang, eu sei que ela vai vir, vai fluir. Sabe quando você está olhando para o fundo de um poço, olha lá para baixo e não consegue ver nada? Você desce a vasilha na cacimba para buscar a água, então solta e ela cai dentro da água, depois você puxa de volta e tira um balde de água, e depois dois, três... assim por diante. Lidar com a Consciência é algo parecido com isso: você não sabe em que profundidade vai encontrar água, mas o poço nunca está seco; também não sabe que tipo de água vai encontrar.

As pessoas falam a partir do conhecimento; quem aqui é palestrante pode confirmar. Você estuda, pesquisa na internet, decora algumas falas, sublinha algumas frases de efeito, e não fala a partir do Vazio, do Não Saber, do Silêncio. A Consciência não é assim, porque Ela não precisa disso... Ela é a Fonte. E você nunca sabe o que vai sair da fonte: água doce, água salgada, água poluída ou água pura. Eu nunca sei o que vou falar antes de dizer.

Participante: A memória está na mente?

Mestre Gualberto: O que você chama de mente é um depósito de informações. Quando você dirige um carro, o que está em ação? A memória motora? Perceba que a mente é mais do que memória de palavras, imagens e ideias, pois é, também, memória em movimento. E onde está a memória? Na mente. Porém, a mente tem que ser compreendida como um armazém invisível, no qual você encontra tudo: produtos em bom estado, em mal estado; coisas estragadas, com prazo de validade vencido, etc. A mente é algo assim, um depósito invisível, mas com um detalhe: ninguém é dono desse depósito; ninguém tem nada próprio aqui. Este depósito tem algumas subdivisões: memória visual, memória auditiva, memória emocional, etc. Este depósito, eu repito, não tem dono, mas tem alguns compartimentos que são, supostamente, de propriedade privada – e aí está a pessoa, que não é nada além de memória. Todo este depósito é somente uma aparição, sem importância nenhuma, nesse Espaço, que é a Consciência.

Participante: É isso que dá realidade à pessoa? Eu preciso do cérebro para acessar isso?

Mestre Gualberto: Isso que dá realidade à pessoa é somente a memória, mas, de alguma forma, por uma deficiência da máquina, essa memória, supostamente localizada nesse espaço particular, apresenta algumas falhas; pode até ser apagada permanentemente para aquele organismo corpo-mente, representado aqui por esses espaços, e tudo isso é mecânico e independente, e acontece de forma automática. Entretanto, a relação do Acordado com a memória é diferente: em razão da Consciência, da Presença, neste organismo, o automatismo e a mecanicidade podem ser mexidos, devido à liberdade que a Consciência traz. Porém, você não precisa estar acordado, e pode agir como uma máquina, uma marionete no mundo. Deus é um luxo... Consciência é um luxo... Presença é um luxo. Você sente a necessidade de Deus somente quando percebe que não basta ser apenas essa memória, essa mecanicidade; que não pode ser só isso; que deve ter alguma coisa fora dessa maluquice toda!

Aqui está a chave do despertar! Como o Acordado vê o mundo? Ele não vê o mundo... Ele é a origem e o fim do mundo. Ele jamais se separa da origem e do fim, e por isso não há medo... medo daquilo que a mente chama de morte. Como pode haver o desaparecimento Daquilo que cria tudo, como quer, quando quer? Eu jamais vou experimentar a morte, porque eu sou a morte, mas, também, sou a vida... Sou a aparição e a desaparição, o Alfa e o Ômega, a Consciência brincando de acordar.

*Transcrição de uma fala ocorrida em março de 2015 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco: https://mestregualberto.com. Venha receber um sopro dessa Graça.

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